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No coração do galpão: CTG Amigos da Tradição mantém viva a chama da cultura gaúcha em Santa Maria do Herval

28/05/2025 - 07h23min

Grandes eventos do CTG marcam o tradicionalismo de toda a região, lotando o galpão.

A Tradição vai além dos fandangos e pilchas: é um espaço de acolhimento, inclusão e formação de valores

Santa Maria do Herval | No compasso de uma gaita bem tocada e ao som do entrevero das esporas, é que a alma gaúcha se manifesta no CTG Amigos da Tradição, no bairro Amizade. Não é apenas um galpão de festas ou danças. É território sagrado de memórias, identidade e pertencimento. Quem cruza o portão sabe: ali pulsa a história de um povo que leva no peito o orgulho de ser gaúcho.

À frente da patronagem, José Francisco Braun, de 45 anos, conduz com firmeza e carinho os rumos da entidade. Ao lado da esposa, Eliete Scholles, também de 45, mantém vivo o legado que vem se fortalecendo desde 2009. Pai das gêmeas Franciele e Francilene Scholles Braun, de 24 anos, o patrão viu a história da família se entrelaçar à do CTG desde o início.

Patrão José Francisco Braun e esposa Eliete Scholles

“Tudo começou com o convite para que nossas filhas participassem da invernada. Levamos elas achando que seria algo passageiro, mas foi uma decisão que mudou nossas vidas”, recorda José. As meninas se envolveram nos ensaios, se encantaram com os prendados e mergulharam no universo tradicionalista com a dedicação de quem veste o traje com orgulho e alma.

Do envolvimento à liderança

A participação das filhas não apenas aproximou a família do movimento tradicionalista, como também despertou em José e Eliete o desejo de contribuir ainda mais com a entidade.

“Acompanhar cada passo das gurias nos fez entender a importância de manter esse espaço vivo para outras famílias também.”

José assumiu a patronagem num momento desafiador, após o afastamento do patrão Canísio Dilkin por questões de saúde. Desde então, carrega nos ombros a missão de zelar pelo galpão e por tudo o que ele representa:

“Meu maior desafio é fazer com que a sociedade enxergue o CTG como um espaço de inclusão, onde não se distingue raça, cor, gênero ou classe social. Aqui todos são bem-vindos.”

Para ele, o tradicionalismo vai muito além da indumentária: é ferramenta de transformação social.
“Queremos formar jovens conscientes, responsáveis e orgulhosos de suas origens — sejam elas alemãs, gaúchas ou ambas”, pontua. A cultura, reforça José, é um elo que une e fortalece as comunidades.

Invernadas integram a juventude ao tradicionalismo e, junto à dança, ensinam princípios básicos da sociedade

Resistência e recomeço: a história do CTG

 

O CTG Amigos da Tradição foi fundado em 15 de setembro de 2009. A primeira patronagem, liderada por Geovan Romão Ritter, guiou a entidade por nove anos, consolidando sua presença no município. Vieram depois Mauri Walter Closs, Inês Fröehlich Closs e Canísio Dilkin, cada um deixando marcas importantes na trajetória do grupo.

Logo nos primeiros anos, o CTG enfrentou uma dura prova. Em fevereiro de 2011, uma enchente levou tudo o que havia sido conquistado às margens do rio Cadeia, onde a sede funcionava em um espaço cedido por uma família na Vila Kunst – que perdeu a edificação que foi arrastada pelas águas.

Registro antigo da primeira sede, que foi devastada pela enchente de 2011

“Foi um momento doloroso. Crianças choravam pelo sonho perdido, e os pais não sabiam por onde recomeçar”, relembra José. Com esforço coletivo e apoio da comunidade, foi possível reconstruir a sede, agora localizada na Vila Amizade. A reinauguração aconteceu em 3 de dezembro de 2011, com show e fandango animado por Os Bertussi.

Mais do que dançar: um espaço de pertencimento

Jaime e

Jaime e a esposa participam das atividades do CTG e integram a patronagem.

A atuação do CTG não se resume às invernadas. O grupo é presença confirmada na Kartoffelfest, com um restaurante que virou referência no evento. A participação é essencial para a manutenção das atividades e da sede. Mas é no cotidiano que o verdadeiro valor do CTG se mostra, como revela Jaime Graciel Kieling, 44 anos, hoje integrante da patronagem.

“Tudo começou há oito anos, quando minha filha resolveu ir aos ensaios, incentivada pelas amigas. Achei que seria só uma fase, mas passou-se o tempo e ela continuou”, conta Jaime. A filha participou de diversas apresentações, competições como o Pequena Gauchinha e conheceu novas cidades e culturas.

“Foi um desafio para nós pais também, porque tivemos que nos adaptar, mas valeu a pena. Hoje me orgulho da caminhada dela.”

Mais que ver a filha crescer no tradicionalismo, Jaime também se transformou.

“Sempre fui uma pessoa fechada, mas no CTG fui me abrindo. Através das boas companhias e amizades, enxerguei uma nova dimensão. Me tornei mais participativo e acolhedor.” Hoje, ele é responsável pela limpeza da sede e conhece cada canto do galpão como se fosse parte da sua casa — e, de fato, é.

Tradicional churrasco é um dos grandes destaques das festividades

Convite aberto ao povo

Tanto José quanto Jaime fazem questão de frisar: o CTG é de todos. Não importa se a pilcha está completa ou se é a primeira vez que se pisa num galpão. O que conta é o respeito, a vontade de aprender e o desejo de manter acesa a centelha do povo gaúcho.

“A cultura gaúcha é uma das poucas que cruzou oceanos. Hoje existem CTGs em diversos países. Aqui, no nosso município, temos o dever de mantê-la viva e acessível”, afirma José. O galpão é um lugar de formação, de valores, de convivência. E, acima de tudo, de esperança.

“Desejamos que nossa juventude cresça com empatia, solidariedade e senso de responsabilidade.”

A todos que ainda não conhecem o CTG Amigos da Tradição, Jaime deixa um convite simples e direto:

“Venham. Participem. Aqui a gente ensina mais que dança: ensina respeito, ética e princípios. É com muito orgulho que faço parte deste baita galpão.”

 

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