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Risco: vaca morre eletrocutada enquanto pastava perto da rede elétrica em Herval
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – Mais uma vez os alertas insistentes dos moradores de nada serviram. Desta vez a desatenção da RGE, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica, culminou em uma tragédia – que por pouco não foi maior. Uma vaca prenha de sete meses morreu eletrocutada na tarde de sexta-feira, 4, enquanto pastava no potreiro que fica ao lado da fiação elétrica, cuja estrutura está rente à RS-373 entre Boa Vista do Herval e Alto Padre Eterno, principal via que liga a Gramado com movimento constante de veículos e pedestres.
Os postes de madeira do trecho foram substituídos pelos de concreto há mais de um ano e, desde lá, os moradores relatam que havia curto na estrutura de um deles. “Quando um pássaro pousava lá morria e dava estouros fortes”, disse a agricultura Marlise Spiering, 61 anos. Seu marido, Sérgio Spiering, 63 anos, conta que o chão sempre está cheio de passarinhos, dos mais diversos. Ontem, ainda haviam cinco deitados lá, carbonizados.
Além disso a geladeira da família queimou por causa dos curtos há três semanas e um vizinho perdeu várias lâmpadas. “Mesmo dando curto, o disjuntor nunca caía, ou seja, o risco era constante”, explicou Sérgio.
Na sexta-feira, logo após o meio dia, a vaca que tinha aproximadamente três anos e meio estava pastando quando a família escutou um forte estrondo. Olharam para fora e viram os demais vacas correndo e, uma delas, perambulando por cerca de três metros até cair no chão. Chegaram perto e viram que estava morta. Mais uma vez, mesmo matando um animal daquele porte, os disjuntores não caíram.
Ferimentos por tudo
O laudo de um médico veterinário, que foi ao local, atestou que a vaca estava no sétimo mês de gestação. Concluiu que o coração, pulmões, intestino delgado e grosso, além do útero do animal tiveram lesões compatíveis com uma descarga elétrica. A força foi tanta que, quando tiraram o feto, a cabeça do filhote estava “rachada”.
Na manhã de ontem, 7, os agricultores registram uma ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Santa Maria do Herval, na qual afirmam ter tido prejuízo de R$ 10.500.
“Podia ter acontecido conosco”
A perda do animal causou prejuízo para os agricultores. Afinal, foram anos de investimento. Mas, o que não para de passar na cabeça deles é que qualquer um que passava ali poderia ter sido a vítima fatal. “As pessoas passam ali todos os dias, nós passamos. Podia ter acontecido conosco”, afirmou Marlise.
Ali, no mesmo lugar, há um acesso para uma residência vizinha onde moradores entram e saem todos os dias. Além disso uma equipe que está trabalhando na futura obra do asfalto esteve lá com escavadeiras para alargar a rua dias antes.
Funcionários teriam dito que a instalação estava errada
Imediatamente depois da tragédia consumada a RGE compareceu ao local com uma equipe e, em questão de 50 minutos, resolveram o problema. À reportagem, Sérgio relatou o mesmo que afirmou no registro da ocorrência policial. “Um deles disse que realmente havia sido feito uma instalação errada e este era o motivo do curto”.
Em outras palavras, o agricultor disse que o cabo estava próximo demais de uma estrutura metálica e, por este motivo, toda vez que um pássaro pousava perto causava o curto, atingindo toda a estrutura do poste e o que estava ao redor. “O cara da RGE disse que quando dava uma descarga assim tudo o que estava num raio de cinco metros morria”.
Os moradores confirmam que há meses já alertavam para o problema. “Faz três semanas vieram olhar, mas nada foi resolvido. Disseram que tinha que vir uma equipe técnica, mas não apareceram”, afirma Marlise.
Agora, o transtorno para ser indenizado
Passado o susto e aliviados por não ter sido uma pessoa, os agricultores agora buscam reaver o prejuízo. Já com o laudo do veterinário atestando a causa, o animal foi para a graxaria pois nada se podia aproveitar. “Agora, eles estão solicitando um laudo de um frigorífico onde consta o peso do animal. Como vou conseguir isso?”, questionou Sérgio indignado, temeroso de que pode vir a ficar sem ser ressarcido pela perda.
Resposta da RGE
A reportagem estava questionado a RGE deste a tarde de sexta-feira, 4, quando foi comunicada pelos moradores quanto ao ocorrido. Responderam somente ontem, 7, às 16h29.
Em nota falaram que “há registro de apenas uma reclamação, feita no dia 1º de fevereiro e atendida no mesmo dia. A equipe que esteve no local não identificou situação de risco. Mesmo assim, no dia 4 de fevereiro a RGE enviou equipe novamente ao local para fazer uma instalação preventiva de isolação adicional na rede de média tensão, como forma de dar ainda mais segurança. A análise preliminar sustenta contato acidental com pássaros, fechando curto circuito com estrutura do poste”.
A reportagem, entretanto, questionou como um curto pôde vir a acontecer daquela forma, e qual o erro cometido, já que no lugar do animal poderia estar uma pessoa. Foi questionado, também, se isso pode estar ocorrendo em outros lugares e como poderiam comprovar a segurança.
Não responderam estes questionamentos e não afirmaram se tratar de uma situação de risco, mesmo com um óbito. Vereadores já afirmaram que cobrarão por respostas quanto ao caso, com possível convocação da empresa para prestar esclarecimentos na Câmara.