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DIÁRIO RURAL: “A gente gosta que ela é sempre no Dia do Colono mesmo, o nosso dia”
Feriado do 25 de julho é um dos poucos dias que altera a rotina dos agricultores
Por: Gian Wagner – [email protected]
Nova Petrópolis – É no prédio centenário da igreja luterana, tombado pelo patrimônio histórico municipal desde 2014, que começa a celebração de um dos dias mais especiais para os descendentes dos imigrantes europeus que chegaram ao Brasil há quase 200 anos. O encontro religioso começa próximo às 9h e costuma seguir até às 11h, quando os fiéis se movem em pequena procissão até a sede da sociedade Alegria de Nove Colônias.
Secretário Alemão na igreja dando algumas notícias aos presentes (Créd. Gian Wagner)
Quando o povo começa a sair da igreja, a bandinha se anima e começa a tocar as músicas típicas gravadas na memória destes descendentes que comemoram todo o dia 25 de julho o Dia do Colono. A festa é preparada para proporcionar um dia de festas aos “colonos”, como ficaram conhecidos também os descendentes daqueles que realmente colonizaram estas terras. “Agora que a festa voltou, a gente tá de volta”, conta a produtora de leite, Adriana Dreschsler, 52 anos, que vive em Nove Colônias com o marido Jorge Schwaab (52) e os filhos Nicolas (13) e Daniel (33). “A gente gosta bastante que ela é sempre no dia do colono mesmo, né, o nosso dia. A gente tem que comemorar e nada melhor que comemorar vindo numa festa”, conta.
Os preparativos para o dia especial começam ainda mais cedo que os dias comuns. “A gente se adianta um pouquinho, se apressa um pouquinho mais”, conta Adriana. “Faz só o básico. Tira o leite, dá comida, dá água e vem para a festa. Hoje de noite, a gente volta para a lida, tirar o leite, tudo como sempre. Colono não tem folga, é de segunda a segunda, não tem férias, feriado, nada”, explica a produtora sobre a rotina da família.
A IMAGEM DO COLONO – O colono propriamente dito é aquele que, de fato, habita uma colônia. Na região de Nova Petrópolis, quem colonizou, majoritariamente, foram os alemães na colônia já estabelecida por lei da época do Brasil Império. Com história digna de um poema épico, os colonos desembarcaram para – literalmente – construir uma vida nova, da casa à plantação. Da família às comunidades. Tão logo surgiram as associações para cantar, jogar bolão, atirar, para socializar. “Colonos somos todos nós, e a palavra vem do colonizador, que eram primeiramente agricultores”, explica Ari Boelter, presidente do sindicato dos agricultores. “O colono ele tem sua importância no sentido de fazer a terra produzir, pois eles vieram da Europa porque lá era um momento de dificuldade – fugiram da fome. E de lá vieram em busca de uma nova vida e de sustendo para sua família. E essa produção da agricultura, de alimentos, se mantém. A palavra colono já teve um significado pejorativo, mas hoje o produtor está sendo mais valorizado. O agricultor produz comida e sem comida a gente não vive”, diz o presidente.
MUNICÍPIO DE COLONOS – Passava-se pouco mais de um ano que Nova Petrópolis havia se tornado um município. Dentre as primeiras leis criadas e aprovadas neste início de jornada independente, Lino Grings sancionou, em maio de 1956, a lei do Dia do Colono, instituindo o dia oficial em Nova Petrópolis. Anos depois a data passaria a mais: se tornaria feriado municipal que hoje é dia de uma tradicional festa de interior. A data é de tamanha importância para os colonos pois, neste dia, é comemorado o aniversário da chegada dos primeiros imigrantes que, em 2024, completará dois séculos.
Decoração com raiz de aipim e frutas mostra a essência do interior e o orgulho de ser colono (Créd. Gian Wagner)
Produção local
A festa é motivo de orgulho em Nove Colônias e a comunidade se prepara para a festa de diferentes maneiras. A Sociedade Alegria recebe adereços que remetem ao colono, geralmente enfeites feitos com peças do dia a dia e até mesmo aipim, laranja e bergamotas.
Em uma larga mesa, os produtores podem expor seus principais produtos. A mesa é recheada de milho, repolho, alface, entre outros produzidos em Nove Colônias. “É tudo do pessoal daqui”, conta o secretário de Agricultura, Jorge Lüdke.
O prefeito Jorge Darlei Wolf enaltece a produção e lembra que parte da produção da agricultura familiar é adquirida pela Prefeitura. “Todo alimento consumido nas nossas escolas, na nossa rede pública de ensino é adquirida dos nossos produtores, uma forma de valorizar essa classe que trabalha e se dedica tanto”, explica.
- Secterário Alemão e vereador Ricardo Staudt (Créd. Gian Wagner)
- Visitantes apreciam a produção local (Créd. Gian Wagner)
- Milho produzido em Nove Colônias (Créd. Gian Wagner)
- Repolho roxo produzido em Nove Colônias (Créd. Gian Wagner)
- Tempeiros (salsa), também de produtores locais (Créd. Gian Wagner)
- A exposição mostra o orgulho dos produtores (Créd. Gian Wagner)