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Em Ivoti: Conheça a história de um pai que se dedica sozinho aos 4 filhos

09/08/2019 - 12h33min

Ivoti – O despertador toca. São 5 horas da manhã. Ele levanta, sem pensar muito. É preciso organizar as coisas. Sozinho para fazer o necessário. Prepara o café e separa as roupas. Logo os outros vão acordar e nenhum deles pode se atrasar. Um, dois, três, quatro. Filhos arrumados. Todos prontos para a escola. Ele, o pai, faz uma reunião para rezar. A proteção e motivação vem da fé. Os cinco saem de casa. 7 horas. Mais um dia os espera.

Esse é o relato, segundo o chefe da casa, de como são as primeiras horas da rotina da Família Ramos. Gabriel, de 28 anos, é o pai. Vitor, 8, é o mais velho. Logo vem os gêmeos Guilherme e Antôni, de 6, e por último vem o Gustavo, com 4. Eles moram em uma casa alugada. Simples, com dois quartos, no bairro São José. “Em outubro do ano passado minha esposa faleceu. Eu rezo todos os dias para ter forças, pois cuido dos quatro e da casa”, conta Gabriel. Ele perdeu a companheira, de um relacionamento de 9 anos, para a tuberculose.

No meio das dificuldades, Gabriel pensa na frente. E para frente. “Minha família é linda! Somos fruto do amor e da presença de Deus. E é assim que a nossa vida continua”, diz com um sorriso no rosto e os quatro pequenos em volta. Grudados. Atentos ao que o pai fala ou faz.

Os cinco vivem juntos em um pequeno chalé no bairro São José. (Foto: Rafael Petry)

O pai

No final do dia, os cinco ficam juntos em casa. Banho, roupa limpa e jantar. Tudo pelos cuidados do pai. “Tem horário para tudo. Para comer, para se divertir. Às vezes a gente se passa e vai até tarde jogando bola dentro de casa.” Nesse momento o ambiente muda. Tiram as cadeiras. Ele desmonta a mesa. A estante da TV é colocada para o lado. Pronto: a sala vira um grande estádio de futebol. Separam os times. Chutes em busca do gol. Comemorações, risadas e abraços. A vitória acaba sendo de todos. “Tem que se divertir junto com eles também. Eu quero que eles levem uma lembrança boa dessa fase”, comenta.

A sala vira espaço para brincadeira, como um campo de futebol. (Foto: Rafael Petry)

A correria acontece na hora do almoço. Cozinha a carne. Esquenta o feijão. Lembra que o mais velho tem que ir para o banho. Os gêmeos podem arrumar a mesa. O mais novo precisa tomar o remédio. Cuidado para não queimar a comida. Um demora demais no banho. O outro não lembra onde ficam os copos. “Comida já tá pronta?”, questiona o mais novo, Gustavo. Tudo muito rápido. Logo mais um precisa ir para a aula. Mesa pronta. Todos sentados. Vitor faz a oração. Todos querem comer, todos comem juntos.

Ainda tem a parte do tema. Apesar de não ter o Ensino Fundamental completo, Gabriel insiste que eles cumpram com as tarefas escolares. Ajuda como pode. “Hoje eles vão ter que fazer o tema sobre o Dia dos Pais. Vamos ver o que vai sair, mas vou ficar do lado para acompanhar enquanto eles fazem”, relata.

Durante a tarde, os gêmeos ganham ajuda com os temas escolares. (Foto: Rafael Petry)

No final, o pai tenta ser exemplo. “Eu tento ter foco, porque eles precisam disso. Assim eles também podem ter objetivos. Eles têm que saber entender o que é o certo e o melhor”.

Trabalho

Por causa dos horários dos filhos nas escolas, Gabriel conta que tem dificuldades em encontrar um emprego fixo. É necessário cuidar dos serviços da casa e ficar junto deles. “Não tenho como trabalhar com carteira assinada, só se pagasse alguém para cuidar deles, mas no fim o dinheiro pesa. Talvez no ano que vem pode melhorar, por causa dos turnos deles nas escolas”. A renda vem de pequenos trabalhos. “Eu sei lidar com mecânica, jardinagem e também sou pedreiro. Me viro como posso, faz 5 meses que não sei o que é ter mais de mil reais em casa”, relata.

Enquanto uns voltam da escola e outros se arrumam para sair, Gabriel prepara o almoço. (Foto: Rafael Petry)

Além disso, a ajuda também vem de outros. Na última semana, uma televisão e uma geladeira foram doados. As indicações para trabalhos também ocorrem. “Me indicam para alguns bicos, o que é bom. E tem o coração bom de outras pessoas e a igreja que também nos apoia”.

Dia dos pais

No domingo, dia 11, o Dia dos Pais é comemorado em todo o País. Neste ano, será a primeira vez que Gabriel comemora a data sozinho com os filhos. Quando questionado sobre isso, a resposta vem com brilho nos olhos. “Meu sentimento? Quero que eles sejam felizes. Um pai, quando vê a felicidade no olho de uma criança e um sorriso profundo não tem problema que supere essa recompensa. Eles são minhas bênçãos!”, comenta emocionado.

Gabriel cuida sozinho dos filhos desde outubro do ano passado. (Foto: Rafael Petry)

Ainda tímidos, os comentários sobre o pai demoram para sair. “O pai faz comida boa! Ele joga futebol com a gente”, conta um dos gêmeos, Antoni. Vitor completa. “O pai é quem a gente ama”.

Gabriel tem o sonho de ser engenheiro, mesmo que atualmente tenha os estudos até o quinto ano. Contudo, agora toda sua dedicação é para a família. “Eu prefiro focar neles. No ensino e nos cuidados. Depois eu me viro. No futuro vai ser bom, com amor e todos sempre juntos”.

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