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O segredo do pão da Lúcia, feito no forno de barro

13/03/2025 - 05h56min

Há 35 anos, ela se dedica a fazer pão para a família.

Talvez o segredo do pão da Lúcia não esteja apenas nos ingredientes, mas no tempo que ela dedica a cada gesto, no calor da lembrança que se mistura à farinha, no afeto que fermenta a massa. Seu pão tem sabor de infância, tem cheiro de história, tem o toque macio de quem conhece a arte de esperar.

Herdeira de uma tradição que atravessa gerações, Lúcia Arnold Frank, de 63 anos, aprendeu a alquimia do trigo com sua avó Catarina Streit e, mais tarde, com sua mãe, Maria Streit Arnold. Foi entre brasas e memórias que suas mãos encontraram o dom de moldar a massa como se costurassem o tempo, ligando o passado ao presente.

Há 35 anos, essa arte se renova a cada fornada. No coração de Santa Maria do Herval, o ritual começa com o preparo dos ingredientes, enquanto o fogo de lenha desperta no velho forno de barro. O calor cresce, a massa descansa, o cheiro do fermento se espalha pela cozinha. Quando o forno atinge o ponto certo, o pão desliza para dentro e a magia acontece. O aroma invade quintais, percorre ruas, chama lembranças de um tempo em que a vida corria devagar.

Um forno que conta histórias

O forno de barro que aquece os pães de Lúcia não é apenas um utensílio de cozinha. Carrega marcas de fuligem, de anos e anos de calor e cuidado. Construído há quase 70 anos, pertenceu à sua mãe e, antes dela, foi testemunha silenciosa de muitas receitas, assando não apenas pães, mas bolachas de Natal, cucas douradas, batata-doce caramelizada, carnes para o kerb, bolos que perfumaram infâncias inteiras.

E ele segue ali, firme, resistente ao tempo, guardando dentro de si segredos que só o fogo conhece.

Um sabor que une gerações

Hoje, é Lúcia quem ensina. Mas não apenas com palavras. Seus gestos contam histórias, suas mãos revelam segredos que livros de receitas não sabem descrever. Casada com Remi Frank, ela tem seis filhos: Carla, Daniele, Carlos, Daniel, Juarez e João. E os netos, Nataly, Joaquim, Líam e Isadora, são os primeiros a cercar o forno, ansiosos pelo momento em que a faca deslizará sobre a crosta dourada, revelando o miolo macio e quente. “O pão da vó é o melhor do mundo”, dizem eles, enquanto lambem os dedos.

Um perfume que atravessa o tempo

Há perfumes que são pontes invisíveis para o passado. O cheiro do pão de Lúcia é um deles. Ele atravessa portões, se mistura ao vento, desperta lembranças em quem passa pela rua. Às vezes, um vizinho para, fecha os olhos por um instante e sorri. O aroma traz de volta tardes de infância, a imagem de uma avó de avental, o calor de um lar.

Sem pressa, sem atalhos, com as mãos na massa e o coração no que faz, Lúcia perpetua um costume que vai muito além do simples ato de cozinhar. Seu pão é história, é cultura, é laço que une gerações.

O segredo revelado

E para quem quer conhecer o segredo de tamanha delícia, aqui está a receita que Lúcia generosamente compartilha:

  • 1 pacote de farinha (5 quilos)
  • 3 colheres de sopa de fermento
  • 1 colher de sopa de sal
  • 2 colheres de sopa de açúcar
  • 1 colher de azeite ou, de preferência, banha de porco
  • Água morna até dar a liga

A massa descansa o tempo necessário, até crescer no ponto exato. O processo inteiro leva em torno de três horas, e ao final, entre nove e onze pães são retirados do forno, prontos para serem saboreados.

Mas o verdadeiro segredo? Ele não está apenas na receita. Está no amor que se mistura à massa, no fogo que aquece não apenas o forno, mas a memória de quem tem a sorte de provar um pedaço dessa história crocante por fora, macia por dentro e eterna em cada mordida.

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