Esporte
De Morro Reuter ao Quênia: Marlei vivencia reconexão no berço mundial da corrida
Em junho, Marlei Willers — a “Preta”, como é carinhosamente chamada — esteve em Iten, no Quênia, considerada a capital mundial da corrida de longa distância – a Meca do Atletismo. Aos 47 anos, a maratonista de Morro Reuter viveu ali uma imersão que vai além do esporte. “Não tem como voltar sendo a mesma pessoa”, resume.
A cidade de Iten, situada a cerca de 2.400 metros de altitude no continente africano, é referência internacional por forjar campeões olímpicos. As condições de ar rarefeito fortalecem os corredores e atraem atletas de todo o mundo — mesmo em meio a uma estrutura simples, com ruas de chão batido, casas modestas e poucos recursos básicos.
Marlei viu de perto a atuação dos atletas quenianos, que correm a 2.400 metros de altitude
Imersão entre o barro, a humildade e o silêncio
Marlei passou cinco dias na região a trabalho, com pouco tempo para treinar, mas com olhos atentos a cada detalhe: a rotina dos corredores locais, a simplicidade das casas, a ausência de saneamento básico, o barro no reboco e as galinhas soltas pelas ruas sem asfalto. “Foi um choque de realidade, mas também uma reconexão comigo mesma.”
Da menina do interior à mulher que inspira pelo exemplo
A viagem não foi apenas geográfica. Para Marlei, que começou a correr aos 39 anos e hoje é referência nacional em superação no esporte, foi também uma volta às origens. “Em alguns momentos, me senti de novo a Marlei garotinha do interior do Paraná.” A lembrança da infância simples se somou à experiência de ver, de perto, como o esporte é vivenciado por quem o transforma em chance real de sobrevivência.
Correr é sobreviver: a lição dos quenianos
“Lá, a corrida é uma alternativa de vida”, relata. Os quenianos correm em estradas de chão batido como quem respira — treinam duas, três vezes por dia, em rotinas marcadas por disciplina e propósito. Sem pressões de patrocinadores ou redes sociais. “Eles vivem para correr. E descansam para correr. Essa pureza me tocou.”
Durante a estadia, Marlei participou de um trabalho a convite da Fila — marca que a apoia desde o início de sua trajetória no esporte. Embora tenha sido uma viagem intensa e sem tempo hábil para adaptação à altitude extrema, ela carrega da experiência mais do que ganhos físicos. “Voltei mais leve. Mais certa do meu propósito. E grata por tudo.”
“Essa viagem me lembrou por que comecei a correr.”
Mesmo em meio à precariedade estrutural, ela viu beleza na relação dos quenianos com a vida e com a natureza. “A gente aqui paga caro para comer orgânico. Eles plantam o que comem. A gente corre para fugir do estresse. Eles correm para tentar mudar de vida.”
Ao comparar os desafios enfrentados no Brasil e no Quênia, Marlei reflete: “Eles têm pouco acesso a muita coisa. Mas também têm algo que a gente perdeu: foco, essência, tempo.” E conclui: “O esporte é reencontro. É alma. É amor. E essa viagem me lembrou por que comecei a correr.”