Geral
Quando o hobby vira trabalho
O mais recente mantra que vem dominando o mundo profissional é “Siga sua paixão”. Siga sua paixão e você não terá que trabalhar um único dia em sua vida, quantas vezes você já leu essa frase em postagens inspiradoras nas suas redes sociais?
Essa ideia sugere que você saia do seu sombrio emprego das nove às cinco e assuma seu hobby como profissão. As histórias de sucesso de milionários que fizeram o que amavam nos encorajam a imitá-las. Mas esse fascínio em transformar paixões em profissões pode ser traiçoeiro.
Neste artigo, apontaremos as principais armadilhas que se apresentam aos que pretendem transformar seu hobby em um emprego em tempo integral.
Em primeiro lugar, você enfrentará falta de dinheiro e empregabilidade. Quando fazemos algo que amamos, esperamos que o dinheiro apenas caia dos céus. Mas, na realidade, muitos hobbies são inúteis e as chances de conseguir um emprego bem remunerado são poucas ou nenhuma. Você sempre estará preocupado em quitar as despesas e viverá estressado.
Dessa forma, a ideia de um hobby é arruinada. Depois de transformá-lo em profissão, ele simplesmente deixa de ser o seu hobby. Um dos principais motivos pelos quais buscamos hobbies é ter uma saída para desabafar e obter algum alívio depois de um dia de trabalho cansativo. Quando esse passatempo se torna um trabalho, torna-se naturalmente tedioso e você não vai gostar tanto quanto quando era apenas um hobby. Por exemplo, um entusiasta dos e-sports pode adorar jogar FIFA ocasionalmente, mas se adaptar ao estilo de vida de um profissional, com horas de treinamentos diários, viagens constantes para campeonatos e a pressão por títulos, tudo isso pode resultar em ressentimentos com os games.
Se você não conseguir um emprego no campo que deseja, sempre há a alternativa de se tornar o seu próprio patrão. Dessa forma, você pode buscar o que ama e fazer as suas próprias regras. Mas o que geralmente é esquecido é que, nesses casos, tempo é dinheiro. Se você quiser ganhar o suficiente, terá que investir muito tempo nisso. Para ver os resultados, você terá que se dedicar integralmente, e isso pode deixar você sem tempo para qualquer outra coisa.
Steve Jobs disse uma vez: “Você precisa encontrar o que ama. Seu trabalho vai preencher uma grande parte de sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um ótimo trabalho é amar o que você faz”. Apesar de ser uma mensagem edificante, podemos notar que ele fala muito sobre “você”. E isso não é o suficiente para alguém chegar a qualquer lugar. Você tem que vender a sua paixão para os seus clientes que pagarão por isso. Você não vai mais perseguir o seu hobby por si mesmo, o que pode significar que você pode nem mesmo fazer isso tão bem quanto você fez enquanto era apenas um hobby.
A falta de estabilidade aumentará a quantidade de pressão que você coloca em si mesmo. Algo que você amou uma vez se tornará uma fonte de ansiedade para você. Você será duramente pressionado para ser bem-sucedido e, devido à imensa pressão, você não ficará satisfeito com o seu trabalho.
O poker é um dos melhores exemplos quando falamos sobre hobbies que viraram profissões para os melhores. Os exemplos de profissionais brasileiros que começaram no esporte como mero passatempo são inúmeros. Mais recentemente, o premiado atleta Pedro Padilha (apadrinhado por ninguém menos que André Akkari, o número 1 do Brasil) publicou em suas redes sociais um texto que fez sucesso.
Na publicação, Padilha discorre sobre a realidade do jogador de poker profissional no país, bem distante da imagem glamourosa que as pessoas têm sobre o meio. Ele deixa claro que o esporte não é sobre dinheiro e que isso acaba frustrando muitos praticantes. Durante seu relato, pontua que essa atividade requer muita dedicação: meses de estudo, anos de prática e pouquíssimas horas de sono. É um desabafo sincero que esconde lições valiosas aos que pensam em transformar este hobby específico no seu ganha-pão.
Em suma, “Siga sua paixão” é um ideal sublime que pode ser seguido apenas por alguns privilegiados. Segundo o investidor norte-americano Mark Cuban, bilionário dono do time de basquete Dallas Mavericks e um dos astros do reality show “Shark Tank”, seguir a sua paixão é um péssimo conselho e “uma das maiores mentiras” sobre a vida profissional.
De acordo com o bilionário, muito mais importante que a paixão é o esforço que você dedica ao seu trabalho: “Para ser um dos melhores, você precisa se esforçar. Então não siga a sua paixão, siga o seu esforço”.
Mas nem tudo está perdido! Como diz Mike Rowe, apresentador da série de TV “Dirty Jobs” do Discovery Channel: “Não siga sua paixão. Sempre traga isso com você.” Com isso, ele quer dizer que você pode levar a sua paixão a qualquer trabalho em que esteja envolvido, o que lhe dará satisfação e estabilidade financeira. Também lhe dará tempo suficiente para prosseguir com seus hobbies, sem pressão para ganhar dinheiro com isso.