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Mais de 10 mil faltas nas consultas do SUS causam prejuízo e atrasos em 11 municípios

Até 27% dos agendamentos são desperdiçados, prejudicando atendimento e aumentando filas de espera na região
Por Anna Bezerra
O sistema público de saúde da região enfrenta um problema silencioso, mas com efeitos graves: o alto número de faltas em consultas, exames e procedimentos agendados no SUS. Em levantamento exclusivo, o Diário reuniu dados das Secretarias Municipais de Saúde dos 11 municípios da região que o jornal acompanha diariamente: Nova Petrópolis, Dois Irmãos, Ivoti, Morro Reuter, Presidente Lucena, Linha Nova, Santa Maria do Herval, Picada Café, Lindolfo Collor, São José do Hortêncio e Estância Velha.
Entre janeiro e junho deste ano, os municípios que compõem a área de cobertura do Diário já registraram mais de 10 mil ausências de pacientes que marcaram horário, mas não compareceram. O mais preocupante: a maioria dessas faltas ocorreu sem sequer um aviso prévio, impossibilitando a liberação da vaga para outra pessoa que está na fila.
Além de ocupar um espaço que poderia ser destinado a outro paciente, essas faltas significam desperdício de recursos públicos e aumento nas filas de espera por atendimento.
Imagem: Nadine Dilkin
Percentuais que impressionam: até 27% de faltas
Em Nova Petrópolis, os números chamam atenção: de 6.456 agendamentos realizados entre janeiro e 18 de junho, 1.773 não foram cumpridos, o que representa um índice alarmante de 27% de faltas.
Em Dois Irmãos, o cenário também preocupa: 3.408 faltas só nos primeiros cinco meses de 2025, com destaque para o Posto de Saúde do Centro, que sozinho somou mais de mil ausências.
Ivoti também chama atenção, com uma média de 6 mil faltas anuais nas UBSs.
Já em Estância Velha, os números também são expressivos: de janeiro até agora, foram 987 faltas em consultas médicas, 427 em atendimentos pediátricos, 323 em psiquiatria, 447 em odontologia, além de 540 ausências em consultas com nutricionista, 619 faltas em enfermagem, 330 em consultas especializadas, 462 em fisioterapia, 430 em ecografias, 148 em eletrocardiogramas e 227 faltas em atendimentos com psicóloga.
Em municípios menores, os índices, mesmo em menor escala, continuam preocupantes: Linha Nova (324 faltas), Presidente Lucena (361), Santa Maria do Herval (230 até abril), São José do Hortêncio (1.200 até maio), Picada Café (282 até maio) e Morro Reuter (320 até junho), com destaque para psicologia, fisioterapia e médico da família.
O impacto vai além dos números. Segundo a secretária de Saúde de Morro Reuter, Ana Paula Viebrantz, o problema é duplo: “Uma falta não é só uma falta. São duas perdas: o paciente que não comparece e o que está na fila, esperando uma vaga que poderia ter sido liberada se houvesse aviso”.
Fila mais longa e prejuízo financeiro
Além de prejudicar diretamente os pacientes que aguardam por uma consulta, o alto índice de não comparecimento gera desperdício de recursos financeiros, com profissionais disponíveis e horários ociosos.
Em Morro Reuter, por exemplo, a Secretaria da Saúde estima que só em 2024 as faltas representaram um prejuízo de aproximadamente R$ 100 mil aos cofres públicos.
O secretário de Saúde de Dois Irmãos, Nilton Tavares, faz um apelo: “Quando alguém falta sem avisar, além de perdermos a oportunidade de atender outra pessoa, também causamos um prejuízo ao sistema de saúde, que já trabalha com recursos limitados e uma grande demanda”.
Em Nova Petrópolis, a equipe de saúde também mantém uma lista de espera justamente para tentar preencher rapidamente as vagas que surgem por desmarcações de última hora. Segundo a secretária Sara Bohn, “faltar sem justificativa é lamentável, pois muitas pessoas aguardam uma consulta e poderiam ter sido atendidas naquele horário se houvesse aviso com antecedência.”
A orientação de todas as Secretarias de Saúde é clara: empatia e responsabilidade. Se você marcou um horário e não poderá comparecer, avise com antecedência. Assim, o sistema de saúde consegue reorganizar os atendimentos e beneficiar quem mais precisa.