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Maico Zimmer: o decorador por trás dos projetos mais celebrados de Gramado e do novo ícone gastronômico de Santa Maria do Herval

27/10/2025 - 16h13min

Atualizada em 27/10/2025 - 16h41min

Maico no Prost, uma das novidades gastronômicas e temáticas da região localizada em Santa Maria do Herval (Fotos: arquivo pessoal)

Dos tapetes da avó ao design que emociona: a trajetória de quem transformou sensibilidade em assinatura estética

Por Cleiton Zimer

Em Gramado, onde cada esquina respira encantamento, o nome de Maico Zimmer tornou-se sinônimo de transformar espaços em narrativas — lugares em que estética, memória e emoção caminham juntas.

Reconhecido por uma assinatura sofisticada e conceitual, ele assina projetos de referência no turismo brasileiro, entre eles o Hotel Colline de France, eleito o melhor hotel do mundo no Traveller’s Choice 2021 do TripAdvisor, e a Casa da Velha Bruxa, recém-reaberta em Gramado com proposta lúdica e sensorial. “Acabei de entregar esse projeto, que está um sucesso”, resume.

No portfólio, também está o hotel Quinta das Videiras, em Florianópolis, recentemente destacado pela Forbes Brasil como um dos destinos mais exclusivos e autênticos de Santa Catarina.

Raízes

A biografia de Maico nasce na Vila Jardim, interior de Gramado, em uma rotina de pouco recurso e muito trabalho. “Casa com frestas, velha, ou seja, o pior eu já tive”, lembra. Criado por mãe solteira — “de família simples mas criativos!” — passou a infância cercado por materiais, ferramentas e disciplina: “ficava com minha avó no meio dos retalhos que ela costurava tapetes.”

Desse convívio veio a inquietação estética e a prática de arrumar o que estivesse ao alcance: “aprendi a deixar tudo em minha volta bonito… não consigo ficar em lugar mal arrumado.” Ainda menino, montou o próprio quarto com reaproveitamento: “catei um carpete no lixo, pintei e decorei.” E pediu ao avô, o “Angelin da fazenda”, que era marceneiro, a primeira cômoda — “minha primeira compra foi decoração, móveis.”

Herança afetiva

A marcenaria clássica tornou-se um eixo. “Meu avô está presente em cada obra que faço — é tudo marcenaria de verdade, sou contra qualquer coisa sintética.” O rigor com prazos e execução veio do trabalho com os tios: “me obrigavam a terminar tudo no dia certo.” O senso de cor e composição foi lapidado nos tapetes da avó e nos panos de prato pintados pela mãe — “que faz até hoje; estão expostos no Prost.”

O Prost: cultura, memória e design

É justamente no Prost, café, bar e restaurante recém-inaugurado em Santa Maria do Herval, que essa herança afetiva e técnica se condensa. O empreendimento foi aberto por Maico em parceria com uma família local; além de sócio e mentor, ele assina toda a ambientação.

Maico é responsável pela parte visual do Prost

O espaço ocupa um antigo moinho e serraria — que também foi estrebaria — à beira da ERS-373. O projeto combina elementos rústicos, referências à imigração alemã e um cardápio bilíngue (português e Hunsrückisch), reforçando compromisso com preservação cultural e identidade. Nas palavras de quem visita, é uma “Oktoberfest o ano inteiro”, com alma de colônia e sabor de casa de vó. Para Maico, o lugar tem tese: “o Prost é um manifesto… um grito de que tudo pode ser transformado com pouco. A cidade tem cultura viva! Precisa ser contada.”

Cada detalhe no Prost é trabalhado com carinho.

Memórias familiares aparecem como linguagem. “Lá minha avó está nos panos feitos à mão pendurados e no clima acolhedor da casa dela. No Prost meu avô está nas engrenagens da serraria, nas madeiras, minha mãe com os panos pendurados até hoje.” O resultado é um ambiente onde técnica encontra afeto, e a estética não é fim em si, mas veículo de pertencimento.

O restaurante, que fica no caminho de Gramado, é um convite para parada.

Entre o clássico e o lúdico

Do universo temático ao clássico, Maico afirma transitar sem perder coerência nem propósito. Na Casa da Velha Bruxa, por exemplo, define: “é lúdico, é de verdade, é a casa de uma avó… é mágica.” A recusa a atalhos estéticos e a modismos é explícita: “jamais faço projetos com o propósito de serem ‘instagramáveis’. Acho absurdo o termo! Eu faço o ambiente todo bonito. Quando se fotografa, tem que procurar pelos melhores ângulos — ele todo é bonito.”

Ética, constância e propósito

O método se ancora numa ética do trabalho forjada cedo. “Esta dificuldade e falta completa de infância me fez ser prático e objetivo. Quando compro uma ideia de um negócio novo, faço de tudo para acontecer.” Dessa disciplina nasce a constância de entrega e a identidade que o posicionam entre os principais nomes do design de experiência na Serra Gaúcha: ambientes com alma, materiais verdadeiros, acabamento preciso — e uma história para contar.

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