Maria Berdotti lembra da infância com gratidão

Hermes Reich

Morro Reuter – Culturas norteiam valores e comportamentos; apontam a importância da vida em comunidade. Em São José do Herval, a família de Maria Terezinha Berdotti trouxe ao Município de Morro Reuter uma abonada herança cultural, reproduzida por vidas no meio rural.

Maria Berdotti é filha de Carlos Scholles e Ana Kieling Scholles. Ela nasceu em 1934, na cidade de Dois Irmãos. Depois, mudou-se com a família para Picada Verão, onde passou sua infância. Maria tinha 10 irmãos: Beno, Eli, Lucia, Egídia, Edgar, Irma, Vitor, Flávio, Valesca e Geraldo.

Com muito trabalho e coragem Maria desbravou seu caminho em busca da felicidade. E foi em São José do Herval que intensificou o sentimento de amor pela agricultura, pelas pessoas e viu brotar um novo tempo.

“Em São José do Herval trabalhei na roça para ajudar no sustento da família. Plantávamos batata-doce, aipim, feijão e milho. Naquela época não tinha luz, e a água era preciso buscar no rio em Picada Verão. Nós íamos a pé e carregando dois baldes. Apesar de tudo, foi uma época muito boa!”

Retrato da família Berdotti: pais Carlos e Ana Scholles, e os filhos Beno, Eli, Lucia, Egídia, Edgar, Irma, Vitor e Terezinha. Os outros três filhos do casal, Flávio, Valesca e Geraldo nasceram depois do registro fotográfico. (Crédito: Adelar Klein)

O tempo da escola

Hoje, sentada à frente da mesa na sua cozinha, Dona Maria reserva um período à memória, a fotografia de sua vida ainda criança na escola. O sentimento de felicidade dessa época mágica da infância, sem dúvida, é o de saudade.

“Passei a minha infância na localidade de Picada Verão. Para estudar, tinha que fazer o trajeto, de cerca de 5 quilômetros, a pé e/ou a cavalo até a escola que ficava na frente da Igreja, em São José do Herval. Meu primeiro professor também era meu padrinho. A gente não podia entrar na sala de aula sem rezar. Tenho muita saudade dessa época!”, recorda com emoção.

Passado o tempo de pré-escola, Maria seguiu em frente com os estudos e o trabalho em Porto Alegre. “Fui estudar e trabalhar na Escola Bom Conselho, em Porto Alegre. Nós éramos de 11 irmãos e meu pai não tinha muito dinheiro então, tive de ajudar. Eu era a única moça que sabia a tabuada”, conta Maria com orgulho.

A vida trouxe ensinamentos

Maria Berdotti com os filhos Agostinho, Altemir, José Agenor, Liani, Samara e Claudia (Crédito: Adelar Klein)

A cada fase da vida Dona Maria viveu novos capítulos e se fortaleceu para tocar adiante sua missão.

“Eu construí minha vida com Guido Bertoti, casamos no ano de 1954, em São José do Herval. Na época, eu tinha 20 anos. Tivemos seis filhos, e eu segui a minha vida educando-os e também ajudando a comunidade local, principalmente no salão durante as festas. Eu gostava de todos e todas as pessoas gostavam de mim. Naquela época todo mundo era amigo, não tinha diferenças.”

Dona Maria entende que o local onde nasceu a tornou forte, como outrora seus antepassados tiveram garra para lutar e fé para vencer abrindo caminho para o desenvolvimento. Trilhou seu rumo de cabeça erguida porque tem em sua essência ensinamentos de pai e mãe, a bagagem para a felicidade.

“Meu pai trabalhava em uma serraria na Picada Verão para sustentar a família. Já a minha mãe, era a única mulher que sabia falar português. Se tinha algum problema chamavam ela. Os meus filhos sempre foram prestativos, principalmente quando precisava arrumar a estrada que ligava Santa Maria do Herval a Sapiranga eles ajudavam com suas enxadas, picaretas e foices. Eram tempos difíceis, mas de grandes ensinamentos.”

A história de vida de Dona Maria nos remete a seguinte reflexão: Amar o lugar onde se vive é saber cuidar bem de si mesmo, ter capacidade de gostar do próximo e respeitar as diferenças. A cidade em que nascemos é a terra onde devemos plantar as sementes do bem para construir um mundo melhor.