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NP 68 ANOS: Tiro Rei mantém o legado dos primeiros atiradores que defenderam a colônia

28/02/2023 - 16h13min

Atualizada em 28/02/2023 - 16h13min

Tiro ao alvo ainda é praticado e motiva festas no interior e na sede (Créd. GIAN WAGNER BAUM/O DIÁRIO)

As sociedades de tiro só existem porque um professor reuniu um grupo de homens para combater os maragatos no final do século XIX

As cinco sociedades de atiradores que existem hoje em Nova Petrópolis têm a mesma origem: nasceram para ajudar a defender os colonos de saqueadores que amedrontavam as pequenas comunidades principalmente na última década do século 19. Estes revolucionários que saqueavam a colônia eram os maragatos, que desciam dos Campos de Cima da Serra, região onde hoje é São Francisco de Paula, em direção as colônias mais antigas e prósperas, às margens dos rios. Neste caminho, atacavam Nova Petrópolis que pouco resistia. Polícia era algo que não existia e estava nas mãos dos próprios colonos organizar sua defesa. As demais colônias que também sofriam com os ataques começaram a revidar e isto resultou em investidas mais rigorosas por parte dos maragatos em Nova Petrópolis.

Foi pela necessidade de defender as famílias que estavam recém se instalando nas novas terras que o professor Alfredo Steglich resgatou um triunfo da Europa e no estilo das schützenguilde (guildas de atiradores) formou o grupo de Nova Petrópolis. O sucesso do grupo levou, mais tarde, o professor Steglich a receber da comunidade o título de coronel, como é conhecido até hoje. Fizeram parte no início moradores da sede e das linhas Imperial, Brasil e Araripe, que era o caminho feito pelos saqueadores. O coronel também repassou ensinamentos básicos de vigilância, treino de tiro, entre outros aperfeiçoamentos para poder armar os colonos com eficiência.

Coronel Alfredo Steglich (CRÉD. REPRODUÇÃO DO LIVRO 110 ANOS DA SCRTA)

O ATAQUE QUE NÃO ACONTECEU – A maior vitória do grupo foi em uma batalha que sequer precisou acontecer. Durante a Revolução Federalista, em 1895, um grupo de maragatos invadiu Nova Petrópolis através do Morro da Fome. Eles entraram sorrateiramente e se alojaram em um potreiro. Lá, mataram um animal para assar a carne e beberam vinho, saqueado de produtores. O plano deles era invadir a Linha Imperial num ataque-surpresa.

Os atiradores da localidade ficaram sabendo disso pois haviam visto a movimentação do bando e, além de acionar os atiradores da sede, enviaram dois espiões para obter mais informações. Steglich, já aclamado como coronel, esboçou a tática: Esperar até tarde da noite, cercar o potreiro e atacar os invasores se aproveitando da embriaguez. Porém, a natureza acabou agindo e quando todos já estavam em seus postos em meio à escuridão, um dos atiradores acabou sentando-se em um formigueiro e, no susto, acabou disparando a espingarda. O que poderia ter alertado os maragatos acabou afugentando o bando que, assustado, correu para as cavalarias. Houve confronto, mas a vitória foi dos homens de Steglich.

Os maragatos ameaçaram vingança e falaram que chegariam em Nova Petrópolis com 500 homens armados a fim de acabar com a colônia. O clima era de terror e guerra. Steglich pediu reforço de colônias próximas. O ataque estava previsto para acontecer no Kerb da Linha Marcondes. Se reuniram atiradores de Linha Nova, Picada Café, Hortêncio, Dois Irmãos, Ivoti e até de Novo Hamburgo. Eles ficaram a postos, como sentinelas de proteção, esperando os inimigos enquanto as famílias festejavam o kerb. Não houve ataque e, depois disso, os maragatos tiveram envolvidos em tramas maiores e deixaram os colonos em paz. A vitória foi celebrada e pouco tempo depois foi instituída a primeira sociedade de atiradores: a Tiro ao Alvo.

As guildas de atiradores

Ainda na Europa, as guildas de atiradores foram criadas com propósito muito similar: defender pequenas comunidades de bandos saqueadores. Para despertar o interesse, principalmente dos mais jovens, eram concedidas premiações para os melhores de cada guilda. No ano, o melhor atirador era aclamado como “rei”, enquanto os dois colocados seguintes seriam os “condes”, seguidos pelos “mestres”. Hoje mudou pouca coisa. Mestre, por exemplo, é usado quase que exclusivamente para as disputas do bolão. Já o tiro rei ainda é comum nas sociedades de Linha Imperial, Linha Brasil, Linha Araripe, do Centro e da Vila Olinda. Elas seguem o protocolo de, em uma semana promover as disputas e, na seguinte, o tradicional baile de coroação da corte que reúne a comunidade, vizinhos e visitantes que até hoje apreciam as tradições do tiro esportivo.

 

Corte do Tiro Rei Municipal disputado pela primeira vez no ano passado: Em ordem: André Arnhold (Rei) Gabriel Loeser (1º conde), Beatriz Haas (2ª condessa), Paulo Gurtler (4º lugar) e Gerson Boone (mais pontos) (CRÉD. FRANCIS LIMBERGER/PMNP/DIVULGAÇÃO)

*material faz parte do Especial Nova Petrópolis 68 Anos, que circulou nesta terça-feira, 28 de fevereiro

 

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