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Como compreender o suicídio e reconhecer sinais que podem salvar vidas

01/12/2025 - 09h43min

Atualizada em 01/12/2025 - 10h12min

Imagem: ilustração.

Um olhar responsável sobre a dor emocional e os caminhos reais de prevenção ao suicídio

Por Cleiton Zimer

O suicídio é uma das expressões mais graves do adoecimento emocional, e seu enfrentamento exige responsabilidade, informação qualificada e sensibilidade. A necessidade desse debate torna-se ainda mais evidente após a região registrar, recentemente, diversos casos de suicídio envolvendo pessoas de diferentes idades, perfis e realidades, o que acende um alerta sobre a importância da prevenção, da informação e do acolhimento – já que uma das principais dificuldades em torno do tema é, justamente, o tabu.

São episódios que tocam famílias inteiras, desestabilizam comunidades e mostram que o sofrimento emocional não escolhe faixa etária, condição social ou histórico de vida. Então, é uma discussão importante a qualquer momento, seja no Setembro Amarelo – em que o tema é amplamente abordado – mas também o ano todo.

Para a psicóloga Juliana Paez Tonidandel, de Dois Irmãos, o debate só é honesto quando parte de um pressuposto fundamental: respeito ao sofrimento humano. “Não estigmatizar quem sofre requer um olhar de respeito e empatia”, afirma. Ela ressalta que, mesmo quando não compreendemos as escolhas de alguém, “devemos respeitá-las, por mais difícil que seja para nós”.

Psicóloga Juliana Paez Tonidandel

Segundo a psicóloga, o suicídio nunca é um ato isolado ou impulsivo. Ao contrário, é resultado de um processo longo, silencioso e marcado por acúmulos de dor emocional. “Escolher tirar a própria vida representa um acúmulo de sofrimento por anos, de alguém que extravasou suas emoções e não mais conseguiu contê-las”, explica. Trata-se, segundo ela, de um ato de desespero, que nasce de um quadro patológico — sobretudo a depressão profunda — cada vez mais presente no mundo inteiro.

Sinais de alerta: mudanças pequenas, mas contínuas

Juliana destaca que os principais sinais estão ligados a doenças mentais como ansiedade e depressão, mas também ao isolamento, uso de álcool e drogas, desesperança, dificuldade de adaptação e uma série de mudanças comportamentais sutis, porém persistentes.

Ela cita exemplos concretos: deixar de conviver com a família, ficar sempre no escuro, permanecer no quarto por longos períodos, demonstrar sonolência constante e a perda de interesse por qualquer atividade.

Esses sinais, quando negligenciados, podem evoluir para pensamentos extremistas. E é nesse cenário que muitas pessoas desejam ajuda, mas não conseguem buscá-la. “Elas suplicam silenciosamente para serem compreendidas”, afirma Juliana.

Muitas reconhecem internamente o sofrimento, mas a limitação emocional impede o pedido de apoio — especialmente quando há depressão não tratada ou uso prolongado de drogas.

Como agir ao identificar risco

A psicóloga é categórica: acolher não é carregar sozinho. “Nunca assuma uma bagagem que você não consegue carregar”, alerta.

A postura correta envolve escuta ativa, presença e encaminhamento imediato para profissionais que trabalham com sofrimento emocional. Mostrar caminhos, disponibilizar contato de especialistas e acompanhar os primeiros passos pode salvar vidas.

A família como núcleo de atenção e também de limites

Por estar próxima do convívio diário, a família é quem percebe primeiro as mudanças graduais. Para Juliana, o olhar atento a essas oscilações é essencial, assim como o fortalecimento emocional dentro da própria casa.

Mas ela também reforça a importância de reconhecer limites: “Para acolher é preciso estar bem consigo mesmo”. Quando o familiar entende que não consegue ajudar sozinho, o encaminhamento rápido para atendimento profissional deve ser a prioridade.

Responsabilidade social

Juliana lembra que ninguém está fora dessa discussão. “Uma sociedade adoecida precisa ser vista, precisa ser compreendida”, afirma. Ou seja, é preciso abandonar a postura que normaliza ou ignora o sofrimento alheio e adotar uma força conjunta baseada em empatia e escuta.

Ela também alerta para o impacto da divulgação irresponsável de casos de suicídio. “Os estudos mostram que a divulgação aumenta o número de casos subsequentes”, explica. Isso ocorre quando a exposição gera falsa sensação de coragem ou de solução. Por isso, a psicóloga defende que a imprensa produza reportagens técnicas, educativas e que ajudem a população a entender que o suicídio não é a única opção.

Fatores de risco e proteção

Para Juliana, o maior fator de risco é negligenciar dores emocionais. Ela ressalta que corpo, mente e alma formam um conjunto inseparável, e quando uma área adoece, compromete todas as outras.

Entre os fatores de proteção, ela destaca o autoconhecimento — compreender onde estão as próprias dores e alegrias — e fortalecer aquilo que dá sentido à vida. A psicóloga também enfatiza a importância da adaptabilidade: “Seja um ser humano adaptável”. Para ela, essa habilidade precisa ser ensinada desde cedo, pois será fundamental nas próximas gerações.

Tristeza x depressão: diferenças essenciais

Juliana explica que tristeza tem motivo claro: um nome, uma causa, uma dor identificável. Já a depressão é uma patologia profunda e evolutiva, que altera o funcionamento do cérebro e a forma como a pessoa enxerga a si mesma e a própria vida.

Nos estágios iniciais, é comum que os sintomas sejam negligenciados — tanto pela pessoa quanto pelo entorno —, o que atrasa o pedido de ajuda. É quando tudo “perde a graça” que a doença começa a tomar forma no cotidiano.

Investir na base e estruturar a rede

Entre as políticas públicas eficazes, Juliana destaca a presença constante de psicólogos e psicopedagogos nas escolas, atuando diretamente com alunos, famílias e equipes pedagógicas. Para ela, fortalecer a base da pirâmide humana é fortalecer o futuro. “Quanto mais acolhemos e orientamos os jovens, mais teremos adultos estruturados emocionalmente”, afirma.

A psicóloga reforça a importância de serviços como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), das UBSs e de programas que atendam crianças, adolescentes e adultos em vulnerabilidade emocional. Ela também valoriza ações comunitárias, como palestras didáticas e rodas de conversa, que tornam a informação acessível e criam espaços de troca.

Para quem está sofrendo agora

A orientação final de Juliana é objetiva e humana: reconhecer o que sente. “Aceitar que não está bem é o primeiro passo para conseguir sair da situação de sofrimento”. Depois disso, verbalizar as emoções e procurar pessoas de confiança é fundamental. E, por fim, buscar profissionais especializados para que a depressão possa ser controlada e seja possível recuperar o equilíbrio emocional.

Centro de Valorização da Vida – CVV

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.

Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.

 

 

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