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Professor de escolinha em Nova Petrópolis é condenado a 16 anos de prisão por abuso sexual

26/05/2022 - 09h48min

Atualizada em 28/05/2022 - 09h50min

Nei costumava levar as crianças para testes no juventude (Créd.: Divulgação)

Nova Petrópolis – A justiça condenou o professor Volnei Macário da Silva, de 58 anos, a 16 anos e seis meses de prisão por estupro de vulnerável. Nei, como é conhecido, era professor da Escolinha Imperador e dava aulas de futebol para crianças no campo do Esporte Clube Nova Petrópolis, sem ter relação com o clube. A vítima é um menino que era aluno de Nei, de 12 anos na época do crime ocorrido no fim de 2021.

A condenação tem por base ação penal promovida pelo Ministério Público e inquérito policial que teve apoio da rede de proteção à criança e adolescente e marca a semana de combate a exploração sexual e pedofilia. O professor, que nega o crime, está preso desde 5 de janeiro deste ano, quando teve a prisão temporária pedida pelo delegado Fábio Idalgo Peres e, com o indiciamento ao Ministério Público, foi convertida para preventiva (sem prazo). A sentença ainda não transitou em julgado e cabe recurso, mas o juiz entendeu por manter a prisão.

O Diário obteve acesso à sentença condenatória e aos relatos de Nei, da vítima e demais testemunhas. Cabe ressaltar que as informações a seguir podem ser sensíveis para algumas pessoas.

Entenda o caso:

Nei mantinha há muitos anos uma escolinha de futebol para crianças e adolescentes, inclusive encaminhando alguns meninos para testes no Juventude, em Caxias do Sul. No fim do ano passado, passou a ter um grau de proximidade maior com um de seus alunos que morava longe da escolinha. Por conta disso, o menino passou a dormir na casa de Nei para poder participar dos treinos que ocorreriam na manhã seguinte. A moradia do professor ficava junto a um bar, nas dependências do E.C. Nova Petrópolis. Com autorização dos pais, o garoto pôde dormir na casa de Nei, fato que teria ocorrido cerca de cinco ou seis vezes antes do abuso sexual.

Quando isso acontecia, o professor dormia em um colchão colocado na cozinha e deixava a própria cama e o quarto para seu aluno. Certa vez, o garoto acordou pela manhã e encontrou Nei ao seu lado, mas não deu bola por acreditar que o professor era sonâmbulo. Porém, alguns dias depois, na madrugada do dia 31 de dezembro, o professor agiu contra o menino enquanto ele dormia.

Estupro de vulnerável

Naquela noite, o menino acordou e percebeu que estava sendo tocado. Mas, por medo, fingiu estar dormindo. Nei tirou o calção do garoto e começou a fazer sexo oral, beijar-lhe a boca, entre outros abusos. O professor também tentou realizar a penetração, mas sem conseguir deitou-se ao lado da vítima. Por volta das 3 horas da madrugada, o garoto quis levantar para tentar ir embora. O professor quis disfarçar sobre como foi parar na cama com o garoto, enquanto ele pensava em uma foma de deixar o local.

Com medo de contar a seus pais, ele mandou uma mensagem para uma amiga, contando o que aconteceu e pedindo que ela chamasse os pais dele. Permaneceu acordado pelo resto da madrugada com medo que os abusos se repetissem, até que caiu no sono.

Presentes como forma de aliciamento

Na manhã seguinte, Nei levou o garoto para comer algo, depois comprou-lhe uma capinha para seu celular e passaram em um supermercado. Nisto, o pai do menino já havia sido informado pela amiga e foi buscá-lo. Perguntou se o filho confirmava tudo o que havia sido dito e, com a afirmativa, foram para a delegacia de Polícia Civil. Em depoimento, a vítima contou que Nei se propunha a fazer massagem nos pés e nas costas do garoto, como forma de aliviar as tensões físicas dos treinos de futebol. E naquela noite, o professor lhe fez massagem nos pés antes dele dormir. Também contou que achava estranho que o professor lhe comprava coisas, como salgadinhos.

Volnei costumava levar as crianças para testes no Juventude (Créd.: Divulgação)

Tentativa de manipulação e ameaça de suicídio

Volnei mandou áudios e mensagens na tentativa de fazer o garoto não denunciar. Além disso, também contatou os pais da vítima, dizendo-se estar muito triste e com vontade de se matar. Tais mensagens foram agravantes contra ele próprio pois foram usadas como provas. De acordo com a sentença, o professor se fez passar por sofrimento psíquico e ideal suicida numa clara tentativa de justificar seus atos, além de sensibilizar a vítima e não denunciá-lo. Ainda usou falas emotivas com apelo religioso e tentando retomar a confiança.

Defesa de Volnei

O professor nega ter cometido qualquer ato de abuso sexual, assim como nega sentir atração por meninos. Segundo ele, a vítima teria inventado tudo como forma de fazer seu pai lhe tirar da escolinha de futebol, uma vez que ele não tinha mais interesse em frequentá-la. Para reforçar sua defesa, usou o fato de o garoto ter faltado algumas vezes aos treinos para sair com amigos. Tais justificativas não tiveram crédito, pois todos os relatos da vítima eram coerentes e, além disso, o menino é fanático por futebol, não havendo porquê inventar.

Nei está com 58 anos (Créd.: Divulgação)

No dia em questão, Nei disse que o garoto pediu para dormir em sua casa pois não tinha como voltar e tinha treino na manhã seguinte. O professor teria orientado o aluno a primeiro informar e pedir permissão aos pais. Já durante a noite, ele estava fazendo a janta quando o garoto reclamou de dor nos pés e pediu a massagem. Deixou a criança dormir em seu quarto como sempre fazia e foi dormir no colchão da cozinha. Disse ainda tratar todos os alunos com carinho, mas via no garoto em questão muito potencial para o futebol e não queria que ele desistisse.

Condenação

Volnei foi condenado por estupro de vulnerável, que ocorre quando a vítima tem menos de 14 anos. A justiça considerou que o professor abusou da confiança que o menino e a família tinham nele e ainda premeditou o crime, tendo preparado o cenário ideal para agir e ainda buscou evitar sua responsabilidade diante dos fatos ao enviar as mensagens via celular. Além disso, ele é pai de um filho também menor de idade. A pena foi fixada em 11 anos de reclusão e, por exercer autoridade sobre a vítima, teve ela aumentada em metade, totalizando 16 anos e seis meses.

O garoto e a família passam por acompanhamento psicológico.

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