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Estância Velha: vítima de racismo desabafa: “não podemos nos calar”
Estância Velha – O que poderia ser apenas mais um caso anônimo, já que se trata de um jogador da Série B do Brasileirão, atingiu em cheio a cidade de Estância Velha e sua comunidade. Eduardo Bauermann, 23 anos, estanciense, filho e neto de estancienses, foi vítima do ato covarde, em uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B, onde o seu time Paraná Clube enfrentava o Atlético Goianiense. Os gestos e gritos de “macaco” proferidos por um cidadão exaltado, bateram fundo na dignidade do jovem Eduardo. Logo após a partida, uma ocorrência policial foi registrada e o suspeito preso. O agressor foi expulso da torcida organizada ao qual fazia parte, e os dois clubes largaram notas oficiais repudiando o fato. Mas, seria isso suficiente para corrigir injustiças, e aliviar a dor do jovem Eduardo e sua família? A reportagem do Diário foi a fundo na história, conversou com Eduardo e com familiares, para saber a real dimensão do lamentável episódio, que com certeza jamais será esquecido pela sua família e seus amigos.
EDUARDO DESABAFA
“Não sei o que se passa na cabeça destas pessoas”, este foi o desabafo exclusivo para reportagem do Jornal O Diário. Eduardo Gabriel dos Santos Bauermann, é zagueiro, nasceu em 1996, em Estância Velha, filho de Juliana e José Eduardo. Toda cidade lembra bem do jovem conduzido pela mãe, por toda parte, pedindo ajuda para custear as despesas de transporte do garotinho, que tinha o sonho de ser jogador profissional, e também muito talento. Começou a carreira nas categorias de base do SC Internacional, onde ganhou visibilidade, chegando a Seleção Brasileira sub-17 e sub-20. Atuou ainda pelo Náutico, Figueirense, e no próprio Atlético Goianiense, em 2017. Atualmente defende as cores do Paraná Clube. Eduardo é casado com Ingrid Van Gorkon, com quem tem um filho, Juan. Disse à nossa reportagem, que esta foi a primeira vez que passou por isso, e logo após a partida tomou a decisão, tendo o apoio dos companheiros, “principalmente o Fabrício que estava do lado e viu a cena. Também tive apoio do diretor executivo do clube, Alex Brasil, que ajudou a registrar a ocorrência e estava presente quando o agressor admitiu que fez o gesto de macaco”. Conta ele.
Eduardo disse que tomou a decisão por que fica triste e preocupado, pois, o fato pode acontecer com qualquer um, em outro esporte ou emprego. “É difícil entender o que passa na cabeça de uma pessoa que pensa dessa forma, qual a necessidade de ofender uma pessoa da maneira que ele ofendeu? Me entristece em pensar, que o meu filho pode passar por isso algum dia. Eu preciso ensinar ele a não se calar diante das injustiças. O que mais me conforta é saber que a justiça divina não falha, uma hora ou outra ele vai pagar como realmente deve pagar”.
FAMILIARES REAGEM
A irmã de Eduardo, Monaliza, que reside em Estância Velha, conversou com ele no final de semana. “Falamos sobre o ocorrido, lamentamos muito por em pleno século 21 ainda existir racismo. Meu irmão ficou muito triste, nunca tínhamos vivido isso antes, já ficávamos triste em ver acontecer com os outros, mas sentir na pele é muito diferente, é um sentimento de tristeza e raiva misturados. Nós só queremos que a justiça seja feita, por que isso tem que parar, não podemos nos calar. Li outro dia uma frase que serve de reflexão: Deus criou pessoas e não raças”. Juliana dos Santos, a mãe de Eduardo está indignada, quis dar visibilidade ao caso, a fim de que isso não aconteça com outras pessoas, mas Eduardo disse que as medidas cabíveis já foram tomadas. “Só tenho a agradecer a todas as manifestações de carinho que estamos recebendo de amigos e até pessoas estranhas”, disse Juliana.