Geral
Piá apresenta R$ 60 milhões negativos; presidente fala em dificuldade no fluxo de caixa
Coletiva após a assembleia abriu o jogo em relação à cooperativa e os planos da diretoria para contornar a situação
POR: GIAN WAGNER BAUM
Nova Petrópolis – A sexta-feira (24) foi agitada para a diretoria da Piá que esteve pela manhã com os associados na assembleia anual e, à tarde, com a imprensa em uma coletiva chamada para falar sobre os resultados do ano da cooperativa.
A assembleia apresentou o balanço de 2022, aprovado pela maioria. O faturamento do ano foi de R$ 605,1 milhões, porém, o gasto do período foi maior, o que gerou um déficit de R$ 62,6 milhões. Esse valor está sendo tratado pela Cooperativa como “um resultado operacional negativo”. Apesar disso, a Piá apresentou um resultado positivo que é a redução do percentual de seu endividamento sobre a receita, que abaixou para 12,7%, contra 15,2% do ano anterior. É o quarto ano seguido que a Piá reduz este percentual, que chegou a ser de 20,7% em 2019. “Nosso resultado não é prejuízo, é resultado contábil negativo. Ele onera a operação da cooperativa nem compromete, onera nem gera dívida para o associado” A assembleia também elegeu os novos integrantes do Conselho Fiscal: Gerson Haas, Leonardo gomes de Oliveira e Juliana Ferreira Thiesen.
CONTRA A ASSEMBLEIA
O presidente Jeferson Smaniotto mostrou-se indignado com o prefeito de Nova Petrópolis, Jorge Darlei Wolf. Segundo ele, Darlei tentou impedir a realização da assembleia e teve seu pedido negado. “Nós estamos na capital nacional do cooperativismo e nós temos um prefeito com capacidade de fazer uma ação para suspender uma assembleia da cooperativa, no dia 23 às 17h ele entrou com uma ação no Ministério Público”, disse Smanioto. “Acho que tão pensando que a gente tá roubando a Piá para envolver Ministério Público. 18h40 o juiz respondeu, não concedendo a liminar”, finaliza.
A Prefeitura informou que teve um ofício para o Ministério Público em que o Poder Executivo Municipal manifestou preocupação com a situação financeira da Cooperativa Piá e a discordância com a escolha do modelo virtual para a assembleia. Também foi informado que, conforme relato de muitos produtores rurais, a cooperativa vem adotando “política segregatória” em relação aos agricultores associados que vendem leite, também, para outras empresas. A Prefeitura reitera que não se tratou de uma ação judicial, apenas uma manifestação.
DESEMPENHO EM 2022
Jeferson também falou sobre o ano para a cooperativa, dizendo que houve muita variação nos preços e aumentos significativos. “2022 foi um ano bastante variado. Iniciamos com desempenho melhor, mas tivemos aumentos só em janeiro e fevereiro de quase 20% na caixinha do leite. Tivemos desempenho bom em junho e julho, setembro caiu e novembro e dezembro despencou”
FLUXO DE CAIXA
A expressão da coletiva foi “fluxo de caixa”, que é o principal problema hoje da cooperativa, segundo a diretoria. “A gente só pagou conta e se autofinanciou. Não atrasamos pagamento de funcionário nem de produtor. Tivemos só em 2022 R$ 5 milhões em ações trabalhistas, tudo isso contribuiu”, diz Jeferson.
Em relação ao caixa da cooperativa, Jeferson diz que a Piá tem R$ 224 milhões em imóveis, e que o comprometimento em garantias é R$ 48 milhões. “O saldo de bens imóveis é de R$ 176 milhões, sem as máquinas, então a cooperativa não está quebrada”, alega. “O que a gente tem dificuldade é fluxo de caixa”, conta. “Tivemos a manifestação de interesse de várias agentes financeiros que estão a fim de voltar a acreditar na cooperativa diante do plano apresentado”.
A EXPLICAÇÃO – Jeferson diz que “quando a cooperativa começou os investimentos em 2010, 2011, foi feito um orçamento em 2008 que previa investimento na ordem de R$ 34 milhões na construção e ampliação da fábrica, na estrutura física e adoção de tecnologia. Somou R$ 94 milhões esse investimento com apenas R$ 34 milhões financiados há dez anos, que a gente tá pagando ainda”. Ele conta que em 2015 e 2016 começou a diminuir o limite de crédito da cooperativa em função de que os depósitos da cooperativa estavam diminuindo, pois pegava-se o recurso para fazer investimento de curto prazo.
MERCADO VAZIO
O problema das gôndolas vazias deve diminuir, mesmo está não sendo uma prioridade da Piá no momento. “Nós estamos hoje recuperando o estoque, hoje estamos voltando com uma estruturação”, diz o presidente que reforça que “não haverá venda da cooperativa Piá”. “A gente tem algumas avaliações da possibilidade de desmobilização, que significa se desfazer de alguma propriedade para colocar o valor no giro”, explica o presidente. Sobre as prateleiras vazias, ele diz que “nosso abastecimento é vivido porque nossas lojas são bastante grandes e dependem de grandes recursos para recompor o estoque”. Porém ignorou a recorrente falta de opções de produtos, não apenas da quantidade deles. Jeferson acredita ainda que o problema maior é nas AgroPiá. “Nas agropecuárias a gente sofre mais, porque são nossa vitrine para o associado e produtor de leite”, diz.
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AGROPIÁ DE TAQUARA
Segundo a diretoria, a AgroPiá de Taquara não fechou como noticiou a GZH e sim “diminuiu a estrutura”. Por isso, mudará de endereço. O motivo, segundo a cooperativa, foi a dificuldade de abastecer o estoque.
2
“NÃO DÁ PARA COMPRAR”
Para Smaniotto, “não dá para comparar a situação da Piá com a da Languiru”. Segundo ele, a comparação não é possível pois lá a dívida é bilionária e a Piá ainda tem muito valor em bens.
3
PRIORIDADES
A Piá paga os funcionários no início do mês e os produtores até o dia 15, com isso, falta dinheiro para abastecer os supermercados. A expressão usada é cobertor curto e a Piá já definiu que a prioridade do mercado está abaixo dos funcionários e produtores.
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DE CONFIANÇA
Para Smaniotto, a Piá ainda é de confiança. Ele diz que a cooperativa não deixou de pagar ninguém e que não deve para nenhum associado, dizendo que estes, se têm dúvidas, são causadas por boatos.
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NOVA PETRÓPOLIS QUER A PIÁ?
Talvez a mais intrigante frase de toda coletiva foi “Se é que Nova Petrópolis quer a Piá aqui ainda”, dita pelo presidente. Em relação a isso, ele complementa: “acho que o momento é de se unir e trabalhar com um olhar só, Poder público, entidades sindicais, agentes financeiros e imprensa”.
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CONTRA A FALÊNCIA
Smaniotto não pretende tomar nenhuma ação contra uma possível falência pois, segundo ele, “não existe risco de falência. A Piá é uma empresa sólida”.
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SOBREVIVÊNCIA
Sobre ações para garantir a sobrevivência da Piá, Smaniotto diz que “ela não está na UTI”, mas não nega as dificuldades. Entre as ações está recuperar o volume de leite e buscar parceria com empresas para criar produtos de valor agregado.