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Guicela, Ursula, Heda e Guerda: quatro irmãs de 88, 86 e 85 anos celebram a vida com carinho, respeito, amor e gratidão em Picada Café
Picada Café – Na tarde de quinta-feira, 12, o sol brilhando no horizonte, e o que você fazia? Com certeza algum trabalho, passatempo, descansando, enfim. Muita coisa poderia ser feito. Mas numa casa as margens da BR-116, em Picada Café, o silêncio reinava. Era a hora sagrada onde as irmãs Guicela Ritter Mattiello, 88 anos, Ursula Ritter Spier, 86 anos, e as gêmeas Heda Ritter Haas e Guerda Ritter Gehrke, ambas de 85 anos, faziam aquilo que as deixa feliz e de bem com a vida. O encontro nas tardes de quintas-feiras é um momento sagrado, para jogar cartas (canastra), bater aquele papo, contar histórias, falar da família, relembrar o passado, e claro, tudo depois regado a aquele chá da tarde mais que especial.
“A MÃE NÃO SABIA QUE ERAM GÊMEAS”
As irmãs Guicela, Ursula, Heda e Guerda são filhas do casal Fridolino e Wilma Ritter, casal este que antes da década de 40 residia na cidade de Linha Nova (então pertencente a Feliz). As quatro irmãs nasceram em Linha Nova, cidade vizinha de Picada Café. “Foram todos nascimentos em casa, com parteiras. Naquela época não havia hospital e nem médico”, lembra dona Guerda. Ela é a mais nova das quatro e conta que a mãe Wilma não sabia que eram gêmeos. “Naquela época o farmacêutico ajudava e primeiro nasceu minha irmã Heda. Cerca de 30min depois o farmacêutico disse que estava vindo mais uma”, lembrou Guerda, através da história contada em vida pela mãe.
PANDEMIA UNIU AINDA MAIS AS IRMÃS
Guicela, Ursula, Heda e Guerda residem próximas umas das outras. Isso facilita para que possam se ver e quando possível, se unirem para mais uma tarde de conversas e carteados. As irmãs já jogavam cartas na Sociedade Aliança, mas, a pandemia impossibilitou esses encontros. Dona Heda sabe bem o que a pandemia trouxe de preocupação e até um certo afastamento da família. “Me lembro que meu filho e meu neto vinham me visitar e ficavam no portão, sem poder dar um abraço. Era triste para mim, mas, ao mesmo tempo, a gente sabia que era para nossa segurança”, lembrou.
DA INFÂNCIA: MUITAS LEMBRANÇAS
As irmãs nunca se separaram. Pelo contrário, sempre residiram próximo, o que fez com que se vissem seguidamente e aumentasse ainda mais esse amor de irmãs. Dona Guicela foi a primeira a nascer e depois viu as irmãs chegarem. Ela conta que as irmãs nunca deram trabalho aos pais. “Sempre fomos muito queridas. A gente ajudava naquilo que podíamos fazer”, recorda. Da mudança de Linha Nova para Picada Café, isso na década de 40, dona Guicela ainda se lembra do seu gato. “Ele caiu da mudança, na região de Linha Olinda, e nunca mais achamos”, disse. Das brincadeiras do passado, quem não esquece é dona Guerda. “Nós gostávamos de brincar no sótão da casa”, frisou.
Foram 32 anos trabalhando juntas no Curtume Ritter
As irmãs Guicela, Ursula, Heda e Guerda são filhas do casal de empresários Fridolino e Wilma Ritter. Na década de 40, mais precisamente em 01/08/1944, o casal fundou o Curtume Fridolino Ritter, empresa que segue até hoje com seu trabalho, as margens da BR-116. Quiseram seu Fridolino e dona Wilma que as irmãs fossem trabalhar na empresa familiar e ali, durante 32 anos, elas atuaram lado a lado no escritório.
GUERDA TEVE OUTRO NOME DURANTE 13 ANOS
A história das irmãs de 85, 86 e 88 anos é cheia de fatos marcantes. E um deles se refere ao nome de Guerda, a mais nova da turma. Durante 13 anos ela usou o nome de Gunda. Isso porque ocorreu um erro no momento do registro e esse só foi descoberto quando a menina tinha 13 anos. As irmãs não sabem ao certo porque foi registrado de Guerda. “Nós a chamávamos de Gunda na infância. O erro só foi descoberto quando fomos ao colegial. Foi difícil para nós começar a chamar ela de Guerda”, lembrou dona Ursula. Dona Heda brinca e afirma que o erro foi do cartório da época. “Sempre se dizia que naquela época o homem do cartório gostava de tomar umas”, brincou. Apesar do erro, desde a descoberta a então Gunda passou a se chamar em definitivo de Guerda.
Jogo vale “2 pila” para a caixinha
O silêncio reina quando as irmãs de 88, 86 e 85 anos jogam canastra. As duplas são escolhidas sempre por sorteio. “Cada uma tira uma carta. As duas com cartas mais baixas jogam contra as com as cartas mais altas”, lembrou Lauta Matiello, filha de dona Guicela. E o jogo delas é sério e vale “2 pila” (R$ 2,00) por cabeça. Mas o valor arrecadado não é para levar para casa. Esse é depositado numa caixinha que, após um certo valor arrecadado, elas se juntam e saem para almoçar em algum restaurante da região. “Aqui todos ganham. Se perder no jogo, sabe que ganha no almoço”, descreveu dona Ursula.
A SAUDADE DA CUCA DA MÃE WILMA
Conversar com as irmãs é regressar na vida, lembrar de momentos marcantes. E, as quatro sentem muita saudade da mãe Wilma. A mãe, a exemplo delas, também residiu nas proximidades e semanalmente reunia as filhas para uma tarde de café com cucas fresquinhas. Dona Ursula disse que todas as cucas eram saborosas. “A mãe fez cuca até os 82 anos de idade”, detalhou. Mas dona Guicela afirma que a melhor era a de açucar. “Eu gostava mais”, afirma. Indiferente do sabor, dona Heda tinha um desejo um pouco diferente. “Eu gostava mesmo era de afundar a cuca no café com leite. Isso era uma delícia”, declarou dona Heda.
Fundadoras da OASE e a amiga Lúcia Utzig
As irmãs, ao longo da vida, sempre foram efetivas na sociedade. Sendo membras da Sociedade Aliança, sendo em outras ações. Guicela, Ursula, Heda e Guerda foram fundadoras da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) da Igreja Evangélica São João, além de outras mulheres da comunidade.
AMIGA LÚCIA UTZIG
Outra pessoa que elas não esquecem é a amiga Lúcia Utzig. Isso porque nas segundas-feiras elas possuem outro grupo de carteado. Deste, apenas dona Ursula não participa. Seu lugar é ocupado pela amiga Lúcia que também reside nas proximidades. Mais um grupo de irmãs e amigas que se reúne para celebrar a amizade e a vida.