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Alexandre Garcia: A febre do Populismo

05/03/2018 - 08h54min

Atualizada em 05/04/2018 - 14h20min

O lúcido Fernando Gabeira escreveu no Estadão que “o Brasil livrou-se de um populista em 2018. Mas não se livrou do populismo.” Essa Tem sido uma praga latino-americana e uma praga brasileira. Começou na ditadura Vargas e o getulismo sobreviveu por anos, até que as gerações passassem. Getúlio era o “pai dos pobres” mas também a mãe dos ricos. Sabia que riqueza, para ser distribuída, empregos e salários para serem para todos e valorizados, teriam que partir das folhas-de-pagamento da indústria, do comércio, de empresas fortes e não maltratadas pela burocracia e pelos tributos. O estado que tentar distribuir riqueza, apenas a tira de todos para dar a alguns. E dando, humilha e vicia.

Lula e seu PT tentaram copiar Vargas, mas desandaram na corrupção quando passaram a ter o poder. E em vez de ser para todos, o poder foi exercido para favorecer o partido e o sindicalismo a seu reboque. O triplex de Guarujá – que vai ser leiloado – e o sítio em Atibaia são apenas pequenos sinais da estarrecedora ocupação do estado brasileiro, com privatização do poder por Lula e seus seguidores e aliados como Sarney, Renan e Maluf. Os grandes empresários amigos, empreiteiras e banqueiros, tiveram todos os favores, mas não a pequena e média empresa, assim como o pobre – que viajou de avião, mas não teve saneamento, escola e hospital.

Foi um longo período – quase do tamanho da ditadura Vargas – no qual os fins justificaram os meios. Agora acabou, com o julgamento em segunda instância. Virão outros processos, com igual abundância de provas. E, com certeza, virão outras condenações. O PT errou na estratégia e não se preparou para isso. Ficou um partido com dono – Lula, caudilho bem típico latino-americano. Errou na tática ao bater na Justiça e errou na estratégia ao ficar dependente, como xifópago de Lula. Sem outra liderança, Lula preso também prende do PT. Desgastado pelo mensalão e pelo petrolão, o partido só venceu no Acre a última eleição para prefeito de capital, e partidos de esquerda não querem formar chapa com o PT na eleição presidencial. Lula já não empolga ao viajar pelo Nordeste nem atrai multidões quando julgado em Porto Alegre.

Lula se vai e deixa herança. Depois de Dilma ficaram 13 milhões de desempregados, recessão nunca vista, inflação de dois algarismos, insegurança pública à razão de 170 assassinatos por dia, saúde pública quebrada, uma regressão social impressionante, maior diferença entre pobres e ricos – e seus seguidores ainda queimando pneus, invadindo; senadores rasgando seu juramento de guardar a Constituição e as leis. Depois dos governos petistas, um abismo tecnológico se abre entre o Brasil e os países que há 40 anos estavam longe, atrás de nós, como China, Coreia do Sul e Índia. O mais chocante é a crise ética, a lei das selvas, o vale-tudo. Assim como se institucionalizou a corrupção, assim se espalhou a falta de cidadania e a incivilidade. Como eu disse no Bom Dia Brasil de segunda-feira: ou nos vacinamos contra isso tudo ou vamos acabar como nossos primos primatas, vítimas da febre amarela. O voto pode ajudar a nos proteger contra a febre do populismo.

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