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A jovem agricultora que transforma saudade em esperança ao seguir o legado do pai em Santa Maria do Herval

20/05/2025 - 06h47min

Atualizada em 20/05/2025 - 06h59min

Daiana com os filhos Lucca e Miguel na estufa que era o sonho do vovô Canísio (FOTO: Ronaldo Fontanna)

Daiana honra a memória do pai ao cultivar com amor e coragem a terra que a uniu a ele desde a infância.

Santa Maria do Herval | Em meio aos vales de Morro dos Bugres Alto a vida de Daiana Schuck, 31 anos, é um exemplo de força silenciosa, coragem e amor à terra. Filha única, ela cresceu entre as lavouras e as palavras de incentivo do pai, Canísio Schuck, um agricultor conhecido pelo carisma e pela dedicação de uma vida inteira ao campo.

Desde muito pequena, Daiana soube que seu destino estava entre as plantações e o cheiro bom da terra molhada. “Quando meu pai perguntava o que eu queria ser, eu dizia: vou fazer a mesma coisa que tu faz, trabalhar na roça”, relembra.

E assim foi. Dos 11 anos em diante, a roça se tornou não apenas um trabalho, mas um modo de vida, uma paixão, um elo inquebrável com as raízes.

Crescendo com a terra

Aos 16 anos, Canísio lhe deu a liberdade de escolher: permanecer no campo ou buscar outros caminhos. Sem hesitar, Daiana decidiu ficar. “Eu disse que não ia abandonar ele, que ia continuar trabalhando junto”, conta, emocionada. Mesmo depois de se formar em Segurança do Trabalho e passar alguns meses trabalhando fora, seu coração a trouxe de volta para a lida ao lado do pai.

A parceria entre pai e filha ia além do trabalho: era feita de sonhos partilhados. Um deles era a construção de estufas para diversificar a produção. “A gente trabalhava com rabanete, laranja, couve-flor, brócolis… e sonhava em investir nas estufas”, lembra.

Um sonho construído juntos

Em 2023, finalmente, o projeto saiu do papel. Daiana e Canísio ergueram, juntos, duas estufas. Era a realização de um sonho antigo, um passo importante para modernizar a produção. Mas, infelizmente, Canísio não pôde ver os frutos desse novo capítulo.

No dia 24 de junho de 2023, apenas um dia após o aniversário de 30 anos de Daiana, ele foi internado. Após seis semanas de luta e três cirurgias, Canísio faleceu, vítima de uma infecção generalizada causada por diverticulite. “Eu estive com ele até o último momento. Assim como ele sempre esteve ao meu lado”, diz Daiana, com a voz embargada.

Registro de Canísio trabalhando na roça – era a sua grande paixão (Arquivo pessoal)

Continuar foi um ato de amor

Mesmo em meio à dor, Daiana não permitiu que o legado do pai se perdesse. Com o apoio do marido, Everson, que ajuda nas entregas, ela assumiu sozinha a produção nas estufas. Além disso, concilia a vida no campo com a maternidade: é mãe do pequeno Lucca, de 5 anos, e do bebê Miguel, de apenas 4 meses.

“Eu trabalho sozinha. Planto, cuido, colho. Meu marido ajuda na entrega. Não é fácil, ainda mais com dois filhos pequenos, mas é gratificante saber que estou levando adiante o que meu pai me ensinou”, afirma.

Com seis hectares de terra para cultivar, Daiana produz alface, rúcula, tempero verde, laranja de suco e muito mais. Tudo que colhe é entregue diretamente para clientes e restaurantes locais e da região. “A gente planta e entrega. É uma vida de muita luta, mas também de muito orgulho.”

Uma mulher de fibra

A história de Daiana é marcada por resiliência. Entre secas severas, desafios climáticos e a ausência do pai, ela segue firme, inspirada nos valores que aprendeu desde cedo: ser justa, correta e honesta. “Não é fácil falar sobre tudo isso, mas a gente tem que ser forte. Deus sabe o que faz”, acredita.

Cada alface que cresce sob as lonas das estufas, cada pé de laranja que floresce no pomar, é mais do que um produto da terra: é a continuidade de uma história que começou muito antes dela nascer. É o amor transformado em trabalho, em sustento, em sonho.

Daiana e o marido Everson junto com os filhos

Plantando o futuro

Olhando para frente, Daiana quer ensinar aos filhos o mesmo amor pelo campo que herdou do pai. “Eu quero que eles aprendam comigo, que vejam o valor de plantar e colher, de trabalhar com o que a gente gosta”, diz.

Ela sabe que a vida na agricultura é dura, cheia de incertezas e intempéries. Mas também sabe que há uma beleza única em levantar todos os dias para cuidar da terra, ver o ciclo da vida se renovar, sentir o orgulho de produzir algo com as próprias mãos.

“Trabalhar do jeito que eu trabalho… não tem coisa melhor. É difícil, é cansativo, mas é uma coisa nossa. É a nossa história que continua crescendo junto com a lavoura”, conclui.

Em cada muda plantada, em cada laranja colhida, Daiana Schuck honra o nome do pai e cultiva um futuro onde o amor pela terra é a semente mais forte de todas.

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