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FINAL FELIZ: menina abandonada há 10 anos em Lindolfo Collor vive com a família

21/10/2022 - 09h53min

Atualizada em 21/10/2022 - 09h54min

Aline hoje fala da retomada da sua história
Por Cândido Nascimento

Lindolfo Collor – Essa história tinha todos os indícios para terminar em uma tragédia, mas, graças a Deus, terminou com final feliz. O que era uma situação de abandono e rejeição, que poderia ser a causa a morte de um bebê recém-nascido, resultou no clamor a Deus e arrependimento. A criança voltou para os braços da mãe, que hoje é casada, tem uma família completa, feliz e, atualmente, reside em Nova Petrópolis.
Em 3 de julho de 2012, na Rua Danno Benno Ruckert, bairro Três Passos, em Lindolfo Collor, o bebê foi encontrado nos fundos de uma casa, por volta das 18h30 de uma terça-feira. A criança recebeu, na época, o nome de Maria Vitória dado pela equipe médica e pela irmã Jacinta, do Hospital São José de Ivoti. Hoje, com a mãe tendo a guarda definitiva da menina, o nome permaneceu.

OUVIU O CHORO

O vizinho Elisiano Souza foi quem ouviu um choro de criança e chamou a Brigada Militar para que averiguasse os fatos. Ele acompanhou os policiais até encontrarem o bebê no final da tarde, que estava sem roupinhas, coberto com sacos de carvão e com o corpinho roxo de frio, quase em estado de hipotermia.
A criança reagiu quando foi levada para a viatura pelos policiais Paulo e Brum, que ligaram o ar condicionado e a sirene do veículo, e ela acordou em prantos. A médica que atendeu a criança no hospital foi Ione Maria Taufer. A menina tinha entre 24 e 48 horas de vida e pesava 2 quilos e 200 gramas, medindo 44cm. Ela chegou ao hospital na viatura, enrolada na jaqueta de um dos policiais.
A criança foi aquecida no hospital e teve um banho, já que estava com o corpo gelado, mas sem quadro de desnutrição. Depois já demonstrou ser bastante ativa. A pequena permaneceu no hospital até a decisão judicial. A mãe também teve um atendimento hospitalar.

 

Mãe mostrou arrependimento

Segundo a Polícia Civil de Ivoti, a mãe, Aline Tavares, confessou o abandono por volta das 16 horas de quarta-feira do dia seguinte, 4 de julho, e se mostrou arrependida do ato. O delegado de polícia afirmou, na época, que a mulher de 27 anos, natural de São Paulo, morava num porão na Vila Três Passos há um ano.
Aline já possuía um filho de dois anos que vivia com ela. Veio morar em Lindolfo Collor por intermédio de uma tia e trabalhava no curtume do município. Teria conhecido um rapaz num baile e engravidado. Magra e frágil, a mulher conta que escondeu a gravidez dos familiares. Na segunda-feira à noite, dia 2 de julho de 2012, teve a criança em casa, sozinha. Cortou o cordão umbilical, higienizou o bebê, cobriu com os papéis e a deixou na varanda da casa, na parte de cima, depois foi trabalhar.
A mulher informou que não tinha leite para amamentar, que estava desesperada e arrependida, e que sua situação financeira foi determinante para o ato. A justiça determinou que ela teria acompanhamento dos serviços de Saúde do município.

“Colocamos o bebê dentro da jaqueta”

O soldado Brum foi o motorista da viatura que se deslocou até o bairro Três Passos para atender a ocorrência, junto com o colega Paulo, que colocou a criança dentro da jaqueta para aquecer seu corpo.
Ele destaca que teve um sentimento de pavor, preocupação e medo. “Isso porque a criança estava sem roupa, com o corpinho roxo e desacordada, e até achamos que ela tinha morrido”, conta inicialmente. Ela estava coberta apenas por papéis de sacos de carvão. Eles foram para a viatura e ligaram o ar condicionado. Assim que acionaram a sirene, a bebê chorou.
Os policiais levaram a menina para o posto de saúde, mas como não tinha uma ambulância disponível, resolveram se deslocar ao hospital de Ivoti. “Era uma criança, por isso o atendimento era de extrema urgência. Ninguém em sã consciência deixaria uma recém-nascida sem roupa àquela hora da noite, no mês de julho, pois era frio”, relata o policial, que hoje é pai de um menino de seis anos.

Morador chamou a Brigada para resgate

A noite do dia 3 de julho também ficou marcada na memória
de Elisiano de Souza, 32 anos, morador da Vila Três Passos e que encontrou Maria Vitória na varanda da casa vizinha, nos fundos de onde mora, enrolada em um saco de carvão.
Ele trabalhou normalmente durante a manhã, chegou em casa e foi dormir. Mais tarde escutou um murmúrio, mas não identificou de onde vinha. Por volta das 18h30 o choro ficou alto e claro, então foi encontrada a criança.
“Estávamos desesperados. Ligamos duas vezes para eles, tínhamos pressa. A criança tremia. Coloquei meu celular no rosto dela, para enxergar melhor, e ela fechou os olhinhos. Ali tive certeza de que ela estava bem”, falou o morador.

 

“Hoje sou feliz e tenho uma família completa”

Em entrevista exclusiva ao Diário nesta semana, 10 anos e três meses depois do ocorrido, Aline Tavares, conta que atualmente vive uma nova vida, após fazer um propósito com Deus por sugestão da tia, ir para a igreja e conhecer o seu esposo nas redes sociais.
Aline conta que foi “adotada” por dois casais muito queridos que a acompanharam assim que ela deu sequência à sua vida, já com a filha sob a sua guarda. “Eles são parte da minha vida, da minha história e até hoje me ajudam”, comenta a dona de casa, que tem o filho Adriel, de 13 anos, Maria Vitória 10, e o mais novo, de sete meses.
Ela saiu do curtume em 2015 e depois foi trabalhar com faxinas. Assim que casou, mudou-se para Nova Petrópolis. A filha conhece o pai biológico, mas ama o padrasto como se fosse seu pai de verdade, finaliza Aline, que agradece a todos que ajudaram a retomar a sua vida.

Crédito da foto : Sabrina Schuster

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