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Grupo de refugiados venezuelanos busca recomeçar a vida em Ivoti

24/06/2019 - 16h48min

Atualizada em 24/06/2019 - 17h23min

Ivoti – Diversos animais de pelúcia estão espalhados em cima da cama. Sixto Flores, 43 anos, entra no quarto, deita na cama, pega um deles e abraça. “Cada um é para lembrar de um filho. Antes de dormir, faço assim”, diz o venezuelano natural do estado de Miranda, pai de nove.

Ele e mais um grupo de compatriotas estão desde 2018 no município em busca de uma oportunidade que não tiveram no seu país de origem. Os caminhos deles, que não se conheciam antes de chegar aqui, foram se cruzar em uma casa simples no bairro Palmares, em Ivoti, onde eles compartilham suas experiências e tentam reconstruir a vida juntos, longe de suas famílias.

Também moram ali Hector Pitre, 59 anos, Alberto Ordaz, 48, Julio Borges, 44, e mais dois que estavam ausentes enquanto a reportagem do Diário esteve no local. Todos vieram ao Rio Grande do Sul, mais precisamente ao município de Esteio, por meio do projeto de interiorização desenvolvido pela ONU e pelo governo federal.

Schuler, Tatiana (ambos de pé), Flores (com a cachorrinha Lilly), Borges, Ordaz e Pitre (Créditos: Felipe Faleiro)

As famílias ficaram em Boa Vista, capital de Roraima, distante 5.200 km daqui. Antes, contam que cruzaram a fronteira por Pacaraima, no estado de Roraima, local de recentes tensões. Já aqui no Estado, eles foram treinados e contratados pelo curtume Minuano, de Lindolfo Collor. O aluguel da casa onde vivem é pago pela empresa, além, é claro, do salário mensal.

A residência tem três quartos, todos com beliches, banheiro, cozinha, sala e lavanderia. Vez ou outra, uma pequena companheira se junta ao grupo. A cadelinha Lilly pertence a uma família vizinha, embora, por afeição, visite com regularidade a residência dos venezuelanos, onde é recebida com sorrisos.

Dificuldades

Para se adaptar a nova realidade de refugiados, foi preciso enfrentar dificuldades. “Nos disseram que aqui o clima era muito frio, mas que havia muito emprego para trabalhar”, conta Pitre. O idioma foi uma barreira inicial, mas ao longo do tempo a convivência com a população brasileira tornou o português compreensível. Ainda assim, eles recebem doações de alimentos, por exemplo.

Uma rede de mobilização foi criada para ajudar o grupo que, se antes praticamente não tinha o que vestir, hoje reúne para doar o excedente. “Mandamos para nossas famílias o que não conseguimos usar aqui”, afirma Pitre. Eles fazem questão também de encaminhar dinheiro aos parentes, os quais conversam diariamente, mas que estão necessitados em Roraima.

Pitre mostra a cama onde dorme, na residência (Créditos: Felipe Faleiro)

Mobilização

Entre os que mais mobilizaram a comunidade estão o casal Adroaldo Schuler e Tatiana Schneider. Moradores do bairro, eles se sensibilizaram ao saber das dificuldades do grupo. “Soube da história pois fui contatada por uma colega de empresa deles, que queria saber como se poderia comprar roupas do brechó da Apae”, diz Tatiana, que trabalha na entidade.

Amigos do casal e colaboradores se reuniram então para ajudar. No sábado, 22, Adroaldo e Tatiana levaram roupas e acessórios de frio, como blusas, cachecóis e cobertores, e em troca ganharam gratidão. “Vemos uma caridade humana e um acolhimento por parte dos brasileiros que nos enche de emoção. Agradecemos muito esta ajuda”, comenta. A ideia do casal é seguir com os auxílios.

Todos eles tinham empregos antes de sair da Venezuela. Sixto era motorista de ônibus, Hector era soldador na empresa petrolífera estatal PDVSA, Alberto era pedreiro e Julio trabalhava com perfuração de petróleo, também na PDVSA.

Alberto é o “cozinheiro” do grupo (Créditos: Felipe Faleiro)

“Voltar lá é forte para nós”, diz um dos refugiados

Mas se as aflições iniciais passaram, a saudade da família segue batendo forte. “Eu penso em trazer eles, mas é um pouco complicado. O salário não dá para a passagem, alugar uma casa. Penso que é melhor mandar dinheiro, pois tenho uma filha que estuda em uma universidade”, diz Pitre.

Sixto também revela o que pensa sobre a situação atual de seus familiares, e mareja os olhos enquanto fala. Mostra a foto em seu aparelho celular: seis crianças sorrindo para a câmera. “Ela é muito grande, então para trazer para cá requer muito dinheiro. É melhor que fiquem por Boa Vista, porque é duro. A situação é dura. O que se vive na Venezuela não é nada o que dizem os meios de comunicação, que estão controlados pelo governo”, afirma.

“Quando eu cozinhava, o cheiro da comida saía para fora. O filho do vizinho vinha com um prato para pedir comida. Aquilo era algo que partia meu coração. Voltar lá é forte para nós. Tem que viver lá para saber”, aponta ele.

Os animais de pelúcia descritos por Flores: cada um representa um filho (Créditos: Felipe Faleiro)

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