Geral

CRISTIANE: De um coração de chocolate, numa tarde chuvosa, nasceu a história que mudou o rumo de uma família

06/08/2025 - 07h20min

Atualizada em 06/08/2025 - 07h27min

Parte da equipe que, hoje, prepara chocolates que adoçam a vida por todo o Rio Grande do Sul (FOTOS:. Arquivo pessoal)

O sabor Chocolates Cristiane, situada em Alto Morro dos Bugres, hoje chega a 130 cidades do RS

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval | Era uma tarde de quarta-feira, chovia em Alto Morro dos Bugres. Era “dia do sofá”. Diego Arnold foi visitar Cristiane, sua então namorada, e encontrou algo diferente sobre a mesa da casa: pequenos bombons em formato de coração. Tinham sido feitos por Claudete Olbermann, sua sogra. Ela era confeiteira — dessas que sabem dosar fermento, açúcar e afeto — e havia comprado uma forminha de chocolate para enfeitar as tortas que fazia.

E naquele dia resolveu testar a novidade. Derreteu chocolate, preencheu as formas e moldou o que, sem saber, se tornaria o embrião de uma empresa.

Diego, que trabalhava numa fábrica de calçados, sempre teve faro para oportunidade. Na fábrica, era ele quem vendia tudo que aparecia: perfumes, rifas, doces. Quando viu aqueles bombons, enxergou mais que chocolate — viu futuro. Pediu para Claudete fazer mais, contou que no sábado sairia de moto para tentar vender. E assim foi.
Levou amostras e voltou com 420 pedidos.

Só tinham uma forma com quatro corações e cinco quilos de chocolate. Correram atrás de mais formas, mais matéria-prima, se organizaram como podiam e produziram tudo. Entregaram. E descobriram: havia mercado, havia procura, havia sabor. E havia algo mais — havia sonho.

Registro da produção de chocolates há cerca de 10 anos atrás – quando tudo ainda estava no começo

DE CASA PARA O MUNDO

No dia 28 de julho de 2010, formalizaram o que já havia começado: nasceu oficialmente a Chocolates Cristiane. O nome, aliás, veio depois de algumas tentativas.
A sociedade foi formada entre Diego e sua sogra, Claudete, mas o elo entre os dois sempre foi a Cristiane. Foi em torno dela que o negócio nasceu, então era justo que levasse seu nome. E quando decidiram usar “Cristiane”, tudo começou a dar certo.

Os primeiros chocolates foram produzidos na cozinha da casa da família. Depois, trabalharam durante três anos em uma salinha de apenas 9m². Hoje, ocupam um prédio de 100m² e estão construindo uma nova fábrica de 900m² — um salto ousado, que permitirá uma ampliação significativa da produção e da equipe.

“Começamos com uma panelinha para derreter chocolate, vendendo só aqui na cidade. Hoje atendemos cerca de 130 municípios do Rio Grande do Sul”, conta Diego. “E queremos ir além.”

A nova planta, que estava prevista para ser concluída em 2024, teve seu cronograma impactado pelas chuvas de novembro de 2023, que causaram deslizamentos e adiaram o sonho. Com a alta dos juros e as oscilações do mercado, a decisão foi amadurecida: vão terminar com calma, no tempo certo, agora com previsão para o final de 2026.

Hoje, contam com 10 funcionários diretos além dos vendedores e distribuidores. No prédio novo, a expectativa é agregar uma equipe entre 50 e 100 funcionários.

Começaram com coragem e união de família

Nenhum dos três fundadores tinha formação em chocolateria. Claudete vinha da roça e da confeitaria, Diego era do ramo calçadista e Cristiane também trabalhava fora durante o dia, ajudando à noite. No início, não sabiam a diferença entre chocolate nobre, cobertura, fracionado. Descobriram tudo na prática.

Diego chegou a trabalhar uma semana de graça na fábrica da Florybal, em Gramado, só para aprender. Ainda hoje, sempre que podem, visitam fábricas, mantêm contato com técnicos e até mecânicos experientes do ramo. Um deles, de Gramado, ainda hoje é quem ajusta as máquinas da empresa. E, quando o assunto é equipamento novo, ainda pedem opinião para quem tem mais estrada.

“A gente foi aprendendo muita coisa na marra. Quando precisava, contratava alguém por um ou dois dias para dar treinamento. Fui me especializar em matéria-prima e a ideia, na fábrica nova, é começar a produzir o próprio chocolate desde o cacau.”

O foco sempre foi qualidade. Mesmo quando trabalhar com produtos mais baratos seria financeiramente mais viável, decidiram seguir outro caminho: o do sabor superior, do respeito ao cliente, da construção de marca com base em consistência.

Diego com os sogros e Cristiane

Hoje, a linha da Chocolates Cristiane inclui cinco tipos principais: ao leite (com 37% de cacau), branco, 50%, 70% e a linha zero — sem açúcar e sem lactose. Nenhum produto da fábrica leva glúten nem gordura fracionada hidrogenada.

São cerca de 30 toneladas de chocolate produzidas por ano. Além das barras e trufas, há alfajores, dragês, linha de presentes, Páscoa, Natal — um portfólio que agrada tanto o varejo quanto o consumidor final.

A distribuição, em sua maioria, ainda é feita pela própria empresa, com vendas em cidades da Serra, Sul, Litoral, Região Metropolitana, Vale do Sinos, Vale do Taquari e Centro do Estado. Em alguns casos, usam transportadoras, mas preferem manter o vínculo direto.

RAÍZES QUE NÃO SE ESQUECEM

É com carinho que Diego fala dos parceiros do começo — muitos ainda hoje são clientes fiéis. Ele lista: o mercado do Anívo Hansen, o Kunst, o Sonho Meu, a Lotérica, o Vergilho, a Padaria Schu – hoje Mercado Teewald, o Paulinho Müller, de Padre Eterno Baixo – e muitos outros. “A gente não tinha nem marca registrada. Eu dizia: quer dois, cinco, dez? Eu entrego. A gente vendia sem noção nenhuma do que estava fazendo. E eles confiaram.”

Talvez por isso o espírito da empresa siga familiar, mesmo com a profissionalização. A Cristiane, por exemplo, mesmo quando trabalhava fora, sempre esteve presente na produção, ajudando nos horários possíveis. Hoje, ela e Diego são casados e criaram a própria família, que sempre está envolvida no chocolate. E a Claudete, mulher de fibra e coragem, continua sendo uma figura central: aquela que moldou o primeiro chocolate — e também a primeira esperança.

15 ANOS, MIL MOTIVOS

Ao completar 15 anos, a Chocolates Cristiane não celebra apenas a data. Celebra os tropeços, os acertos, os sábados de entrega na moto, os improvisos, os cursos feitos na coragem, os conselhos recebidos, os chocolates embalados na madrugada, os funcionários, os parceiros que revendem, distribuem, carregam o nome da marca para onde for.

“Queremos agradecer a todos os clientes, amigos, funcionários e nossos parceiros que sempre estiveram conosco nesses 15 anos. Sem eles, nada dessa história seria possível”, diz Diego.

E essa história continua. Crescendo devagar, mas com firmeza. Com raízes, gosto de verdade e um coração que — ainda hoje — pulsa forte por trás de cada bombom.

O que começou com três pessoas de uma família, hoje, emprega vários funcionários com projeção de expansão

 

Sair da versão mobile