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Jumentos estão ameaçados de extinção no Brasil

02/07/2025 - 06h17min

A busca crescente da China por uma gelatina de origem animal chamada ejiao está colocando os jumentos brasileiros em risco de extinção. Tradicionalmente utilizados por agricultores e historicamente ligados ao cotidiano rural, esses animais estão sendo abatidos em larga escala para atender a demanda do mercado chinês.

A gelatina é produzida a partir da pele dos jumentos e é considerada um produto medicinal na cultura chinesa. Entre 2016 e 2021, a procura mundial por ejiao cresceu 160%, segundo a organização internacional The Donkey Sanctuary, dedicada à proteção desses animais. Apenas em 2021, o abate global para esse fim chegou a 5,6 milhões de jumentos, e a previsão é que o número alcance 6,8 milhões em 2027.

No Brasil, o cenário é preocupante. Dados da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos apontam que o país perdeu 94% de seu rebanho de asininos entre 1996 e 2025. Além disso, um estudo publicado pela Universidade de São Paulo (USP) em 2021 já alertava que, sem fazendas de reprodução e com o atual ritmo de abate, a espécie caminha para a extinção em território nacional.

Maus-tratos e riscos sanitários

Estudos recentes reforçam que o problema vai além da extinção. Um levantamento feito com mais de 100 animais, publicado em março de 2025 no periódico Animals, revelou casos de abandono, má-nutrição e maus-tratos. Muitas vezes, os jumentos são capturados de forma clandestina, sem qualquer regulamentação sanitária adequada.

A The Donkey Sanctuary alerta ainda para os riscos de disseminação de doenças. Como os animais são transportados entre estados e até por fronteiras internacionais sem controle rigoroso, há possibilidade de transmissão de zoonoses, doenças que podem afetar tanto animais quanto humanos.

Impacto social e alternativas tecnológicas

Além dos danos ambientais e sanitários, a redução drástica da população de jumentos tem impactos diretos na vida de pequenos agricultores. Os animais seguem sendo usados em lavouras de difícil acesso, como as plantações de cacau no Nordeste brasileiro.

“A extinção traria prejuízos sociais, especialmente para comunidades rurais que dependem desses animais para o trabalho diário”, destaca a veterinária Patrícia Tatemoto, da The Donkey Sanctuary no Brasil. Ela lembra também que os jumentos são dóceis, inteligentes e podem ser ótimos animais de companhia.

Por outro lado, soluções tecnológicas começam a surgir. O engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada da USP, Roberto Arruda, explica que já existem avanços em processos como a fermentação de precisão, capaz de produzir colágeno em laboratório, sem a necessidade de exploração animal. No entanto, a produção ainda é restrita a grandes empresas e não atende a demanda global.

Projetos de lei e mobilização social

Diante da gravidade da situação, projetos de lei tramitam tanto na Câmara dos Deputados quanto na Assembleia Legislativa da Bahia para proibir o abate de jumentos no Brasil com fins comerciais.

Enquanto isso, ONGs e grupos de defesa animal ampliam campanhas pela internet exigindo o fim imediato da matança. No exterior, países como Quênia, Nigéria e Tanzânia já adotaram medidas restritivas ao abate da espécie.

Durante o 3º Workshop Jumentos do Brasil, realizado neste sábado (28) em Maceió, o professor Adroaldo Zanella, da USP, resumiu o clima de urgência: “A situação do Brasil e do mundo em relação ao jumento é assustadora. É uma questão que provoca preocupações no mundo inteiro.”

 

 

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