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30 Anos 30 Histórias – Episódio 9-  Temporal deixou rastro de destruição, mas o milagre da vida prevaleceu em Hortêncio

30/12/2022 - 11h21min

Por Cândido Nascimento

São José do Hortêncio – Era o início da tarde, em 13 de novembro de 2009, uma sexta-feira, quando o tempo fechou, o céu escureceu e um tornado varreu parte do município, deixando um rastro de destruição da fábrica de óleos, que pertence à família do falecido ex-prefeito Clóvis Luiz Schaeffer, até a Escola São José e proximidades. Foram atingidos galpões, o CTG, arrancando telhados de casas, quebrando postes de concreto ao meio e torcendo grossas árvores. Plantações também foram totalmente destruídas.
Uma turma de alunos estava tendo aula de Educação Física naquele momento, com a professora Tatiani Mohr, quando o telhado foi arrancado pelo vendaval. Ela levou as crianças para um palco existente no local, e entendeu na época que um milagre não permitiu que nem um estudante ficasse ferido. Uma caixa d’água estava sobre o telhado da sala da terceira série caiu dentro do local. Era essa turminha que estava no ginásio. Felizmente, no final de tudo, as crianças saíram ilesas.

 

A descrição de como foram os estragos

O cenário para quem chegava a Hortêncio, independente de qual o caminho tomado, era impressionante na época. Nas ruas de acesso, árvores caídas, barrancos desmoronando. Os matos de acácia e eucalipto cortados, os fios de energia no chão. O cenário cada vez piorava quando se chegava ao município. O temporal alagou completamente o bairros e destruiu casas e galpões nas localidades e na Sede.
Cerca de 25% das residências foram danificadas. Várias casas tiveram o telhado arrancado e levados pela força dos ventos até cerca de 100 metros do ponto de origem.

ÁRVORES

Os postes de energia na Av. Mathias Steffens estavam em sua maioria tombados. O trânsito em meia pista causava inúmeros transtornos. Próximo à Prefeitura, uma grande árvore destruiu uma parada de ônibus. Os acessos ficaram interrompidos.
Ainda no final do dia de sexta, quando a chuva deu trégua, a população consertou as residências. Funcionários da Prefeitura trabalharam até a madrugada de sábado, abrindo as estradas. Equipes da AES/Sul também circulavam, na busca por restabelecer o fornecimento de energia. Os Bombeiros Voluntários do Caí auxiliaram, retirando os escombros. Ainda na sexta-feira, o prefeito Clóvis decretou “Estado de Calamidade Pública”.

 

“Fomos poupados de uma maneira que não sei explicar”

Tatiani não entendeu porque pediu para as crianças subirem, no palco naquele dia do temporal. Ela atua como professora desde 2001, sempre lecionou durante esses anos todos. Foi diretora de 2017 até 2020.

“Não caiu a ficha”

“Gosto da minha profissão, faço sempre o meu melhor. Naquele dia foi muito angustiante, passar por tudo e não saber ao certo o que estava acontecendo e como ia acabar foi horrível. Logo após o temporal, a ficha não caiu logo e a adrenalina não deixou que eu visse a proporção do ocorrido. Após ter entregue todas as crianças a suas famílias que me dei conta do que houve e a pensar sobre o que poderia ter acontecido. Poderia ter sido uma tragédia mas que de alguma maneira que não sei explicar, fomos poupados.

