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DIÁRIO RURAL: Produção rural desde a matéria prima até o produto final
Agroindústrias vão além e fazem da matéria prima produtos com valor agregado
Por: GIAN WAGNER
Nova Petrópolis – O setor primário é um dos principais pilares da economia e a produção rural, principalmente na agroindústria, movimenta toda região. Muitos produtores vão além do primeiro produto produzido nas propriedades e fazem, com este, um novo produto de valor agregado. Estes produtos na maioria das vezes são alimentares e, inclusive, servem base da culinária típica do interior gaúcho. Em função desta gastronomia tão típica destas localidades, inclusive, nasceu o Festival Sabores da Colônia em Nova Petrópolis há alguns anos.
O festival dá destaque a essas produções e um palco para o comércio dos produtos da culinária típica alemã. “Dá o destaque no sentido de ressaltar o produtor familiar na produção de alimentos e destaque para a qualidade do que ele produz. No Sabores da Colônia são produtos produzidos na propriedade desde a matéria prima até o produto final. Claro, as vezes nem todos os insumos, mas grande parte da matéria prima é local”, avalia o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Petrópolis, Ari Boelter, entidade promotora do evento. “Tem importância na geração de renda. Transformar a matéria prima ao produto final consegue agregar valor ao produto e consequentemente melhorar a qualidade de vida do produtor na em geral”, explica.
“O jovem também tem um incentivo bem maior de permanecer na agricultura e ficar tocando a propriedade” Ari Boelter, presidente do Sind. dos Trab. Rurais de Nova Petrópolis
Do leite, o queijo
Em Nove Colônias, o leite produzido pela família de Marcos Seefeld vira queijos premiados da Queijaria Tradição. As vacas são do rebanho próprio e a sogra de Marcos e o marido dela, além do cunhado do produtor, cuidam da produção leiteira. Marcos e a esposa, Daiani Kayser, 31 anos, tocam a queijaria. “Hoje, por exemplo, ele está na queijaria e eu aqui [no estande do Festival]. A gente reveza”, conta ela que há meio ano se dedica integralmente ao negócio familiar. “Eu trabalhava fora, mas há meio ano estou só na queijaria. Tem bastante demanda”, relata a produtora da queijaria que comemorou três anos em maio. Hoje, a produção mínima é de 700 quilos por mês.
Para o Festival, os produtores vieram preparados. Além do tradicional queijo colonial, que é o carro chefe da queijaria, estão a venda os queijos temperados com alho, chimichurri e orégano e o queijo maturado Imperial, que é uma receita da queijaria feita com leite cru e maturado por 60 dias, se tornando sem lactose ao natural. “A lactose do queijo degrada por ser feito com leite cru e pelo tempo de maturação”, explica Daiani. O queijo Montanhês é um tipo de parmesão, mais seco pela maturação de cem dias e também está à venda na feira. O destaque da queijaria vai para o queijo Golden, um queijo holandês bastante amanteigado que está sendo disponibilizado pela primeira vez ao público. “O pessoal está gostando muito”, conta Daiani. Manteiga e doce de leite são outros derivados disponíveis no estande da Tradição.
Daiani mostra as variedades de queijos produzidos em Nova Colônias (Créditos: Gian Cristiano Wagner)
Embutidos do interior
Em São Jacó, os irmãos Darlan e Linton Papke trabalham juntos em uma agroindústria familiar que começou há quase dois anos. Darlan, o irmão mais velho, trabalhou desde novo nos embutidos em diferentes empresas, aprendendo a trabalhar no ramo. O irmão mais novo, Linton, conta que Darlan começou fazer em casa e logo os vizinhos começaram a pedir mais. Depois de um tempo fazendo de forma artesanal, ainda sem marca, resolveu abrir a firma Embutidos São Jacó. “É um produto bem colonial”, conta Linton que também ajuda a atender no Festival. Os porcos são comprados de um amigo que cria. Eles vão para o abatedouro que devolve a carcaça, que é desossada e produzido o produto final: linguiça, salame ou salsichão. “A gente faz o produto final com o mínimo de conservante, alho natural, tudo natural, sal simples. É bem diferente dos outros, nada de tempero pronto”, explica Linton. Por semana, cerca de 40 porcos são abatidos e transformados em três mil quilos de embutidos. “Limitou por conta do espaço, mas queremos ampliar para o ano que vem”, conta o irmão mais novo.
Linton é irmão de Darlan e atende no estande da Embutidos São Jacó (Créditos: Gian Cristiano Wagner)
Verdadeiros sabores da colônia
A novidade deste ano é a fornada de pães e cucas que acontecem durante o festival. Uma das equipes responsáveis por “pilotar” os fornos é da agroindústria familiar Sabores da Mutter, de Linha Araripe. A empresa que tem quatro anos sempre participa da Feira do Produtor da Rua Coberta e chegou a participar de uma edição do Sabores da Colônia, mas essa é a primeira grande feira.
A receita vem de casa, é claro, como o próprio nome da marca diz. “Receitas que a gente aprende com a mãe, com a vó, inclusive o nome vem a este encontro”, conta a produtora Carla Pilz Pinnow, de 47 anos, que toca a empresa com o marido, Alexandre Ehrenbrink, 44 anos, uma vizinha que trabalha com eles e, esporadicamente, a ajuda das filhas do casal.
A produção diária do evento, em dia de semana, ultrapassa os 200 variados produtos entre cucas de todos os tipos de fruta, pães e bolachas que seguem disponíveis direto dos fornos do Sabores da Colônia até domingo, 10, último dia do festival.
Carla e a colega trabalhando na produção de cucas (Créditos: Gian Cristiano Wagner)