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Colheita de gerações: o legado dos Kunzler na terra, na entrega e no coração do Herval
Irmãos gêmeos inovaram trazendo a tecnologia para a lavoura
Santa Maria do Herval | Era 1971. O tempo caminhava mais lento no interior do Teewald. A terra ainda era virada na enxada, o comércio acontecia no fio da confiança e os vínculos se firmavam no aperto de mãos.
Foi nesse solo, nesse tempo e nesse espírito que Belmiro Kunzler iniciou a produção e venda de hortaliças no bairro Aparecida. Seu trabalho era simples, mas essencial: plantar, colher e levar de casa em casa aquilo que tirava da terra com suor e fé.

Belmiro começou o varejo em 1971
Belmiro fez varejo por 36 anos, parando somente três meses antes de falecer em 2007, aos 67 anos, vítima de câncer. Ele não deixou apenas plantações – mas um modo de viver.
E quando as forças lhe faltaram, foi seu filho, Evandro Kunzler, 48, quem assumiu o volante do negócio, mantendo viva a rota criada pelo pai e carregando nos sábados, de porta em porta, não apenas sacolas de verduras, mas um legado inteiro.
Um novo começo na pandemia
A terceira geração já vinha ajudando desde pequeno. Andrei Henrique e Anderson Felipe, hoje com 25 anos, cresceram entre as caixas de hortaliças, o cheiro de terra molhada e o vaivém das entregas. Mas foi com a pandemia que o chamado se tornou mais forte.
“Ficou mais difícil seguir com o varejo da forma antiga, por causa das restrições. Então eu e meu irmão decidimos inovar”, conta Andrei. O WhatsApp virou balcão de pedidos. O Instagram, vitrine dos produtos da propriedade. E o que parecia um freio no mundo, foi aceleração no negócio.
Quando o campo encontra a tecnologia
Empreender no campo, em meio às limitações de logística e sinal de internet, exige mais do que vontade: exige visão. E foi isso que Andrei teve ao decidir criar um site próprio para os pedidos. “Comprei curso, vi vídeos, participei de aulas do programa do Sicredi, fui aprendendo com as oportunidades que tinha”, conta ele, que é formado em eletrotécnica e está se formando em Engenharia Elétrica.
Anderson também é formado em técnica e manutenção automotiva. Chegou a trabalhar um tempo fora, mas, decidiu que queria voltar para casa. E foi essa união, de todos, que fez o empreendimento expandir.
Hoje, clientes de Santa Maria do Herval, Morro Reuter, Dois Irmãos e Novo Hamburgo podem acessar o site, fazer cadastro e escolher os produtos. O catálogo se atualiza com frequência e a cada semana, Andrei ajusta algo. “Não sou especialista, mas faço porque gosto”, explica.
Para os clientes que compram através do site, as entregas acontecem sextas e sábados. Já para os restaurantes, creches, acontecem em segundas e terças.
Funciona como engrenagem
A estrutura familiar é dividida como uma engrenagem bem ajustada. Evandro, o pai, cuida da plantação e ajuda na separação dos pedidos. Anderson, o irmão gêmeo, é o responsável pelas entregas e compras. Andrei comanda a parte comercial e digital. A mãe, Vania Hansen Kunzler, também tem papel fundamental: separa os pedidos, cuida da casa, faz comida, apoia.
“Cada um tem sua parte, mas somos todos iguais. A sociedade é dividida em partes iguais. A gente se sente bem trabalhando assim, em família, e todos estamos felizes em continuar esse legado”, diz Andrei com naturalidade, como se isso fosse apenas o normal – mas é, na verdade, uma preciosidade.
Raízes que também vibram em acordes
Nos fins de semana, o som que ecoa da propriedade não é apenas o dos implementos agrícolas. É música. Os irmãos também são integrantes de bandas típicas. Andrei toca gaita. Anderson, bateria. Os dois participam da banda “Os Guris” de Santa Maria do Herval, e, Andrei, da Banda Periquito de São José do Hortêncio. Neste Dia do Colono e Motorista, inclusive, vão embalar uma festa para homenagear aqueles que, como eles, transformam o campo em alimento e a estrada em conexão.

Os irmãos, além de empreendedores, também são músicos.
“Este interesse surgiu porque na família da minha mãe, meu bisavô Werno Hansen, já era gaiteiro da antiga Banda Municipal do Herval. Então ele sempre tocava gaita, foi passando para os netos e pegamos gosto”, conta Andrei.

Bisavô Werno Hansen
Uma lição silenciosa
A propriedade cultiva feijão, hortaliças, repolho, brócolis, couve, batata, cebola e muito mais. Mas, talvez, a maior colheita não esteja nas caixas. Está no olhar que brilha quando Andrei fala do avô. No jeito como o pai ainda levanta cedo para separar verduras. Na partilha entre irmãos. No site que nasceu da inquietude. Na música que embala os domingos.
A família Kunzler não é só querida na comunidade – é espelho de uma forma de viver que teima em não morrer. Onde o trabalho é feito com mãos sujas de terra, mas o propósito é limpo como um céu de julho.
Quem tiver interesse de conhecer mais da família, é só CLICAR AQUI.












