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Dia do Bombeiro Voluntário: família inteira de Nova Petrópolis se dedica a salvar vidas

13/07/2022 - 10h26min

Atualizada em 13/07/2022 - 12h10min

Em pé, Marlene e Paulo, com os filhos Camila e Mathias logo abaixo (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – Nesta quarta-feira, 13, comemora-se o Dia do Bombeiro Voluntário Gaúcho e uma das mais bem estruturadas corporações é a de Nova Petrópolis. Aqui, os Bombeiros Voluntários surgiram em 1991 e entre os fundadores estavam Paulo Roberto e Marlene Novak, hoje com 64 e 61 anos respectivamente. Trinta anos depois, quem integra o quadro são os filhos, Mathias Samuel e Camila Cristiane Novak, de 29 e 32 anos. Uma família inteira de Bombeiros Voluntários que presta serviços e salva vidas há três décadas. Tudo isso com muito orgulho.

O início

Em 1991, Frederico Guilherme Zorzan convidou um grupo de jipeiros para formar a primeira turma de Bombeiros Voluntários de Nova Petrópolis, surgindo então a Brigada de Busca e Salvamento Transportada. Entre eles estavam Paulo e Marlene, vestindo seus uniformes amarelos que guardam e usam até hoje, impecavelmente. “A partir daí, começaram os treinamentos. Recebemos nossa primeira viatura de presente da Alemanha, e íamos para o Rio Caí aprender a usar o equipamento hídrico e podermos combater os incêndios”, relembra Paulo.

Na época, as viaturas eram os próprios jipes. Em uma Nova Petrópolis muito mais rural do que é hoje, eles acessavam as áreas mais remotas do interior para ajudar quem estivesse precisando. “Fizemos também cursos de primeiros socorros, aperfeiçoamento de EPI’s. Fomos recebendo e melhorando nossos equipamentos e instrumentos e cada vez crescendo mais,” acrescenta o fundador.

Camila com os pais na época da fundação. Mathias não era nascidos (Créd.: Arquivo Pessoal)

Foto recriada, mas dessa vez com Mathias (Créd.: Dário Gonçalves)

Camila tinha apenas dois anos e Mathias nasceu em 1992. Por isso, Marlene dedicava seu tempo aos filhos. “Eu fazia parte dos jipeiros, fui fundadora, mas não no papel. Cuidava das crianças e sempre que o Paulo ia para uma ocorrência, eu ficava rezando para tudo dar certo”, conta ela.

Seguindo os passos dos pais

Embora mais novo, Mathias tornou-se Bombeiro Voluntário antes de Camila. Ele cresceu tendo o quartel de Nova Petrópolis como uma segunda casa e viu, ao longo dos anos, muitas homenagens a seu pai. Isso foi virando um incentivo para que ele seguisse os mesmos passos. “Eu sempre quis, via os valores e queria fazer parte, mas não tinha idade. Quando fiz 18 anos, quis fazer o curso, mas a rotina do meu trabalho não permitia”.

Em 2014, iniciou o curso mas outro sonho o fez trancar. Passou no concurso da Força Aérea Brasileira e teve que adiar a formação de Bombeiro. Pôde retomar em 2017 e, desde 2018, integra a corporação de Nova Petrópolis. “Sempre busquei essa oportunidade, mesmo quando não tinha idade, até que pude me tornar um Bombeiro Voluntário”.

Família Novak: Marlene, Mathias, Camila e Paulo (Créd.: Dário Gonçalves)

A novata

Camila é nutricionista e trabalhou por quatro anos no Hospital Nova Petrópolis. Sempre gostou da área da saúde e admirava a trajetória dos pais e do irmão. Conseguiu iniciar seu curso em setembro de 2021 e concluiu em junho deste ano. Agora faz o estágio que durará um ano para, então, tornar-se definitivamente uma Bombeira Voluntária. “Minha rotina não permitia que eu fizesse o curso. Exige muito estudo e dedicação, mas meus pais e meu irmão serviram de incentivo”, explica.

As dificuldades são tantas que muitos ficam pelo caminho. Na turma de Camila, dos 26 que iniciaram, 15 terminaram, o que já é considerado uma exceção. Para se ter uma ideia, a turma de Mathias começou com 25 alunos e terminou com apenas 8. “A gente escuta que é fácil e não é. Eu nunca pensei em desistir, mesmo com todas as dificuldades”, acrescenta ela.

Ocorrência marcante

Para Paulo, um dos momentos mais desafiadoras foi um incêndio em uma fábrica de móveis de madeira, Midreloe, há muitos anos. Os itens queimavam facilmente, fazendo com que as chamas se alastrassem. “Mesmo com todas as dificuldades, tivemos um trabalho muito importante e graças a nós, muita coisa foi salva”.

Mathias relembra um chamado de um senhor que estava em parada cardíaca. Era a sua primeira como condutor da ambulância, o que traz muitas responsabilidades pois cada segundo é fundamento. O coração do paciente chegou a parar, mas no caminho até o Hospital Nova Petrópolis, as técnicas de reanimação com choque o trouxeram de volta à vida. Infelizmente, a parada causou sequelas e a vítima precisou ficar sedada e não acordou mais. “Ele faleceu cerca de três dias depois. No entanto, conseguimos dar um tempo a mais, uma sobrevida a ele. Um tempo para que a família pudesse se despedir”, conta.

Outra aconteceu em um incêndio residencial no Vale Verde. Eram apenas ele e mais dois colegas e a ocorrência parecia tranquila. No entanto, o fogo se alastrou e se tornou de grandes proporções. Felizmente, Mathias e os outros bombeiros impediram que as chamas atingissem as casas vizinhas.

Juntos

Os pais fundaram e os filhos seguiram os passos (Créd.: Dário Gonçalves)

Na noite de 21 de março, Camila estava de serviço quando a corporação foi acionada para combater um incêndio numa casa em Linha Pirajá Baixa. Quando chegaram ao local, tudo estava perdido e não era possível fazer nada em relação ao imóvel. Porém, a dona da casa estava passando mal e era cardíaca. “Ela dizia sentir uma dor no coração e eu não sabia se era uma dor física ou emocional por conta do que havia acontecido. Consegui conversar e acalmar”, conta. Também é muito marcante para ela a primeira ocorrência que foi junto com Mathias. “Além de meu irmão, ele foi meu instrutor durante o curso e também pudemos sair em salvamento no mesmo chamado”.

Significado de ser um voluntário

Paulo carrega até hoje sua carteira de fundador e afirma que, mesmo aos 64 anos, nunca deixou de fazer parte dos Bombeiros Voluntários de Nova Petrópolis. “É algo de muito orgulho fazer parte desta corporação e ver o quanto evoluímos para nos tornarmos uma das maiores e melhores corporações do Estado. É uma satisfação fazer parte”, disse.

Mathias afirma que ninguém salva uma vida sozinho, é necessário ter espírito de equipe. “A gente não salva uma vida só quando chegamos ao local. A gente salva uma vida numa instrução, em casa lendo uma apostila, se preparando para uma prova de madrugada. Por isso é preciso ter muita dedicação, empenho e esforço”, conclui.

Camila destaca a necessidade de estarem preparados para tudo. “Estamos aqui para atender a qualquer ocorrência. Acho que todo mundo, se pudesse ter uma oportunidade na vida de prestar algum trabalho voluntário, deveria fazê-lo. A gratidão em ajudar o próximo é a maior recompensa e ela é imensurável”, finaliza.

(Créd.: Dário Gonçalves)

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