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A tragédia que escancara a urgência do cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes

10/07/2025 - 17h52min

Quando o silêncio grita: O que estamos ignorando até que a dor se transforme em violência?

Por Anna Bezerra

Na semana em que um adolescente de apenas 16 anos entrou em uma escola municipal no interior do Rio Grande do Sul e tirou a vida de uma criança de 9, o Brasil foi forçado a encarar, mais uma vez, o resultado de uma dor esconde muitos questionamentos.

Vitor André Kungel Gambirazi tinha 9 anos. Foi atingido no tórax por um golpe de facão, chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Duas colegas, de oito e nove anos, e uma professora, de 34, também ficaram feridas. O agressor, sem antecedentes, conhecido da vizinhança, foi detido. Tinha consulta psiquiátrica no dia anterior. Levava consigo um facão — e um grito preso que agora todos escutam tarde demais.

 

Estação é uma cidade de pouco mais de cinco mil habitantes. Mas o que aconteceu ali não é um ponto fora da curva: é o reflexo de uma sociedade inteira que normaliza o sofrimento emocional, que romantiza o silêncio e que trata saúde mental como exagero ou fraqueza.

Urgência do olhar atento às emoções das novas gerações

Ouvi a psicóloga clínica e atende crianças com TDH e Autismo, Cíntia C. Rinaldi, que reforçou a urgência do olhar atento às emoções das novas gerações. “Às vezes a gente menospreza evidências, menospreza sintomas achando que são fases, que é corriqueiro, que é momentâneo. E acaba esquecendo de ter um olhar mais cuidadoso”, disse. O adolescente que atacou já estava em tratamento psiquiátrico, e o fato da família ter buscado ajuda, segundo ela, “já faz toda a diferença”.

Psicóloga clínica, Cíntia C. Rinaldi

 A questão não é só entender o que leva um jovem a esse extremo, mas perceber quantos outros estão se perdendo no meio do caminho — calados, ansiosos, adoecidos.

“Não esperar o problema acontecer”, alertou Cíntia. “Qualquer sintoma é sinal. Buscar ajuda, não julgar. Saúde mental não é brincadeira — e cada vez mais crianças e adolescentes têm adoecido no nosso mundo atual.” 

Há respostas?

Cíntia reforçou: “Importantíssimo manter um diálogo aberto, acolhedor e não de julgamentos para que os jovens e adolescentes possam buscar nos pais pessoas de confiança para juntos trabalharem questões importantes, serem acolhidos, ouvidos, direcionados e terem um relacionamento próximo onde o dialogo seja fundamental para condução do crescimento das nossas crianças.” 

“Sobreviventes” atravessados Pelo medo 

“Neste momento, todas as crianças da escola, suas famílias, os professores, estão atravessados pelo medo”, é a fala da psicopedagoga Liane Kunz Klein, foi professora por seis anos na rede municipal de Ivoti.

Psicopedagoga Liane Kunz Klein

“Fica difícil analisar por que este adolescente fez isso, as causas que levaram esse adolescente a essa crueldade, porque não sabemos nada do histórico dele. Nesse momento, o foco precisa estar nas crianças, na família das crianças, nos jovens que foram envolvidos. Como vai ser para eles voltarem a ter prazer em estudar? O medo que abala essas crianças… todos vão precisar de atendimento psicológico.”

 

Tragédias como essa não começam no momento do ataque. Elas começam bem antes, quando os sinais são ignorados, quando a dor é calada, quando os jovens não encontram ninguém que os veja de verdade. E, enquanto fingirmos que saúde mental é um luxo ou uma fase, outras escolas chorarão seus alunos.

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