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Acusado de matar mulher em Nova Petrópolis será julgado nesta quinta-feira, 27

26/04/2023 - 10h34min

Alvarenga está preso há quase dois anos pelo crime (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Um Júri Popular decidirá o destino de Fábio Silva de Alvarenga, 45 anos, acusado de matar Marli Salete Pinheiro Paes, 41 anos, no dia 1º de agosto de 2021 na Vila Germânia. O julgamento está marcado para esta quinta-feira, 27, às 9 horas, no Fórum.

O caso não é mais tratado como feminicídio pelo Tribunal, que decidiu que Alvarenga matou a vítima por ela não ser mais útil a ele, configurando motivo torpe. Isso significa que o réu pode ser condenado por homicídio simples com qualificadores. “O Tribunal entende, e eu discordo, que ele não deve ser acusado por feminicídio porque, como já é acusado por motivo torpe, ele estaria sendo julgado duas vezes pelo mesmo crime”, comenta o promotor de Justiça, Charles Martins.

Alvarenga alega inocência e diz que só confessou o crime no momento de sua prisão, ainda em agosto de 2021, porque foi torturado e forçado a confessar pelo delegado de Polícia Civil de Nova Petrópolis, Fábio Idalgo Peres. No entanto, um vídeo com o depoimento de Alvarenga, em que ele confessa e dá risada do fato, será mostrado ao júri, comprovando que ele confessou sem qualquer tipo de tortura.

Marli tinha 41 anos (Créd.: Divulgação)

O Promotor Charles acredita que Alvarenga será condenado a uma pena de 20 a 25 anos de reclusão em regime fechado. Ele também espera que o julgamento seja rápido. “O que tem que convencer o Júri de que ele é culpado, são as provas que existem contra ele, e elas existem”, afirma.

Relembre o caso

Relacionamento com outra mulher

Marli Salete foi vítima em todos os sentidos da palavra. Ela nem mesmo conhecia Alvarenga pessoalmente antes do dia em que foi morta. A relação entre os dois ocorreu porque Alvarenga havia tido um relacionamento com outra mulher, também da Vila Germânia e, com o término, ele buscava alguém que vigiasse a antiga companheira e o mantivesse informado sobre seus passos. Foi dessa forma, oferecendo dinheiro em troca de informações, que o homem chegou até Marli.

Esta antiga companheira de Alvarenga era casada e havia deixado o marido para viver com o novo homem, inicialmente em Alvorada e posteriormente em São Paulo, onde ele morava. No entanto, atos de violência contra ela a fizeram voltar para Nova Petrópolis e se reconciliar com o marido. Por conta disto, a Justiça concedeu a ela uma medida protetiva que impedia Alvarenga de chegar perto dela e de sua família.

Mesmo assim, no dia 27 de julho de 2021, Alvarenga chega a Nova Petrópolis para tentar chegar a sua ex-companheira após, segundo as investigações, ter recebido informações de Marli sobre ela. Quando ele encontra a ex, ela aciona a polícia, que efetua a prisão dele ainda no terminal rodoviário no momento em que ele se preparava para deixar o município. O homem é levado à prisão, mas recebe a liberdade no dia 31 de julho, um sábado. Como era final de semana, seus pertences, como celular e dinheiro, estavam retidos na Delegacia de Nova Petrópolis, que estava fechada.

Devido a este fato, ele vai até à casa de Marli pela primeira vez e pede para dormir lá até a segunda-feira, quando poderia pegar suas coisas e ir embora. À noite, Alvarenga, Marli e mais uma mulher e um homem, bebem cerveja na casa. Quando estavam apenas os dois na residência, já na madrugada de 1º de agosto, ele esfaqueia a vítima no abdômen e no rosto, matando-a imediatamente. Com a intenção de ficar no local até recuperar seus pertences na segunda-feira, ele enrola o corpo da vítima em um tapete e o esconde embaixo de sua cama.

