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De fábrica à faxina: História de Joice mostra valorização crescente de um trabalho essencial
Diagnóstico médico mudou a rotina dela – que agora consegue conciliar qualidade de vida com trabalho
Por Cleiton Zimer
Por muitos anos, trabalhar como faxineira em pequenas cidades do interior não era uma ocupação tão visível nem amplamente reconhecida. Hoje, a realidade é diferente: a procura pelo serviço cresce a cada semana e a atividade se consolida como essencial para famílias que não conseguem conciliar todas as tarefas do dia a dia.
Esse movimento se reflete na trajetória de Joice Kasper, 35 anos, moradora de Padre Eterno Ilges, em Santa Maria do Herval. Há três anos, ela encontrou na faxina não apenas um novo meio de vida, mas também uma oportunidade de recuperar a saúde e conquistar reconhecimento profissional.
Consequência de ficar muito tempo parada
“Trabalhei 16 anos em fábrica e, em 2019, ganhei uma úlcera aberta na perna por causa das varizes. Passei bastante dor, ela ficou aberta mais de dois anos. Quando fiz o primeiro procedimento em Porto Alegre, o médico me disse que eu teria que trocar de serviço, porque estava muito parada e isso não me fazia bem. Eu tinha os pés sempre muito inchados e logo foi um susto, porque estava tanto tempo na fábrica. Pensei: o que vou fazer agora?”, relembra.
O incentivo veio de dentro de casa. “Meu marido falou: tu sempre gostou de limpeza, de organização, tenta fazer faxina. Mas onde, que casa? Não tinha ninguém. O pessoal no interior, mais antigo, acha que isso não precisa ser. Aí pensei: vamos lá, vamos tentar”, conta.

Joice já trabalha há três anos com faxina.
O começo
Amigas que já atuavam na área começaram a indicar Joice, que aos poucos foi conquistando espaço. No início, precisava ir mais longe, até comunidades como Boa Vista do Herval. Com o tempo, as portas se abriram em lugares mais próximos. Hoje, a rotina é intensa: duas faxinas por dia e a semana inteira preenchida de serviço.
“Já passei por muitas casas e tem lugares onde estou desde o começo. Só tenho a agradecer porque todas as pessoas são maravilhosas, pessoas que eu não conhecia e que acabaram se tornando amigos. Estou muito melhor em relação às minhas varizes, porque não fico mais parada. Muita gente me chama, toda semana alguém manda mensagem, até de outros municípios como Morro Reuter e Gramado. A procura é bem grande, mas agora estou mais pelo Herval”, afirma.
Nova realidade aumenta a demanda
A procura, segundo Joice, vem principalmente de casais mais jovens e de veranistas que têm sítios e chácaras na região, mas moram em cidades como Porto Alegre e Esteio. “Eles não querem vir no final de semana para trabalhar, querem descansar. E as famílias que trabalham fora o dia todo, com filhos pequenos, não conseguem dar conta de tudo.”
Profissional dedicada, Joice leva sempre os próprios materiais de limpeza, organizados de véspera para garantir rendimento e qualidade. “Sempre preparo o carro de noite para o dia seguinte. Procuro ter produtos bons para render melhor e fazer um bom trabalho. O pessoal gosta, porque às vezes não tem os panos ou baldes, e assim eu já chego pronta.”
Qualidade de vida
Em agosto, ela completou três anos de atuação como faxineira, comemorando a mudança que trouxe qualidade de vida, reconhecimento e novos amigos. “Foi melhor assim, a troca fez muito bem para a minha saúde. Gosto muito do meu trabalho, mesmo sendo cansativo, porque o reconhecimento e os elogios recompensam. Não parece, por Herval ser tão interior, a procura ser tão grande — e só vai aumentar com o passar dos anos. Se agora já falta mão de obra, imagina mais pra frente. Vai ser um serviço muito valorizado ainda.”
