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Abelhas sem ferrão conectam Lauricio às raízes e à memória da avó Frieda em Santa Maria do Herval
A meliponicultora transformou a rotina do morador, que se dedica às pequenas operárias da natureza
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval | A vida de Lauricio Schulz, 35 anos, morador da comunidade da Renânia, tomou um novo rumo no final de 2018. Foi quando recebeu de um amigo um enxame de abelhas jataí, pequenas e dóceis, conhecidas por não possuírem ferrão. Na época, Lauricio morava em Gramado com a avó Frieda Schulz, então com 91 anos. A reação dela diante da novidade foi o que mudou tudo.
“Quando cheguei em casa vi o entusiasmo dela com aquele enxame. Me contou que, quando era nova, teve contato com as abelhas sem ferrão, mas que com o passar dos anos não teve mais oportunidade. A partir daquele momento, vendo a felicidade dela, comecei a me aprofundar mais no assunto”, lembra Lauricio.
O brilho nos olhos da avó Frieda transformou um presente simples em um propósito de vida. Apoiado por ela, Lauricio passou a dedicar parte dos dias às abelhas. “Após o expediente na fábrica de móveis onde trabalho, me dedico às minhas abelhas”, conta. Hoje, são mais de 50 enxames divididos em seis espécies diferentes, todas nativas da região de Santa Maria do Herval — com destaque para as jataí e tubuna.

As abelhas se alimentam com o pólen das variadas árvores que tem na propriedade
Memória e preservação
Frieda morreu em 2021, aos 94 anos, mas segue presente a cada vez que o neto se aproxima das caixas de abelhas. “Com certeza, só de estar no convívio das abelhas me faz recordar dela. Hoje a meliponicultura é uma forma de relembrar a pessoa que ela era”, afirma.
Lauricio recorda com carinho uma frase que a avó repetia: “as abelhas são os únicos animais que trabalhava para a gente e não cobrava nada em troca”. Essas palavras se transformaram em norte. Mais do que uma atividade com potencial de renda, a criação é, para ele, uma válvula de escape da rotina acelerada e um compromisso com a preservação da natureza.
“Hoje a criação e manejo das abelhas têm um significado importante que foge do propósito da venda, mas sim da concretização da importância das abelhas na natureza. Para mim, é mais importante a preservação do que o lucro”, destaca.

Além da criação das abelhas, Laurício também faz artesanato para montar colmeias diferenciadas.
Abelhas como terapia
Além do mel, Lauricio comercializa os próprios enxames. Ele explica que, dependendo da espécie, um enxame pode custar o mesmo que um litro de mel. “Hoje um litro de mel de jataí varia de R$ 120 a R$ 150. Já um enxame com um ano custa R$ 150. E como eu digo para as pessoas que me procuram, é mais vantajoso ter um enxame no quintal, aonde saberá o que está colhendo”, defende.
Os benefícios, no entanto, vão além do alimento. “Alguns dos meus clientes já me relataram que as abelhas sem ferrão ajudaram a enfrentar a depressão”, conta. Ele acredita que, por serem dóceis e seguras, podem se tornar “pets do futuro”, acessíveis até mesmo para quem vive em apartamentos.

Laurício cuida das abelhas diariamente
Um quintal fértil para o futuro
Na propriedade da família, onde vive com os pais Anivo e Iraci Maria Schulz, a paisagem também mudou nos últimos anos. Lauricio plantou mais de 150 pés de pitaya e conduz um projeto de reflorestamento com árvores frutíferas nativas, substituindo áreas antes tomadas por acácia.
Hoje, o espaço reúne abacateiros, araçazeiros, jabuticabeiras, pessegueiros, ameixeiras, nespereiras, goiabeiras, pés de erva-mate, laranjeiras e bergamoteiras, entre outras espécies. “Como eu faço de tudo um pouco, vou diversificando. Mas o mais importante é que as árvores garantem alimento para as abelhas e ajudam a manter o equilíbrio ambiental”, diz.
Entre o trabalho e a paixão
Há 20 anos, Lauricio atua na fábrica Sierra Móveis, em Gramado, onde é responsável pelo controle de qualidade e expedição de sofás. Mesmo com a rotina intensa, faz questão de reservar parte do tempo às caixas de abelhas. É ali que encontra o equilíbrio, a memória da avó e o sentido maior da preservação.
“O convívio com as abelhas me traz lembranças dela e me conecta com a natureza. A meliponicultura, para mim, é mais que um trabalho: é uma forma de manter viva a história da minha avó e, ao mesmo tempo, cuidar do futuro”, resume.
Quem quiser conhecer mais do trabalho de Lauricio pode entrar em contato pelo telefone/WhatsApp (54) 99625-3140, pelo Instagram @meliponario_schulz ou pelo YouTube no canal Meliponário Schulz, onde ele compartilha vídeos sobre o manejo das abelhas sem ferrão.