Crime descoberto

Na noite de 4 de agosto, a Brigada Militar foi chamada à residência da vítima pois havia a suspeita de que Marli estaria morta. Após arrombar a porta, os policiais a encontraram. Poucas horas depois, Alvarenga já havia sido identificado como principal e único suspeito do assassinato. Isso porque ele próprio havia mandado uma mensagem para o então marido de sua ex-mulher, dizendo que Marli estava morta e o mesmo aconteceria com ele e a filha deste homem. Foi a partir daí que a polícia foi chamada. A perícia constatou que o crime havia sido cometido há pelo menos dois dias.

Ameaças e provocações

Com acesso ao celular da vítima, ele passou a fazer postagens no perfil dela no Facebook. Em uma das mensagens, se passando por ela, disse que escrevia “do além”. Ao longo dos dias, continuou debochando da vítima, respondendo a comentários, fazendo transmissões ao vivo e adicionando novas pessoas. Também sabendo que estava sendo procurado, passou a ameaçar os policias, a família da vítima e de sua ex-mulher, dizendo inclusive que mataria uma criança.

Postagem feita por ele, debochando da vítima (Créd.: Redes Sociais)

Prisão

Após o crime, Alvarenga permaneceu na residência até a segunda-feira, 2 de agosto, quando foi até a Delegacia e recuperou suas coisas. Ele ainda furtou a televisão da vítima e a vendeu por R$ 400,00 em um “brick”. Com o dinheiro, foi até Porto Alegre, dormiu, e no dia seguinte, usou aplicativos de carona para voltar a São Paulo.

A Polícia Civil de Nova Petrópolis, com apoio da Civil de São Paulo, descobriu a localização de Alvarenga em uma pensão. Então, no dia 16 de agosto, o delegado de Nova Petrópolis, Fábio Idalgo Peres, prendeu o acusado na capital Paulista. Inicialmente ele negou o crime, alegando que não estava mais no Rio Grande do Sul quando o corpo foi encontrado.

Confissão

Trazido pela Polícia para Nova Petrópolis, no dia 19 de agosto ele prestou depoimento, que foi gravado, na delegacia do município. Na ocasião, ele confessa o crime e disse estar arrependido. Em determinado momento, chega a rir do que fez. Após isso, foi levado à Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, onde permanece.

Já em fevereiro do ano passado, durante audiência, ele mudou sua versão e disse que só havia confessado porque o delegado Peres teria usado de tortura contra ele para obter a confissão. Disse também que quem matou Marli foi a outra mulher que estava na casa, isso porque a vítima não teria dividido com ela o dinheiro que Alvarenga havia pago pelas informações da ex, cerca de R$ 1000,00. Esta outra mulher, que ele acusa, foi quem apresentou Marli para Alvarenga, dizendo que ela conhecia a ex-companheira. A versão não convenceu a Promotoria, que diz ter provas suficientes para imputar a ele a autoria do crime.

Por sua vez, o delegado Peres, que foi acusado de tortura por Alvarenga, disse que ele “busca se defender de qualquer forma”. “O inquérito não se baseia apenas na confissão. Ele foi indiciado pelas evidências existentes, a confissão é um elemento de convicção, mas não o principal. Foram dois depoimentos em sede policial e os dois dissonantes. Prevíamos que o terceiro também seria”, disse Peres ao Diário na época.

Pedido por Justiça

Familiares de Marli não confirmaram se estarão no julgamento, tampouco são obrigados a estarem. Porém, em conversas com O Diário, um dos familiares disse que espera que ele seja condenado e que a justiça seja feita. “Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa, ainda mais dessa forma. Nada trará ela de volta, mas somente com a condenação e, se possível uma transferência dele para outro Estado, nos ficaremos tranquilos. Mesmo com ele preso, mas tão perto, temos medo que ele faça alguma coisa”, comentou.

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