Geral
Moradora de Walachai vive na casa construída pelo próprio pai
Hermes Reich
Morro Reuter – A aposentada Lucia Heck, de 79 anos de idade, viúva e moradora do bairro Walachai, em Morro Reuter, mantém um elo de amor e pertencimento ao lugar que escolheu para viver até os últimos dias de sua vida. Não é de se admirar o quão querida é pelas pessoas, pois a simpatia e o carisma são a sua principal marca. Sempre disposta e com um sorriso no rosto que revela que está de bem com a vida, Lucia carrega no olhar a humildade, a honestidade e a alegria de viver.
Filha de Afonso José Klein e Alma Klein, Lucia considera a família o principal suporte para vencer as dificuldades impostas pela vida. Segundo ela, teve uma infância forjada nos sentimentos amor, respeito e admiração pelo pai que construiu sozinho a casa da família, onde Lucia vive até hoje.
“Meu pai construiu esta casa sozinho nas horas de folga. Tudo que tem de esquadrias nela não foi nada comprado, ele que fez todas as portas e janelas. Ele trabalhou muito para construir a nossa casa”, conta a emocionada Lucia, que ainda destaca a habilidade de marceneiro do pai. “Ele era um marceneiro de mão cheia e mostrava isso nos trabalhos que realizava no galpão velho que tinha nos fundos de casa.”
Ele tinha grande aptidão para serviços manuais e também os que exigiam o uso do raciocínio, enfim, sabia trabalhar em qualquer área, conta Lucia Heck. “Como agrimensor, meu pai foi um ótimo profissional. Ele também ajudou a construir moinhos de vento e pipas para vinho. Os equipamentos foram doados ao Museu de Dois Irmãos.”
Lucia também destaca o otimismo do pai, que não se intimidava com os imprevistos do dia a dia. “Tinha as máquinas de plantio de milho e arroz que as pessoas traziam para o meu pai arrumar, e era tudo feito manualmente. Quando eu me lembro dessas coisas, meu Deus que saudade!
Tradição de avô para neto
A identidade e vínculo na arte da marcenaria está no DNA da família Heck, que passa de geração para geração. “O meu filho, acho que ele recebeu o dom de marceneiro do meu pai. Tudo que vê consegue fazer. Ele é bom nesse trabalho, só precisa aperfeiçoar”, disse Lucia.
A vida não foi fácil
Lucia Heck, que não tinha medo do trabalho, lembra do tempo que trabalhou na roça com os pais. “Quando eu consegui segurar uma a enxada, lá estava eu ao lado dos meus pais trabalhando na lavoura. Plantávamos de tudo, para o nosso sustento e alguma coisa para comercializar. Em 1991, perdi o me u pai e na sequência a minha sogra e o meu marido. Então, tinha minha mãe e meus três filhos pequenos para cuidar. Não foi fácil!”
Lucia lembra que trabalhou muito para conseguir sustentar a família. Foram muitas horas de serviços na roça, na padaria, entre outros locais. “Onde podia pegar um serviço, lá estava eu. Caso contrário, não teríamos dinheiro nem para comer.”
A situação só muda de perspectiva quando os filhos começam a trabalhar e ajudar nas despesas da casa. “Com os filhos trabalhando a situação começava a melhorar, pois às vezes sobrava um dinheirinho. Até então, era eu que trabalhava para o sustento da família, além de ter de cuidar de minha mãe.”
Cuidar da horta é o seu passatempo preferido
A experiente Lucia alerta que o corpo humano não foi feito para ficar parado e, por isso, escolheu como passatempo preferido cuidar da horta. “A gente precisa se movimentar e cuidar da horta é o meu melhor passa tempo. Eu gosto muito de estar aqui, de viver isso daqui. Aqui no Walachai me sinto livre e sem preocupações. É um lugar tranquilo e repleto de natureza.”
Além da atividade na roça, Lucia também se ocupa cuidando das suas galinhas, fazendo pães e assados no forno a lenha. “Eu não consigo ficar parada, a vida toda sempre estive em serviço.”
Família unida é o principal
A vida deixou muitas marcas na vida de Lucia Heck, mas, apesar disso, não desistiu de ser feliz e seguiu em frente. Hoje, sua vida tomou um novo rumo e agora é tempo de ficar com a família. Lúcia tem três filhos: o casal de gêmeos Fabio e a Fabiane, de 40 anos, e a Cristiane, de 44 anos. Os gêmeos construíram suas casas bem próximas da mãe, e a filha mais velha mora com ela.
“Eu nunca estive sozinha nessa vida e cuidar dos netos é um presente. Estou muito bem de saúde, apesar de algumas vezes ter alguma coisinha que incomoda, mas ter a família por perto é o melhor remédio.”