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DIÁRIO RURAL: A solução para a estiagem é quase de graça e cai do céu

11/01/2023 - 09h30min

Atualizada em 11/01/2023 - 09h30min

Gelásio Miguel Schneider mostra o pluviômetro instalado no Pinhal Alto (Créd. Gian Wagner Baum)

Sistemas simples são capazes de armazenar a água da chuva e a agricultura nos períodos secos

Por: Gian Wagner Baum

Nova Petrópolis – As secas e estiagens são um dos principais inimigos de quem depende da água da chuva para sobreviver, o que se resume a praticamente toda a agricultura. Nos últimos quatro anos o Estado do Rio Grande do Sul teve municípios decretando situação de emergência. O número foi menor em 2019, com apenas três municípios. Os piores anos 2020, quando a situação afetou 102 cidades, e em 2021, atingindo 117 municípios gaúchos. No ano passado, apesar da queda, 28 cidades do Rio Grande do Sul decretaram situação de emergência entre outubro e dezembro por causa da falta de chuvas. “Apesar do menor número de decretos, é uma situação que segue crítica. Em 2022 os decretos começaram mais cedo do que no ano anterior. Pode ser até uma precaução dos municípios, mas nos mostra que a situação é preocupante, também porque as bacias estão com níveis hidrográficos abaixo” explica a meteorologista da Sala de Situação do Estado, Nicolle Reis. Nova Petrópolis não chegou a decretar emergência e o secretário da Agricultura, Jorge Lüdke ­– Alemão, acredita que apesar da situação também preocupar neste ano em Nova Petrópolis, a chuva prevista para o final de semana pode amenizar a situação.

Na semana passada, O Diário publicou uma notícia mostrando a queda da média de chuvas na região. Esses dados comparados com o registro feito precisamente pelo morador Gelásio Miguel Schneider (70), mostram que em Nova Petrópolis a média de chuvas foi maior que na região nos últimos anos. As anotações de Gelásio são registradas através de um equipamento instalado no Pinhal Alto, na própria propriedade. Sempre que chove, Gelásio aguarda parar e vai para o equipamento conferir quantos milímetros marcou. Aí, ele anota em um caderno. O hobby começou na grande chuva que atingiu a região em 1982 e desde lá segue registrando as chuvas. “Pode dar pra qualquer um conferir a tabela que tá tudo certinho”, afirma ele, com orgulho de fazer todas as contas de cabeça.

Gelásio mostra a tabela com as anotações mês a mês (Créditos: GIAN WAGNER BAUM)

QUANTA CHUVA! Cinco anos somados acumulariam 95 milhões de litros por hectare

Não basta apenas registrar a chuva. Gelásio quer também incentivar as pessoas para que façam alguma coisa com a água que cai do céu. Ele acredita que essa água poderia ser a solução para a agricultura que todos os anos sofre algum impacto causado pelas estiagens. Para isso, Gelásio calculou quanto de água caiu nos últimos anos, quanto acumularia se tivesse sido guardada e, principalmente, como poderia ser aplicada em harmonia com a natureza. Nos cinco anos, choveu um total de 9.559 milímetros, o que se converte diretamente em 9 metros e 55 centímetros de altura. O suficiente para podermos chamar de ‘dilúvio’.

EM NÚMEROS
5 Anos
9.559 milímetros de chuva
9,55 metros de altura
95.000.000 de litros (por hectare)
3.177 tanques de 30.000 litros (por hectare)

Gelásio reforça a quantidade extraordinária de água. “Se colocássemos toda essa água em caminhões-tanques de 30 mil litros, seriam necessários 3.188 caminhões”, explica. “Se colocasse isso enfileirado na BR-116, por exemplo, daria uma fila daqui (Pinhal Alto) a São Leopoldo”, afirma. E Gelásio está certo. A fila de 60 quilômetros pode ser medida por aplicativos eletrônicos e, considerando a entrada do Pinhal Alto como ponto de saída, concluiria o seu tamanho exatamente sobre a ponte da BR-116 que passa sobre o Rio do Sinos, em São Leopoldo.

Gelásio explica como a água poderia ser captada e reaproveitada pela comunidade (Créditos: GIAN WAGNER BAUM)

COMO APROVEITAR ESSA ÁGUA? – Algumas pessoas já conhecem e até mesmo fazem o uso de cisternas, mas é muito volumosa a maioria que poderia ter, mas ainda não conhece o sistema. Resumidamente se trata de um sistema que capta a água da chuva, tendo desempenho proporcional ao seu tamanho que, além de coletar, trabalho que pode ser feito através de calhas, por exemplo, também armazena a água para períodos secos. “Com essa média de chuva anual de 1.800 milímetros ao ano, um coletor de 50 metros quadrados seria suficiente para proporcionar os 250 litros de água consumidos por dia por um ser humano, conforme estipulado pela Organização Mundial da Saúde”, explica Gelásio. “Mesmo que não se use a água da chuva para beber, são infinitas as possibilidades para o uso geral”, explica Gelásio.

Ele também aproveitou para fazer a soma de alguns tamanhos de cisternas que poderiam auxiliar moradores e pequenos agricultores. Uma cisterna com cinco metros de diâmetro e três de altura, por exemplo, seria suficiente para captar 58,9 mil litros de água, com uma média de 19.635 litros por metro de altura. Com pouco diâmetro a mais, com sete metros e uma altura de três, é possível captar 115.452 litros de água aumentando 38 mil litros a cada metro a mais de altura. Espaços maiores, que precisam de água para a plantação e criação poderiam optar por cisterna com 12 metros de diâmetro captariam cerca de 113 mil litros de água por metro de altura. Para os cálculos, Gelásio considerou a média anual de chuva de 1.800 milímetros.

 

Registro de chuvas no Pinhal Alto*

                               2018       2019      2020      2021      2022

Janeiro                 116         141         126         215         206,5

Fevereiro            130         113         281         88           72,5

Março                  186         95           14           179         242

Abril                      27           209         36           21        140,5

Maio                     111         253         218         227,5       336

Junho                   176         84           265         196        279,5

Julho                     207         55           347         58,5       176

Agosto                 240         107         136         168,5     133

Setembro           173         97           218         189         108,5

Outubro              169         352         88           175,5     129,5

Novembro         153         228         88           92,5       55

Dezembro          130         110         152         38,5       131
Total:                    1.818     1.844     1.969     1.649     2.010

*Dados registrados pelo morador Gelásio Miguel Schneider e mostrado na tabela em milímetros

 

Prefeitura incentiva o uso de cisternas

A cada ano a chuva vêm diminuindo na região e as localidades do interior acabam sendo as mais afetadas. “No ano passado, nesse período, a seca estava mais forte. Hoje, graças a Deus, não estamos com uma situação tão ruim ainda”, avalia o secretário Jorge Lüdke. Alemão explica que o município começ

Secretário da Agricultura e Meio Ambiente, Jorge Lüdke – Alemão (Créd. GIAN WAGNER BAUM)

ou um trabalho de incentivar o uso de cisternas como uma alternativa para auxiliar em períodos secos.  “Uma das nossas prioridades foi começar um trabalho com reservatórios de água, maiores. De 300, 400 mil litros de água. Isso ajuda muito um produtor rural, principalmente no que tange água para animais”, explica o secretário Alemão. “Nestes dois anos fizemos em torno de 40 reservatórios, dez deles com geomembrana. Quem quiser colocar a geomembrana consegue até R$ 5 mil de auxílio e em todas nós entramos com o auxílio de máquina. Essa é nossa maneira de nos prevenir com essa questão da água”, diz o secretário.

 

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