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Nova Petrópolis: números mostram reincidência de feminicídios

25/01/2020 - 09h37min

Atualizada em 27/01/2020 - 10h01min

Nova Petrópolis – A morte de Rosane Groth, 37 anos, assassinada por seu ex-marido, Dirceu Groth, 35 anos, foi mais um caso de ataque à mulher que aumenta os números de feminicídio praticado em todo o Brasil.

Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), mostram que no ano de 2017, 4.600 vítimas foram mortas pelo fato de serem mulheres, muitas vezes por seus próprios ex-companheiros que não aceitam o fim de um relacionamento. O que mostra uma média de 12 a 13 mulheres mortas todos os dias.

Na segunda-feira, 20 de janeiro de 2020, tivemos o primeiro feminicídio cometido em Nova Petrópolis. Rosane estava em seu carro com a cunhada indo para o trabalho. Seu ex-marido, Dirceu, veio no sentido contrário e colidiu seu veículo com o de Rosane na Estrada do Pinhal Alto. Ele desceu do carro com uma marreta, quebrou o vidro da motorista, abriu a porta e desferiu diversos golpes de faca na vítima, que ainda tentou sair do carro, mas não conseguiu. Ele fugiu levando a arma do crime e segue foragido. A cunhada de Rosane conseguiu sair do carro enquanto Dirceu vinha na direção do veículo e fugiu entrando no mato.

Outros casos

Antes disso, o último caso de feminicídio consumado registrado no município havia sido em julho de 2016, quando Viviane Bueno de Oliveira, de 37 anos, foi encontrada sem vida dentro de casa, no bairro Vale Verde. Segundo a perícia, Viviane teve seu pescoço quebrado e o autor foi seu namorado, Amauri Borges da Silva. Ele foi preso alguns dias depois, em Santa Catarina. Em 2019 o caso foi julgado e Amauri foi sentenciado a 17 anos de prisão.

Mas se alguém pensa que duas mortes num período de cinco anos, não é tanto assim, engana-se muito. Cada vida perdida, principalmente tirada de uma forma tão brutal, causa uma perda irreparável para a família da vítima e, também, a do agressor. “Pra que fazer isso? Destruiu uma família inteira”, disse Renato Birk, pai de Rosane, ao ver a cena do crime.

Além disso, também há casos de tentativas de feminicídio onde as vítimas conseguiram escapar. Em 2016, ano em que Viviane foi morta, outra mulher também sofreu uma tentativa. Assim como no ano anterior, houve uma ocorrência do mesmo crime.

Não bastasse isso, são ainda mais frequentes outras denúncias enquadradas na Lei Maria da Penha, como ameaças, agressões físicas, verbais e psicológicas, e também estupros tentados e consumados. Em 2019, Nova Petrópolis teve três tentativas de estupro registradas, 15 de lesões corporais e 33 de ameaças. A própria Rosane havia denunciado o ex-marido em outubro e tinha medida protetiva contra ele. Em 2018, foram duas ocorrências de estupro, e quatro registros em 2017. Números que são sinal de alerta.

Cultura machista

Em Nova Petrópolis, Kátia Regina Zummach (PSDB), única mulher entre os vereadores, é engajada no tema de proteção à mulher. Ela conta que até agora todas as suas proposições foram aprovadas pelos vereadores e que em 2019, a Câmara apoiou os 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher. Ela afirmou ainda que em 2020, as ações vão continuar, mas que é preciso uma conscientização.

“Tudo que é feito visando conscientizar as pessoas, não fará efeito se essa cultura de posse não acabar. Enquanto os homens não entenderem que a mulher tem direitos, entre eles, o de não querer mais aquele relacionamento”, comentou.

“Isso demonstra que temos um longo trabalho pela frente, É cultural, é machismo”

A vereadora contou que foi ao velório de Rosane e, após, publicou um texto em seu facebook prestando solidariedade, mas também se questionando o que mais pode ser feito para que tragédias como essas sejam evitadas.

“Me dá uma agonia, pois por mais que a gente tente conscientizar as pessoas, não conseguimos dar a devida proteção a elas. Qual é o lugar que podemos recomendar para as meninas, para as mulheres, onde possam viver uma vida sem medo, eu não sei, se alguém souber me avise”.

E apesar da grande repercussão do feminicídio cometido contra Rosane, houve quem comentasse em sua publicação, um homem, que “quando não se conhece os dois lados, é melhor ficar quieto. Os direitos e deveres devem ser iguais”. Kátia respondeu que não há dois lados quando uma pessoa é morta e que absolutamente nada justifica a violência.

“É por isso que se nem diante de uma tragédia dessas, a gente consegue mudar a cabeça das pessoas, pois ainda tem pessoas que acham que tem desculpa para isso, que a mulher é culpada. Isso demonstra que temos um longo trabalho pela frente, e cultural, é machismo”, completa.

Rede de proteção

O Cras (Centro de Referência de Assistência Social), possui um grupo onde é feito o acompanhamento de mulheres que sofrem algum tipo de abuso. Além disso, são feitas campanhas de prevenção e conscientização com folders, cartazes e palestras em escolas e empresas. Lá, cada caso é analisado separadamente para poder ajudar mulheres que necessitam de proteção e não têm onde ficar. Agressores também são chamados.

Uma cartilha foi feita para ajudar mulheres a reconhecerem os abusos sofridos e formas de buscar ajuda. “A violência contra a mulher se caracteriza, ainda, como uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres, que conduziram à dominação e à discriminação contra as mulheres, impedindo-lhes o avanço. Qualquer ação ou omissão baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”, diz a cartilha.

Números de feminicídios na região 2016-2020*

Nova Petrópolis

Feminicídios tentados: 1

Feminicídios consumados: 2

Total: 3

Estância Velha

Feminicídios tentados: 2

Feminicídios consumados: 1

Total: 3

Dois Irmãos

Feminicídios tentados: 3

Feminicídios consumados: 0

Total: 3

Lindolfo Collor

Feminicídios tentados: 2

Feminicídios consumados: 0

Total: 2

Santa Maria do Herval

Feminicídios tentados: 1

Feminicídios consumados: 0

Total: 1

*Outros municípios não tiveram registros neste período

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