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Por que ganhou?

01/11/2018 - 15h16min

Por Alexandre Garcia

Um deputado que ficou por mais de 20 anos conhecido só no Rio, onde foi o mais votado, sem dinheiro, considerado do baixo clero da Câmara, é eleito Presidente da República – ainda sem dinheiro, sem tempo no horário eleitoral, praticamente sem partido e sozinho, tido como um Quixote e ainda com uma facada na barriga – na mais inusitada das eleições brasileiras. A eleição em si marca uma mudança de fase, como se tivesse virado uma chave de contínua para alternada na corrente política nacional. Como se fizesse surgir uma nova geração de partidos, de políticos e, finalmente: de eleitores. Um eleitor sem cabresto, sem moeda de troca, sem dinheiro; com vontade, com ideias próprias, com iniciativa, espontaneidade – e com as redes sociais na mão.

Que força teve Bolsonaro para mobilizar tudo isso? Provocar modificações de estrutura na política, eleger, à sua sombra, deputados, senadores governadores? Sonho e persistência? Desde que Dilma foi eleita, ele percorre o país para se tornar conhecido; sem marqueteiro, sem dinheiro, o tal Messias ía agregando discípulos, engrossando multidões nos aeroportos, a gritar mito! mito!. Um dia foi ao Comandante do Exército comunicar que sairia candidato, porque já estaria com 10 pontos de aceitação. O comandante só olhou, cético. Seus colegas de bancada na Câmara recomendavam que procurasse a via segura do Senado. Bolsonaro persistiu. 

Quando começou a preocupar a esquerda, tornou-se o sujeito de todas as frases. Cada comentário irônico ou contrário, trazia o sujeito Bolsonaro, repetido todos os dias, no rádio, no jornal, na TV, nas bocas dos que não o queriam. Esses ajudaram muito, fazendo ecoar, sem parar, em todos os ouvidos, o nome do candidato. A facada que era para ser mortal ajudou também. Prejudicou-o muito, porque tirou-o de seu ambiente, as ruas, mas houve também o ganho de tempo, quase inexistente no horário eleitoral, feito para eternizar os partidos tradicionais no poder. A facada o tirou dos debates, onde ele já havia dado mostras de seu estilo blitzkrieg. Nos debates em que não foi, seu nome foi o mais presente. 

Seu maior acervo foi ter sido capitão do Exército. Há anos as Forças Armadas aparecem como as instituições mais confiáveis nas pesquisas. Têm o significado de patriotismo e força moral. A religião também ajudou; a Teologia da Libertação espantou os pobres e hoje a grande força popular está nos evangélicos. Bolsonaro casou com uma evangélica da Ceilândia, cidade formada pela erradicação de favelas em Brasília. Finalmente, a convergência de idéias. A maioria silenciosa passou a falar, a maioria passiva e acuada por décadas por militantes arruaceiros, invasores, ativistas, teve a paciência esgotada e viu em Bolsonaro alguém que pensa igual à maioria, com as mesmas preocupações sobre segurança pública, família, corrupção, valores morais e Pátria. E deu-lhe 57.797.847 votos – 10.556.941 a mais do que seu adversário, que representava o que fora o maior líder popular desses tempos. São os votos da virada da chave.

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