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Petróleo extra-pesado é o pior entre todos os que poderiam cair no mar; entenda análise do ‘DNA do óleo’

25/10/2019 - 10h15min

A origem das manchas de óleo que atingem os nove estados do Nordeste continua um mistério, mas pesquisadores estão estudando e analisando o material encontrado nas praias. Exames laboratoriais mostram que a substância é petróleo cru de nacionalidade venezuelana, mas ainda não há informações sobre como ela veio parar na costa brasileira.

Segundo um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a origem do vazamento pode estar em um ponto a 700 km do litoral de Alagoas e Sergipe. As hipóteses mais prováveis estão relacionadas a vazamentos provocados ou acidentais em embarcações que navegam por águas internacionais.

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A reportagem conversou com geólogos, engenheiros e químicos para entender como são feitas as análises de petróleo cru e quais as principais características dessa substância. Para eles, o óleo que atinge o Nordeste, do tipo extra-pesado, é o mais prejudicial ao meio ambiente.

O que é petróleo cru e quais são suas principais características?

O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos e impurezas como enxofre e metais pesados. Ele é gerado ao longo do tempo a partir da decomposição de algas e plânctons em rochas sedimentares submetidas a altas temperaturas em grandes profundidades.

O petróleo cru, substância que foi encontrada nas praias do Nordeste, é o óleo bruto, produzido diretamente no reservatório geológico e posteriormente escoado para uma refinaria. Ele precisa ser processado para dar origem a subprodutos comerciais como gasolina, querosene, óleo diesel e lubrificantes.

Como é possível descobrir a nacionalidade de uma amostra de petróleo?

Cada amostra de petróleo possui sua própria composição físico-química. Essas características dependem das condições do local onde ele foi originado. Quando um novo ponto de exploração é criado, o óleo obtido naquele local precisa ser cadastrado. No Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) é responsável por catalogar, em sua biblioteca, todos os produtos da exploração e produção de petróleo e gás natural nas bacias sedimentares brasileiras.

“Cada óleo tem como se fosse um DNA, uma impressão digital que marca suas características”, explica Ronaldo Gonçalves, professor de engenharia química no Centro Universitário FEI e especialista em análise de petróleo.

Em linhas gerais a qualificação dos diferentes tipos de petróleo se dá com base em seis critérios:

  • Marcadores biológicos;
  • Composição química;
  • Acidez;
  • Densidade;
  • Volatilidade;
  • Estabilidade.

A partir de uma análise laboratorial é possível verificar as características da amostra em relação a esses seis critérios e comparar o produto às amostras já catalogadas. “Eu pego um perfil de composição registrado e eu comparo a amostra com essa biblioteca e vejo com qual óleo registrado ela está mais próximo. Pode ser 90% ou 95% de compatibilidade, por exemplo”, diz Gonçalves.

A densidade dos líquidos derivados do petróleo é uma das características mais importantes para identificar e diferenciar uma amostra de óleo. Ela compõe uma fração essencial de sua “impressão digital”.

Essa densidade é medida em escala de grau API (American Petroleum Institute, na sigla em inglês) e considera a densidade relativa do líquido em relação à água. O óleo extra-pesado, classificação atribuída à substância encontrada na costa brasileira, é aquele com °API maior que 19.

Como o petróleo cru se comporta no mar?

A reação do material ao entrar em contato com a água salgada do oceano varia de acordo com as características do óleo.

O petróleo cru que apareceu na costa brasileira é denso e pesado, o que faz com que ele se comporte de maneira diferente da que ocorre na maioria dos vazamentos, segundo os pesquisadores.

“Grande parte dos vazamentos de petróleo em mar são de óleo leve, que formam uma fina camada translúcida e iridescente que se espalha na superfície dos oceanos, uma vez que este tipo de óleo é menos denso que a água”, explica Clarissa Lovato Melo, geóloga e coordenadora de pesquisa do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da PUC-RS.

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O óleo cru localizado nas praias brasileiras, de nacionalidade venezuelana, parece ser do tipo extra-pesado, explica Melo.

Por ser mais denso que a água do mar, o óleo que atingiu o Brasil parece ficar mais “leve” ao longo do tempo, conforme vai absorvendo a água salgada que o cerca e se aproximando da costa.

Já os óleos mais leves que a água do mar poderiam ficar mais densos após o vazamento, absorvendo a água do mar.

Por que os satélites não conseguem localizar manchas de óleo significativas em alto mar?

O monitoramento de imagens de satélite feito pelo Ibama não encontrou indícios da substância na superfície marinha. O resultado da análise reforça a teoria de que o óleo que atinge as praias brasileiras não veio boiando pelo oceano, mas submerso.

Segundo os especialistas, isso ocorre porque se trata de um óleo denso que não se concentra na superfície, mas viaja em profundidade, de acordo com os movimentos das correntes marítimas.

Essa característica está relacionada à densidade do óleo, que é do tipo extra-pesado, típico de locais como Venezuela e Canadá. Por ser mais denso que a água, ele fica submerso até chegar próximo à costa, onde forma manchas escuras e assume características similares ao piche.

Esse tipo de óleo é considerado mais prejudicial ao meio ambiente porque sua decomposição é mais lenta.

“Ele tem mais frações tóxicas do que um óleo leve, cujos componentes seriam vaporizados mais facilmente”, diz Gonçalves, da FEI. “Enquanto ele está no mar você ainda pode retirá-lo com uma separação do tipo líquido-líquido. Depois que ele entra em contato com a areia, a remoção torna-se muito mais difícil.”

Além disso, esse tipo de óleo é caracterizado por maior poder de adesão. Ele tende a ser pouco absorvido ao entrar em contato com outros materiais, mas fica grudado com mais facilidade.

Para esta reportagem foram ouvidos, ainda, os geólogos José Antônio Cupertino e Rosália Barili da Cunha e o químico Tiago de Abreu Siqueira, do IPR, e os professores de engenharia de petróleo Patrícia Matai e Ricardo Cabral de Azevedo da Poli-USP.

Fonte: G1

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