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Aposentado aguarda ligação da rede elétrica há seis anos em Herval

30/11/2020 - 15h41min

Alcemar está angustiado com a situação; na foto, está no primeiro poste instalado há seis anos, cuja caixinha já está enferrujada devido ao tempo e teve que ser retirada (FOTO .: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Há mais de seis anos o morador de Padre Eterno Ilges Alcemar Roberto Botta, 61 anos, está travando uma verdadeira luta para conseguir ligar a rede de energia elétrica até sua residência, onde vive com sua esposa Leoni de 56 anos. Diversos protocolos já foram registrados, documentos apresentados, reuniões com a Prefeitura e RGE- até mesmo na época da AESUL, mas, até o momento, nada resolvido.

Alcemar guarda todos os protocolos que juntou nos últimos seis anos (FOTO .: Cleiton Zimer)

Para não ficar sem energia ligou um cabo na casa do vizinho que abastece a sua residência. “Eu já não sei mais o que fazer, estou ficando doente com essa situação, não consigo descansar. Sempre pensei que ao me aposentar viria morar aqui para ter tranquilidade e sossego e, agora, acontece isso”, lamentou o morador, alegando já ter tido um infarto devido aos transtornos constantes.

R$ 29 mil para a instalação

Ele possui a propriedade no local há mais de 20 anos. Sempre vinha aos finais de semana até a chácara enquanto morava em Estância Velha onde trabalhava como metalúrgico. Quando se aposentou resolveu mudar-se definitivamente para Santa Maria do Herval e, desde então está buscando ligar a rede de energia elétrica.

Antes mesmo de se mudar Alcemar instalou o primeiro poste, há seis anos. Entrou em contato com a concessionária de energia que na época era a AESUL e solicitou a instalação. A rede de alta tensão passa há cerca de 100 metros da casa e, para isso, teria que ser feita a ampliação da rede baixa ou instalar um transformador. A alternativa apresentada pela empresa foi puxar a rede baixa da linha que passa na estrada e que fica há cerca de um quilometro, mas, isso custaria mais de R$ 29 mil para o morador.

Alcemar se informou sobre a situação e não aceitou fazer nesse formato. A AESUL então orientou-o a buscar uma autorização na Prefeitura com demais documentos e que, após isso, a ligação seria feita de forma gratuita. Ele conseguiu os documentos apresentando-os na empresa, mas, depois disso, nada mais foi feito. “A única alternativa que tive foi puxar um rabicho da propriedade vizinha que, na época, era do meu filho. Mas agora ele vendeu e tem outra pessoa morando há um ano e eu não posso viver assim, dependendo dos outros, sendo que tenho meu direito de ter energia elétrica”, disse, falando que paga a conta de luz para ambas as residências, já que está tudo conectado no mesmo medidor – além de uma chácara ao lado, que é da sua filha.

RGE não orienta e deixa dar errado

De lá para cá foi um “corre corre” e o problema não chegou perto de ser resolvido. Diante das insistentes cobranças de Alcemar, a RGE – que agora administra a distribuição – lhe deu nova esperança há algumas semanas; pediram para instalar um outro poste na entrada da propriedade que fariam a conexão.

Ele colocou-o mas a RGE não passou as devidas instruções e instalou-o mesmo há 64 metros da rede principal.  Somente depois o avisaram que deveria ficar dentro de 30 metros. Ele tirou o poste, solicitou novamente uma máquina para a prefeitura, cavou um novo buraco e colocou ele na propriedade do vizinho com a devido autorização, dentro dos então 30 metros.

Feito isso, a RGE veio para ligar a rede mas, ao verem que estava na propriedade do vizinho não aceitaram e novamente a esperança de ter sua própria rede de energia elétrica foi por água abaixo. “E o pior é que em nenhum momento eles me orientaram como fazer. Deixaram a meu critério e, depois, simplesmente estava errado”, afirmou Alcemar destacando que na última vez nem falaram diretamente com ele de que o poste não poderia ficar na propriedade do vizinho, somente “mandaram um recado” através de outro morador.

Estaca zero

Agora, novamente, Alcemar está na estaca zero. Ele conta que nas próximas semanas um técnico da RGE deve vir até o local para avaliar a possibilidade de puxar a rede baixa até perto da casa mas, ele já não tem mais esperanças. Se por ventura acontecer ele trocará o mesmo poste de lugar pela terceira vez diante da falta de planejamento da RGE; além, claro, do poste que instalou há seis anos em frente a sua residência, cuja caixa de luz está totalmente enferrujada e o morador a retirou para que não estragasse mais ainda.

Os transtornos do descaso

O morador ao lado do primeiro poste que colocou, há seis anos, que até agora não teve a energia conectada (FOTO .: Cleiton Zimer)

Alcemar conta que corre risco de vida dessa forma pois precisa fazer uso constante da bombinha de oxigênio, principalmente durante a noite; frisou o infarto que teve, associando-o ao incômodo e preocupação diante do descaso. Como possui somente um cabo de energia do vizinho a qualquer momento pode ficar sem luz se dar qualquer problema, como uma sobrecarga. “Entende como é complicado?”, disse.

Além disso há muitos outros transtornos. Ele, mesmo aposentando, possui talão de produtor rural, cria algumas cabeças de gado, ovelhas e porcos, além de trabalhar com lenha. Possui todo maquinário, mas não tem uma conexão de energia elétrica. Por isso deixa as máquinas na casa de um vizinho e, sempre que precisa fazer algo, precisa se deslocar.

O que diz a RGE?

A reportagem pediu uma posição para a empresa, questionando o motivo da demora e a causa da falta de comunicação que levou o morador a ter que trocar o poste de lugar e mesmo assim está errado. A RGE não respondeu os questionamentos na totalidade, disse apenas que “trata-se de uma extensão de rede. Porém, faltam documentos do cliente que precisam ser apresentados à concessionária, conforme já informado a ele. Tão logo esses documentos sejam apresentados o pedido seguirá a tramitação normal”.

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