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Resgatados em Nova Petrópolis entraram ilegalmente no Brasil e terão que voltar à Argentina

03/04/2023 - 10h55min

Comida era preparada em uma chapa sobre pedras no meio do mato (Créd.: PF)

Nova Petrópolis – Os lenhadores resgatados no final de semana em situação de trabalho análogo à escravidão, em Linha Imperial, são do Norte da Argentina e entraram ilegalmente no Brasil no ano passado por conta própria. Por conta disso, terão que retornar ao seu país. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) está em contato com o governo argentino para viabilizar o retorno.

Desde o resgate, os quatro estão em um alojamento em Caxias do Sul, disponibilizado pela Fundação de Assistência Social. O Ministério está atuando também para que os trabalhadores recebam os devidos pagamentos. “Foi uma situação bem ruim porque na verdade eles não tinham alojamento, eles estavam acampados. Era uma barraca de lona, sem água potável, sem banheiro, sem cozinha. Comida eles faziam em uma chapa em cima de umas pedras. Mínimas condições, nada adequado. Ficou completamente caracterizada essa condição degradante do trabalho pelo próprio local onde eles viviam enquanto trabalhavam”, destaca o gerente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) da Serra, Vanius Corte.

Entenda o caso:

A Polícia Federal está investigando um possível caso de trabalho análogo à escravidão em Nova Petrópolis, após o relato de dois trabalhadores argentinos que afirmam terem sido contratados em agosto de 2022 para cortar árvores na região e nunca receberem pagamento. Segundo os trabalhadores, de 24 e 45 anos, eles eram obrigados a morar em barracos improvisados e foram abandonados pelo empregador sem dinheiro e local para pernoite.

Na noite de sexta-feira, 31, os trabalhadores teriam trabalhado normalmente e, posteriormente, reclamado das condições de trabalho. Em seguida, o “patrão” convidou a dupla para jantar em um restaurante. Após jantarem, eles entraram em um veículo sedan prata e começaram a rodar, sendo abandonados no município de Bom Princípio, cerca de 45 quilômetros de Nova Petrópolis, sem nenhum dinheiro.

Espumas eram usadas como colchões (Créd.: Polícia Federal)

Caso descoberto

Na manhã se sábado, 1º, os dois argentinos procuraram o 3º pelotão do 27º Batalhão de Polícia Militar em Bom Princípio para relatar sua situação e afirmaram terem sido transportados para lá após reclamarem das condições de trabalho. Eles disseram ter sido ameaçados de morte caso avisassem a polícia sobre sua situação.

A Polícia Federal foi informada e deslocou uma equipe para Nova Petrópolis para investigar o caso. De acordo com o delegado Adriano Medeiros do Amaral, que atua na regional de Caxias do Sul, a PF recebeu informações de que havia ainda outros dois estrangeiros na região de mata, sendo eles pai e filho, o menino tendo 14 anos.

Equipes do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego também foram avisadas e foram para Nova Petrópolis para acompanhar o caso. Aos agentes, os argentinos relataram que seriam pagos apenas no fim do serviço, mas nunca receberam salário pela função de lenhador. Apenas recursos para a alimentação eram feitos pelos empregadores.

Pai e filho resgatados

Vítimas ficam em barracos no meio do mato, Polícia Federal investiga (Créd.: Brigada Militar)

Na noite de sábado, 1º, uma ação conjunta realizada pela Brigada Militar, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho conseguiu encontrar as outras duas vítimas em Linha Imperial, e constataram a precariedade do local onde estavam. Após descobrir onde estaria o suspeito responsável pela contratação das vítimas, os policiais foram até a localidade de Pinhal Alto, mas não encontraram ninguém em casa.

Por volta das 19 horas, um veículo com placas de Nova Petrópolis se aproximou do local, mas ao ver as viaturas tentou fugir. O carro foi abordado, e nele estavam três homens, incluindo o responsável pela contratação das vítimas. Ele tinha antecedentes por lesão corporal, ameaça, estupro, desobediência e crimes contra a flora, e era contratado pelo dono da terra para contratar os argentinos para trabalhar no local. Os outros dois homens que estavam no carro, em princípio, não tinham envolvimento com o crime.

O autor foi preso em flagrante e conduzido à delegacia da Polícia Federal em Caxias do Sul, em seguida, levado ao sistema penitenciário. As vítimas foram encaminhadas para atendimento médico e psicológico, e serão acompanhadas pelo Ministério Público do Trabalho.

Em defesa da escravidão?

Comentários criticando os trabalhadores (Créd.: Redes Sociais)

Tão longo O Diário publicou notícias sobre o caso descoberto, incluindo um menor de idade em situação análoga à escravidão, os comentários nas publicações começaram. Muitos deles, infelizmente, em defesa dos escravistas e contra os trabalhadores. O mesmo tom de defesa ao crime continuou até mesmo após publicação da prisão do responsável e divulgação de seus antecedentes criminais, como estupro, lesão corporal, ameaça, entre outros.

Uma moradora de Dois Irmãos comentou: “Menos, né? Na minha época isso não era tratado como escravo. Agora trabalhar virou escravidão??”. Uma mulher de Estância Velha concordou: “Exatamente, tá ficando ridículo isso. Quero ver quando não tiver ninguém pras colheitas e começar a faltar nas prateleiras. Eles estão achando legal agora denunciar, ganhar um dinheirinho bom, mas e depois?”.

Já um morador de Ivoti comentou: “Hoje em dia as pessoas querem somente o emprego quando percebem que precisam trabalhar eles colocam o patrão na justiça”, o mesmo também comentou: “tem empresário com medo de contratar por causa dessa palhaçada”. Outro disse ainda: “Tá virando uma palhaçada só. Vão carpi um lote. Pouca vergonha isso aí agora é tudo escravidão”. “O povo aprendeu a mendigar e não quer nada que se refere em trabalhar”, disse uma idosa.

Esses foram apenas alguns dos inúmeros exemplos de comentários maldosos e negacionistas. Houveram também diversos comentários “comparando” trabalho análogo à escravidão com outras atividades: “E os médicos cubanos”, “escravo era ser professor no tempo do Sartori”, “todos somos escravos com os impostos que pagamos”, “Então eu também sou escravo, levanto às 4 da manhã e vou dormir às 22”.

Região em Linha Imperial que os trabalhadores estavam

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