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Da dificuldade à independência: uma trajetória dedicada a doma de cavalos

02/03/2022 - 09h12min

Atualizada em 02/03/2022 - 09h20min

O domador possui mais de 13 anos de experiência (Crédito: Daiani Aguiar)

Aos 15 anos, o domador saiu de casa para realizar o sonho de atuar na profissão

por Daiani Aguiar

Estância Velha – Natural de Santo Ângelo, Jeferson Rodrigo Zorzan, 28 anos, se mudou para o bairro Campo Grande com a família, quando tinha quatro anos. O pai, Luiz Antônio Zorzan, alugou um galpão para trabalhar com cavalos. Já na infância, Jeferson tomou gosto pela área e descobriu a vocação: ser domador.

“Eu me criei nesse meio e aprendi a domar com meu pai. Ao longo do tempo fui aprimorando”, diz Jeferson. Aos oito anos ele já se dedicava às atividades, auxiliando na rotina familiar. No entanto, certo de que este seria o caminho profissional, aos 15 anos ele buscou a independência financeira.

Alugou um galpão no mesmo bairro e deu início ao próprio negócio. “Foi um marco na minha vida. Muita coisa deu errado, mas era meu sonho, e as dificuldades foram fundamentais para o meu crescimento”, destaca. Como consequência, o jovem optou por trancar os estudos, se dedicando, exclusivamente, aos animais.

Aventuras argentinas

Já experiente e com o negócio consolidado, aos 21 anos Jeferson se deparou com a oportunidade de atuar como domador na Argentina. A decisão difícil de deixar a família e os clientes foi tomada. “Sair rumo ao desconhecido é um passo bem grande, mas a proposta era boa. Estavam montando uma equipe brasileira e eu fui escolhido”, conta.

Durante quase dois anos ele e a esposa, Paula Teixeira, 27, moraram em uma localidade da província de Buenos Aires, chamada San Carlos Bolívar. Foram quase 20 horas dirigindo pelos mais de 1.600 quilômetros para aprender e experienciar mais da profissão que tanto admira. Mas antes de chegar ao local, o casal passou por diversos problemas.

“Neste meio tempo, alguns clientes ficaram sabendo e desistiram. Saíram sem me pagar. Foi bem difícil, porque quebrou meu negócio”, lembra Jeferson. Para quitar as dívidas acumuladas no processo de mudança, ele iniciou a fabricação de bainhas de faca e demais produtos de couro. “No fim deu tudo certo”, salienta.

Enfrentando dificuldades

Embora em uma situação promissora, a saudade e a distância pesaram, e o casal decidiu regressar ao Brasil. Jeferson já havia alugado um galpão para recomeçar o negócio, porém em Sapiranga, onde permaneceu por dois meses. “Durante esse tempo nenhum cliente surgiu e quando me dei conta estava limpando pavilhões para ter o que comer”, lembra.

Diante da necessidade de se reinventar novamente, aos 23 anos, ele foi trabalhar em Viamão. Porém, a rotina pesada o adoeceu. “Eu sei que meu trabalho exige muito, estou acostumado, mas eu emagreci 11 quilos. Desmaiava de cansado”, diz. Posteriormente, uma oportunidade em Gramado surgiu, onde morou por quase dois anos.

Voltando para casa

Estagnado, ele decidiu voltar à cidade, e com o dinheiro da rescisão, abriu outro negócio. Foi quando mais uma vez, teve a oportunidade de domar cavalos na Argentina, porém, temporariamente. Após um mês voltou e se estabeleceu. Ficou por quase um ano no novo local em Estância Velha, mas devido ao proprietário não renovar o contrato de locação, precisou sair.

Forçado a, mais uma vez, buscar novas opções, ele aceitou o convite do pai para trabalharem em conjunto no galpão, situado na rua Treze de Maio, no bairro Rincão da Saudade. “Tinha muita coisa para arrumar, mas eu fui. Já tinha meus cavalos para cuidar”, afirma. Trabalhou por três meses, construindo calçamento e uma pista, consertando as cocheiras e instalando água encanada. “Agora não pretendo mais sair daqui”, fala.

A rotina do sonho realizado

A profissão exige paciência, dedicação e conhecimento, mas Jeferson enfatiza que “vive para o cavalo”. Levanta cedo para tratar os 19 animais que possui no espaço compartilhado com o pai. “Eu tenho 14 cocheiras e ele seis. Trabalhamos de forma independente, mas nos ajudamos”, pontua.

Logo cedo os animais são tratados, após, ele inicia a limpeza das baias e dos cavalos, com escovação e tosa. “Ainda de manhã fazemos a montagem, trabalhamos com eles, damos banho e comida de novo”, explica. Segundo ele, a rotina difere conforme o estilo de vida do animal e da contratação do cliente.

Atualmente, Jeferson se dedica às atividades com dois cavalos de laço, dois de morfologia e 12 em doma. Segundo ele, cavalo de laço recebe treinamento para as competições de circuitos. Já o de morfologia, cuidados para estar nas características passíveis das exposições de beleza e raça, e o de doma, é domesticado durante o período contratado.

Para o domador, a profissão o preenche diariamente. “Eu tenho orgulho de tudo que passei, porque me fez chegar até aqui. O cavalo me ensinou muito mais do que domar, me ensinou a ter visão de negócio e a respeitar os animais e as pessoas”, diz emocionado.

“O cavalo me ensinou muito mais do que domar, me ensinou a ter visão de negócio e a respeitar os animais e as pessoas”, diz Jeferson Zorzan

 

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