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Diário da Terceira Idade: “Enquanto eu viver e tiver disposição quero estar na lida”

20/01/2022 - 14h57min

Moradora do Vale Esquerdo ainda lida na roça

Com 86 anos, dona Maria capina, tira leite e cuida dos animais

Por Carla Fogaça

Dois Irmãos-  Nascida e criada na roça dona Maria Wendling, 86 anos, ainda acha disposição para fazer o que mais ama, que é cuidar dos animais, capina, tirar leite e plantar e cuidar da horta. Nasceu no Walachay e aos 15 anos de idade perdeu a mãe. Desde então, teve que assumir o papel de primogênita e cuidar dos seus 5 irmãos e da lida da casa.

Aos 19 anos, dona Maria casou-se com Aloysio e deixou a casa do pai, mas também deixou um grande legado. “Meus irmãos aprenderam a fazer bolacha, pães e todas as tarefas de casa. Era lindo de ver, porque não era algo comum da época os homens fazerem esse tipo de coisa”, declara.

Ela e o marido viviam da roça, trabalhavam duro para sustentar os quatro filhos que tiveram. Vieram morar em Dois Irmãos no fim da década de 50 e reformaram a casa onde dona Maria vive hoje com a filha Anna, no Vale Esquerdo. “Atrás foi construído o galpão onde fazemos chimia colonial para vender”.

De geração para geração

Dona Maria passou tudo sobre a roça para os seis filhos, desde pequenos eles ajudavam a tirar leite, pegavam os ovos, cuidavam da horta, entre outras lidas. Mas na vida adulta somente a filha Maria Lúcia continuou o legado. “Meus irmãos escolheram outra profissão para seguir, mas todos eles entendem de plantações, todos tem horta em casa. Eu por mais de 20 anos trabalhava meio turno no hospital e o outro na roça, nunca me desliguei”, conta Lúcia.

Hoje em dia, Lúcia e o esposo Carlos Miguel Feiten tomam conta de todo o serviço pesado.“Eu e meu esposo trabalhamos aqui todos os dias, faça chuva ou faça sol, a vida na roça não é fácil, mas estamos sempre aqui das 4 horas até as 18 horas”, ressalta Lúcia.

Maria com as filhas Anna e Lúcia e o genro Carlos

“Enquanto ela viver”

A roça é a paixão de dona Maria e Lúcia afirma que enquanto ela viver eles vão manter o que ela gosta. “O prazer dela é poder pegar a enxada para capina, ela cuida das galinhas e agora também dos pintos que temos, tira leite da vaca e cuida da horta. Mesmo com a coluna debilitada ela faz muitas coisas”, conta a Lúcia.

Mas para que dona Maria consiga fazer essas coisas, a filha Anna mora com ela e cuida dos afazeres de casa. “Eu cozinho, limpo a casa, cuido das roupas e assim ela pode fazer o que ela gosta sem se preocupar com a casa”, disse Anna.

Amor pelos animais

Produtos para todos os gostos

Lúcia e Carlos plantam de tudo e um pouco, é feijão, batata, batata-doce, cana-de-açúcar, milho, banana, maracujá doce, lichia, todos os tipos de verduras entre outros. “Ainda vendemos leite, saio às 5h para entregar leite”.

A família também é conhecida na região pela famosa chimia colonial. “Tudo feito com produtos nossos e 100% natural, sem agrotóxicos. E no inverno fazemos a bala puxa-puxa, que é ótima para levantar a imunidade, tem muito ferro”.

Segundo Lúcia, dona Maria aprendeu a receita da bala e fazia desde quando os filhos eram pequenos. “Na época a gente não tinha o moedor de cana e íamos de balde na vizinha moer. Fazíamos tudo a mão sem maquinários”.

Trabalhavam com junta de boi

Os serviços que há 12 anos são feitos com a ajuda de uma carreta agrícola, antes era realizado tudo com carroça de boi. “Era mais demorado o trabalho e sem contar que às vezes um animal se machucava aí não podíamos usar ele e de cinco em cinco anos tínhamos que trocá-los, então resolvemos vender e adquirir a carreta”.

Semente de milho

Outro diferencial da família é a confecção da semente do milho asteca. “Faz mais de 60 anos que a gente mesmo faz a semente do milho, ele chega a ficar de 3 a 4 metros de altura, milho doce. Achamos que com a seca iriamos perder, mas com a chuva que deu, a semente vingou”, afirma Lúcia.

“O trabalho não é fácil”

“Faça chuva ou faça sol a gente está na lida. Muitas vezes pensamos em desistir, porque não é fácil, mas o reconhecimento do nosso trabalho e o amor e dedicação nos dá forças para continuarmos”, destaca Lúcia.

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