 

 

QUEM ERAM OS ALUNOS

A turma era composta por 20 alunos

Bruna de Jesus Patrício
Carla dos Santos
Carolina Senger
Danielle Wecker
Ezequiel Luiz Koch
Gabriela Luisa Brill
Henrique Samuel de Oliveira Filipin
Jonas André Welzbacher
Júlia Alexandra de Oliveira
Kelly Rosa de Paula
Larissa Lorenzetti Rodrigues
Luana Weber
Lucas Emanoel Engeroff
Matheus Henrique da Rosa
Mikael Guilherme Keller
Milena Rosa Engeroff
Natana Laís Müller
Rafael Lucietto Schmitz
Uliana Caroline dos Santos
Vilma Antonia Martini

 

“As telhas balançavam e fui para um canto”

Para relatar o medo, Danielle Wecker, 23 anos, afirma que viu as telhas do ginásio balançarem e foi para um canto, ficando atrás dos demais colegas. “Eu não lembro de muita coisa, mas fiquei agachadinha num canto”, comenta.
Ela cursa Pedagogia na Unina/Pr, e é diretora de Cultura do município, já tendo feito estágio na Creche Ursinho Carinhoso, em Presidente Lucena, e veio trabalhar na Creche Sonho Meu, em 2020. Lembra que a professora Tati mandou os alunos ficarem sobre o palco. “Eu e as minhas colegas chorávamos muito”, recorda.

“A professora tentou nos acalmar e rezava”

A estudante Carolina Senger lembra daquela tarde de medo e apreensão que enfrentou até que tudo passasse, e entendeu que foi bom que todos estavam no ginásio e não na sala de aula. Estávamos todos juntos no palco naquele momento. Lembro do desespero e da nossa professora tentando nos acalmar. Começamos a rezar, pedindo que nada de ruim acontecesse. Eu estava olhando para as lâmpadas no teto balançando e de repente toda a estrutura do ginásio caiu, se dobrando como folha de papel. Na hora nem pensei na magnitude de tudo aquilo, mas hoje percebo que tivemos um anjo da guarda olhando por nós. Uma curiosidade, a sala de aula ficava no segundo piso, e foi uma das mais destruídas.

O desespero de ver os colegas chorando

Uma das estudantes é Milena Rosa Engeroff, que tinha nove anos na ápoca do vendaval. Atualmente, ela auxilia a mãe, Vera Engeroff, na loja da família. Ela recorda quer a turma estava na aula de Educação Física, no ginásio, e a professora abriu a porta e viu que o temporal estava vindo.
“Eu não fiquei com medo, e o maior desespero foi de ver os outros chorando”, conta Milena.
A mãe dela, Vera, comenta que foi um grande milagre os estudantes terem escapado sem qualquer machucado, o filho Norton, de 12 anos, que estava tendo aula de futebol na Sociedade São Jacob e foi buscar ele primeiro, depois foi pegar a filha na escola. O marido (Antenor) estava na Ceasa naquele dia.

Foi assinado o decreto

A atual secretária de Educação, Aline Brückmann, comenta que ela estava na Prefeitura sucedeu o vendaval. Ela era chefe de gabinete do então prefeito Clóvis Luiz Schaeffer, e e lembra que o temporal atingiu a região próxima à escola, onde ficava a oficina e a casa da família.
Ela lembra que a cidade se transformou num caos, pois, além de ter muita destruição em vários locais, não havia luz, água e telefone. “No dia seguinte fomos atrás das documentações para decretar a Situação de emergência, que o prefeito decretou”.

 

“Parecia uma cena de guerra”
Um dos personagens que acompanharam essa história é o fotógrafo Moacir Johann, cuja filha estudava no segundo ano. Ele foi buscá-la assim que viu o cenário de tempestade que se armou, e levou junto a funcionária, cuja filha pequena também estava na escola. Durante todo o caminho ele foi fotografando os alagamentos, casas destelhadas, postes caídos e outras situações.
“Quando eu cheguei ali perto do Bar do Lui (falecido) já vi as árvores caídas no chão e todo o caminho com tranqueiras e destruição. O telhado da Magali Graebin estava em cima da casa do Schleba e parte em cima de um ônibus. Havia postes caídos nos dois sentidos (direita e esquerda), parecia um cenário de guerra”, afirma. Moacir ficou feliz quando viu que a sua filha, que tinha seis anos na época, estava bem.

 

 

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