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Crise do cacau desafia produtores de chocolate e torna a Páscoa “salgada”
A Páscoa deste ano chega em meio a um dos momentos mais delicados para o setor de chocolates. A disparada no preço do cacau no mercado internacional — resultado de problemas climáticos nas principais regiões produtoras da África, como a Costa do Marfim — impactou diretamente os custos da produção, afetando tanto grandes marcas quanto fabricantes artesanais.
Em dezembro de 2023, a tonelada da amêndoa chegou a ser cotada em US$ 11.040 na Bolsa de Nova York, uma alta de 163% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A crise se estende por três safras consecutivas em déficit e já tirou 758 mil toneladas da oferta global, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO).
No Brasil, embora o país tenha clima e espaço para expandir a produção, ainda não consegue atender à própria demanda interna. A diferença entre o que é produzido e o que é consumido torna o mercado brasileiro ainda mais vulnerável à oscilação de preços internacionais. Como resultado, os preços do chocolate subiram: só nos 12 meses até janeiro deste ano, o chocolate em barra e o bombom ficaram 16,53% mais caros, de acordo com o IBGE.
Esse cenário levou a indústria a buscar alternativas: redução do tamanho dos produtos, reformulação de embalagens e aumento na variedade de sabores e combinações. A expectativa é de que cerca de 45 milhões de ovos de Páscoa sejam colocados no mercado este ano, uma queda de 22,4% em relação a 2023, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab).
Mas a expectativa é de otimismo na região
Apesar dos desafios, produtores mantêm a esperança em uma Páscoa de boas vendas. Em Santa Maria do Herval, a Chocolates Cristiane buscou se antecipar à crise e reforçou sua produção, investindo em variedade e ampliando mercado.
Diego Arnold, responsável pela empresa, avalia o momento com cauteloso otimismo: “As vendas estão boas. Vamos ver agora como o pessoal vai comprar nos mercados.” A demanda ainda está sendo acompanhada, mas a expectativa é de um bom desempenho nos próximos dias, tradicionalmente os mais fortes em vendas.
Para dar conta do movimento, a empresa aumentou a produção. “Nós produzimos uns 30% a mais”, afirma Diego, destacando que a medida foi planejada para abastecer tanto o público local quanto os consumidores dos supermercados.
A Chocolates Cristiane também sentiu o peso da alta nos insumos, especialmente do cacau. “O que mais aumentou foi o cacau. Para nós, a matéria-prima dobrou o valor”, explica Diego. A empresa, no entanto, optou por não repassar todo esse aumento ao consumidor. “Claro, nós não subimos tanto o valor. Baixamos nossa margem de lucro”, conta.
A escolha de manter os preços competitivos, mesmo com impacto direto na rentabilidade, é parte de uma estratégia para preservar a clientela e reforçar a fidelidade em um momento de incertezas no mercado.