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A história de quem fez da sala de aula sua principal vocação
Herval – Hoje a vida de professora aposentada não lhe reserva nenhum luxo, a agricultura inclusive, complementa a renda de Thereza Zaehler, 75 anos, que deu aula na localidade de Padre Eterno Baixo por 28 anos. Mas, ao ser questionada se de fato valeu a pena ser professora, ela diz com orgulho que foi a melhor escolha da sua vida. “Foi muito bom, a melhor época da minha vida. Tive muitos alunos e, depois, até dei aula para os filhos deles”, conta, enfatizando que ao andar na rua, vê os netos e até bisnetos dos seus ex-alunos, o que a deixa muito orgulhosa e com boas recordações de uma época muito especial.
Além disso, foi catequista durante vários anos e, até hoje, é ativa na comunidade, atuando como ministra na Igreja Católica Santíssima Trindade.
O começo de tudo na vida de dona Thereza
Thereza saiu de casa ainda nova para estudar. Passou pelo Colégio Interno Santa Clara, de Porto Alegre, Colégio Santa Terezinha, também na Capital e, por fim, estudou no Colégio São José, nas Irmãs Franciscanas em São Leopoldo.
Depois de concluir os estudos e ao perceber que sua vocação não era ser freira, Thereza retornou para Padre Eterno Baixo, no interior de Santa Maria do Herval, que naquela época ainda era distrito de Dois Irmãos. Em um primeiro momento ficou em casa, ajudando a família na agricultura.
Depois de algum tempo, sua irmã Maria, que naquela época era professora na localidade casou, se mudando para a área central do Herval. Com isso, surgiu uma oportunidade para Thereza. “Um dia, de manhã bem cedo, eu estava no curral ordenhando uma vaca. Meu irmão veio me trazendo um aviso, de que eu tinha sido chamada para dar aula na Escola Mauricio Cardoso. E era para começar logo, naquela manhã mesmo”, relembra Thereza.
E ela foi. Sem experiência, com um pouco de medo, mas foi. E nunca mais parou. Começou a lecionar em 1964, quando tinha apenas 19 anos, até 1992 quando se aposentou. “No começo dava aula durante um turno, depois, para todas as crianças, do pré até o quinto ano. Quando comecei era uma Brizoleta – somente depois a escola foi ampliada -, eram turmas multisseriadas”, conta.
Indo na aula de chinelo na mão
Thereza diz que, quando começou a dar aula, as crianças ao concluírem a pré-escola já sabiam ler e, até mesmo, escrever um pouco. “Eles tinham que estudar muito, não era fácil, mas eles aprendiam. A maioria, ou se não todos, chegavam na escola e não sabiam falar nada em português. Então eu tinha que falar em alemão com eles, para entenderem o conteúdo e assim desenvolver o português”, conta, relembrando que as condições eram poucas.
As famílias, em geral, tinham vários filhos e, dessa forma, não tinham muitas condições financeiras. “As crianças andavam vários quilômetros até chegar na escola. Vinham descalços. Levavam os chinelinhos na mão e só colocavam quando entravam na sala de aula. Faziam isso para não estragar, pois tinham que durar, para os outros irmãos também usar”, relembra.
Muita coisa mudou…
Ao se lembrar do passado, faz questão de ressaltar como as coisas mudaram de lá para cá. “Naquela época também tinha dificuldades, mas tinha mais respeito do que hoje em dia pelo professor, que era uma autoridade. Nós dávamos aula para turmas multisseriadas, e tínhamos que ser faxineira, cozinheira e tudo mais. Como fazíamos isso? Com a ajuda dos alunos, que respeitavam os professores acima de tudo”, destaca, afirmando que crianças ajudavam a cozinhar, a lavar a louça e a limpar a escola. “Eles brigavam por isso. Mas porque todo mundo queria ajudar, todos queria fazer algo”, disse