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Betinho Klein: relembrando as histórias dos banhos de rio em Dois Irmãos

12/09/2019 - 10h19min

Atualizada em 13/09/2019 - 10h59min

Dois Irmãos – Vamos tomar banho?

 “A ordem era ir após a escola direto para casa, mas isto não acontecia! Íamos tomar banho de rio! E como chegar em casa com o calção molhado?”

Mais um sábado chegando! Vamos tomar banho? Engana-se quem pensa que estou falando do banho da lata com um chuveirinho embaixo, onde tínhamos que tomar banho rápido para não terminar a água, ou do banho com chuveiro elétrico, que poucos tinham, e os que tinham, ao abrir o registro da água ganhavam um choque bem de leve! Falo dos banhos de arroios e rios, isto sim que era banho!

Dois Irmãos, como em qualquer outro lugar, o inverno era longo e muito frio. Já começava a ficar frio em abril e terminava quase no final de setembro. Acordávamos para ir à escola bem cedo, ainda escuro, usávamos um chinelinho Havaianas com um prego segurando as tiras, levávamos, como merenda, um pão com “chimia”. Tínhamos que ir a pé, mesmo com frio ou chuva, e, quando dava um temporal, não adiantava levar guarda-chuva, pois o vento que soprava não era pouco.

Poderia escrever muitas coisas sobre esse período escolar, mas quem sabe em uma outra matéria… Hoje, vim para dizer como era bom quando chegava o calor. Em Dois Irmãos, havia poucos bairros, desta forma, tínhamos muitos lugares para tomar um bom banho, um banho inesquecível! Quem morava no Centro, tomava banho na represa velha, que depois passou a ser represa da Sociedade Atiradores. Era um luxo, o rio era grande. O pessoal do bairro 7 de Setembro, como era conhecido por causa do clube 7 de Setembro,tomava banho no “Kimbel” ou na Cascatinha do 7. Era linda, com suas duas quedas d’água. O bairro União tomava banho no Arroio União, já o pessoal do Vila Rosa tomava banho no “karriBaum”. A turma da Vila Seca, que hoje é conhecida como Bairro Primavera, se banhava na Cascata São Miguel, Arroio da Direita e no Camping dos Birk.

Quando o calor chegava, todos os dias, no final da aula, era hora do banho. Durante a semana, cada um, após a escola, tomava banho em seu arroio, ou rio, o que era mais próximo, pois tínhamos que estar perto de casa. Já no sábado a tarde, era hora de caminhar ou andar de bicicleta até chegar num lugar diferente para tomar banho. Uns iam para a represa, outros no Arroio do União, para a Cascata e “Kimbel”.Todos se conheciam e a disputa ficava entre o melhor salto ou quem já sabia nadar de costas, cachorrinho e até apostar corrida nadando. A melhor ponta, o melhor salto, brincar de pega-pega (leques)… Até que um dia descobrimos um brinquedo novo, as câmaras dos pneus de carro. Passávamos na borracharia para pegar uma e chegar no rio com a maior câmara de pneu! Lembro da câmara de Patrola, isto sim que era luxo, uns vinham com câmara de Fusca! Tinha uns que acreditavam que câmara de bicicleta iria aguentar o peso… Tudo era festa, ou quase tudo!

Mas tínhamos “um problema”: chegar em casa! Você deve estar pensando qual o problema de chegar em casa? Pois bem! A ordem era ir após a escola direto para casa, mas isto não acontecia! Na verdade, íamos ao banho! Colocávamos o calção na mochila e quando a aula terminava íamos direto para o rio, e depois como chegar em casa com o calção molhado? Bom! Podíamos tomar banho de cueca, mas a cueca também molhava e apanhávamos da mãe e do pai! Batidas leves, mas com o calção molhado, doía um pouco mais. Então a estratégia era esconder um calção de baixo das pedras, próximo de onde iriamos tomar banho! E depois deixávamos novamente lá. Foi uma boa ideia, que funcionou por muitos anos! Até que um dia, alguns pais descobriram o segredo e ao chegar no final dia, o calção não estava lá. E agora? O jeito era tomar banho pelado para não apanhar!

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 “KARRIBAUM”

Entre as ruas de chão batido, as trilhas pelo mato, ou até mesmo pelo meio do mato, não tinha obstáculos para o lazer e alegria! O charme do “KarriBaum” – que tem este nome por causa das corridas de cavalo que aconteciam por volta dos anos 1920 – os amigos do Vila Rosa se reuniam para jogar futebol no campinho de futebol de pé descalço, com muitos espinhos, e, depois, passavam no armazém do Moinho Collet para tomar o refrigerante da época, que, nada mais era, que framboesa misturada com água. E, para fechar o dia com chave de ouro, se banhavam no arroio cercado de árvores lindas, perto da Ponte de Pedra, onde hoje é o nosso Complexo Esportivo Municipal.

LOCAIS SAUDOSOS

O que falar da nossa represa que já foi o moinho da família de Emílio Lehnen!? A área foi comprada pela Sociedade Atiradores em 1976, sob a presidência de Estevão Guilherme Fick, hoje conhecida como sede campestre da Sociedade Atiradores. Ali sentávamos para conversar com os amigos horas e horas, até o sol se pôr.

A cascatinha do 7, três andares para pular! E, abaixo da queda d’água, tinha uma caverna, local onde hoje se localiza o Parque Municipal Romeo Benício Wolf.

O Arroio do União, onde dávamos as melhores pontas, próximo ao atual posto de saúde do bairro. O “Kimbel” do 7, nas terras de seu Walter Muller, era pequeno, mas tinha seu charme. Localizado na rua Porto Alegre, perto do restaurante Baumschneis.

O Arroio da Direita, que conta com uma queda d’água linda, próxima a passarela construída entre os anos de 1993/1996 no período administrativo Renato/Juarez, região central de Dois Irmãos.

A tão linda e maravilhosa Cascata São Miguel, marcando a divisa territorial com o município de Ivoti, rodeada de paredões, com aproximadamente 50 metros de queda d’água. Junto a ela está a primeira Usina Hidrelétrica do Estado, construída no ano 1912, quando Dois Irmãos ainda pertencia a São Leopoldo.

A cidade cresce e estes lugares mágicos vão dando espaço para casas e prédios, ruas e parques, mas as lembranças ficam! Tudo vira história e memória da simples e bela Baumschneis. Parabéns pelos 190 anos de Baumschneis e 60 anos de Emancipação de Dois Irmãos. Obrigado Dois Irmãos.

CARLOS ALBERTO KLEIN (BETINHO)

Betinho é nascido em Dois Irmãos no dia 23/11/1968, é autor, diretor, ator e produtor de teatro. Dá vida ao personagem Herta. Tem três livros publicados “Do outro lado da cerca mora um amigo”, “Herta: uma visita especial (em parceria com Simone Saueressig) e “Projeto Raízes”.

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