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Morador de Morro Reuter dedica a vida ao trabalho social na Alemanha

14/02/2021 - 18h49min

Éderson Scholles com Gebhard Dobler, uma das pessoas com as quais trabalha no Sul da Alemanha, na cidade de Weingarten, durante uma festividade de Carnaval em 2019 (FOTO: Arquivo pessoal)

Por Cleiton Zimer

Morro Reuter / Weingarten – Aos 25 anos, Éderson Scholles mora na Alemanha desde 2016, onde atualmente faz um trabalho social em uma oficina que integra pessoas com deficiência preparando-as para o mercado de trabalho. Ele cresceu na localidade de São José do Herval e foi instigado a ir para o país europeu através de um trabalho de conclusão do Ensino Médio que realizou na Escola João Wagner, em 2014, e que tratava sobre intercâmbio na Alemanha.

“Despertou um interesse em conhecer o país. Lembro que na época conversei com algumas pessoas que já estiveram aqui e através dessas experiências fui atrás de uma forma viável, ou seja, um visto válido por determinado tempo na Alemanha”. Inicialmente o intuito era ficar somente um ano, portanto, foi com um visto de Au Pair, que concede permissão de residência por esse período vivendo com uma família alemã, com o objetivo de aprender a língua local e conhecer a cultura do país.

 

Éder visitou diferentes países europeus (FOTO: arquivo pessoal)

O fascínio do primeiro dia

Éder recorda do dia em que chegou na Alemanha. Era 22 de fevereiro de 2016. “Lembro como se fosse hoje quando desembarquei do avião e vi neve pela primeira vez. Foi fascinante. Os meses foram passando e eu agradecia a cada dia por ter tido a oportunidade de viver na família com a qual passei aquele ano”, contou, destacando que eram pessoas que não mediam esforços para lhe ajudar em tudo o que fosse necessário. “Eu realmente me sentia um membro da família”.

Ele passava a maior parte do tempo com as crianças, jogando bola e também auxiliava a família levando e buscando-as na escola. “Foi uma troca cultural muito interessante, tanto para eles como para mim, pois a família tinha muito interesse em conhecer a nossa cultura, comidas e tradições”.

A decisão definitiva

Passado o contrato de um ano Éder voltou para o Brasil. Antes de ir, porém, foi presenteado pela família com uma passagem para retornar à Alemanha posteriormente. Passadas algumas semanas no Brasil, ele voltou para a Europa e, durante três meses, ficou como turista com a mesma família. Viajaram para a Itália e, também, realizou entrevistas de emprego.

Após retornou ao Brasil, ficando por nove meses, atuando na venda de consórcios. “Depois disso percebi que não queria mais ficar, que queria voltar para a Alemanha”.

A escolha pela área social

Éder trabalha em uma oficina que integra pessoas com deficiência, preparando-as para o mercado de trabalho (FOTO: Arquivo pessoal)

Ao retornar para o país europeu Eder iniciou um Freiwilliges Soziales Jahr – um voluntariado/ano social – na cidade de Weingarten, no Sul da Alemanha, onde atualmente reside. O Programa FSJ ou BFD (Bundesfreiwieligedienst) é oferecido como uma troca de experiência na área social. Há vagas anuais em várias instituições como creches, lar de idosos, hospitais e centro de reabilitação.

O nome da oficina de integração em que Éder trabalha é IWO, que é pensada para pessoas com deficiência, na qual elas desenvolvem a coordenação motora e a parte pedagógica, desenvolvendo o cognitivo, com o objetivo de prepará-las para o mercado de trabalho. São 300 pessoas que vão lá durante o dia. Éder é o primeiro da América Latina a ser contratado no local.

Curso técnico

Atualmente ele faz um “Ausbildung”, que é modalidade de curso técnico existente no país. “No contexto geral, para exercer uma profissão no país você precisa ter, pelo menos, um Ausbildung feito na área”, conta, explicando que o curso funciona integrando estudante, escola profissionalizante e empregador, assemelhando-se a um estágio remunerado, já que para a maioria dos cursos também se recebe salário. “Tenho grande chance de ser efetivo na IWO depois que terminar meu curso”.

Éder diz que, às vezes, prepara comidas brasileiras e que os outros gostam muito. “Por isso eles também contratam pessoas de fora, para conhecer outros países”.

“Não imaginava que eu gostaria tanto”

O curso técnico de Éder se chama Heilerziehungspfleger, cuja área de atuação é abrangente e a formação permite trabalhar na área social acompanhando e apoiando pessoas com doenças mentais e problemas físicos, abrangendo todas as idades a fim de fortalecer sua independência e permitir-lhes levar uma vida o mais independente possível.

“Quando eu iniciei o meu voluntariado eu não imaginava que eu gostaria tanto dessa profissão”, conta, falando que até havia passado por um processo seletivo de uma empresa internacional de logística, na qual conseguiu vaga para trabalhar na área de compras e vendas em atacado de varejo. “Porém eu acabei decidindo ficar na área social, a qual me faz ter muito orgulho em poder auxiliar e ajudar as pessoas cada, qual dentro de suas limitações”.

“Eu aconselho que cada pessoa tenha uma experiência no exterior”

Estar na Alemanha o permitiu conhecer vários lugar. Na foto, registro da neve na Áustria (FOTO: Arquivo pessoal)

 Éder destaca que essa experiência o fez amadurecer e crescer, tanto pessoalmente como profissionalmente. “Eu aconselho que cada pessoa tenha uma experiência no exterior para ver e conhecer novas culturas, pois a mesma abre um leque de oportunidades”, disse, contando que estar na Alemanha lhe proporcionou, também, conhecer outros países da Europa como Reino Unido, França, Itália, Irlanda, Espanha, Portugal, Grécia, Marrocos, Polônia, Luxemburgo, Bélgica, Suíça, Áustria, República Tcheca, Croácia, Hungria e Malta.

Éder recitou a célebre frase de Steve Jobs, dizendo que ela é muito significativa para ele: “cada sonho que você deixa pra trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”. Ele ainda se colocou à disposição, dizendo que se alguém tiver uma dúvida ou, estiver interessado em ir para a Alemanha pode contatá-lo pelo Instagram.

Ele fala da importância de sair da zona de conforto. “Também não foi fácil para mim. Eu morava com meus pais e eles me davam tudo. Aqui moro sozinho, pago aluguel, água, luz, internet e me viro sozinho. Isso me fez amadurecer”. Explicou que lá os jovens, ao concluírem o equivalente ao Ensino Médio, já saem da casa dos pais, muito diferente do que ocorre no Brasil.

Weingarten

Éder mora na cidade de Weingarten, que fica no Sul da Alemanha e tem 23.528 habitantes. Lá a língua falada é o Hochdeutsch, denominação atribuída à variante oficial do Alemão. O dialeto falado no Sul é o Schwäbische Dialekt.

Antes de ir para a Alemanha, Éder fez um curso de dois meses para dominar melhor o idioma pois, para entrar, teve que fazer uma entrevista no Consulado Alemão, onde tinha que saber de algumas coisas. Ele conta que o Hunsrik, falado no Brasil, o ajudou muito.

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