POR GUILHERME SPERAFICO

A região deve ter hoje e amanhã, predomínio de tempo bom e possibilidade céu limpo, mas a situação não deve perdurar. Um novo período de chuva tende a ser registrado nos próximos dias, conforme previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Embora atual, a previsão indicada acima poderia estar publicada em praticamente qualquer edição do Diário nos últimos quatro meses. Este é um reflexo do que tem se repetido frequentemente no Estado desde o início do inverno, por conta dos efeitos do fenômeno “El Niño”.

Em junho, seguidos períodos de chuva foram registrados, sucedidos por dias de tempo limpo e retorno da chuva. O mesmo ocorreu em julho. Somente em agosto o Estado passou por um mês com menor incidência de precipitação, que antecedeu setembro: o mês mais chuvoso da história.

Mês mais chuvoso em 107 anos

Setembro é o mês mais chuvoso de Porto Alegre em 107 anos, de acordo com o Inmet. Até a última terça-feira, o acumulado de chuva na Capital já registrava 413,8 milímetros (mm). É o maior volume para um único mês desde 1916, quando teve início a série histórica, usada como referência para a região por ter o registro mais antigo entre os municípios da região metropolitana.

O recorde anterior havia sido em maio de 1941, quando volume de precipitação chegou a 405,5 mm.

Meses com maiores acumulados na Capital:

*Dados parciais, até a última terça-feira (26)

Recorde em 39 anos de registro

Mais perto da Encosta da Serra, a Estação Climatológica de Campo Bom tem registros de precipitação pluviométricas há 39 anos e, assim como aconteceu na Capital Gaúcha, setembro foi o mês com maior quantidade de chuva.

De acordo com o meteorologista Nilson Wolff, até as 14 horas de ontem os dados da estação apontam que havia chovido 455,8 mm em Campo Bom. O recorde anterior de mês mais chuvoso pertencia a julho de 2015, quando haviam sido registrados 450,6 mm.

Considerando apenas setembro, a média história esperada para o mês era de 171 mm. Até este ano, o maior volume registrado no período nos últimos 39 anos havia sido em 2009, quando choveu o equivalente 368,1 mm. O terceiro lugar do ranking pertence a 1988, com 345,7 mm.

Influência do El Niño

A grande incidência de chuvas que vem atingindo o Estado no decorrer do inverno é impulsionada pelo fenômeno El Niño. De acordo com Nilson Wolff, neste ano as consequências dele tem sido maiores do que o habitual. “Os modelos de vários institutos estão projetando que o El Niño vai perdurar por, no mínimo, dois meses. Tem chance de que o auge dele ocorra outubro e novembro. Vamos torcer que não chova tanto, mas o risco existe”, relata.

Ainda segundo Wolff, para os próximos meses as previsões podem não se confirmar, mas há possibilidade também de que o fenômeno se mantenha até o verão, no início do próximo ano. “O predomínio do El Niño força a ocorrência de chuva e umidade no Sul do Brasil. Esse ano estão denominando ele de ‘Super El Niño’. Então, em um primeiro momento, dá para esperar um verão chuvoso. Isso na tendência atual, que pode se alterar”, explica.

Caso as previsões de permanência até o verão se confirmem, as temperaturas devem castigar os gaúchos. “Como terá muita umidade, a sensação de calor será mais alta. O calor úmido é sufocante, ao contrário do calor seco. Ele traz maior desconforto para as pessoas”, conclui.

2023 deve ser um dos anos mais chuvosos

Depois de entrar para a história por ter o mês mais chuvoso já registrado, 2023 também deverá terminar com precipitação acima do normal, caso as previsões de permanência no El Niño se confirmem.

Os dados da Estação Climatológica de Campo Bom apontam que, até o início da semana, o acumulado já estava em 1580 mm.

Anos mais chuvosos registrados:

*Acumulado aproximado até o início da semana

Acumulado do ano na região é ainda maior

Se os números captados em Porto Alegre e Campo Bom já impressionam, na região a situação chama ainda mais a atenção. Com medições diárias desde o ano 2000, o morador Evaldo Lenhard, de Estância Velha, captou expressivos 578 mm em sua propriedade, localizada no bairro União, até o início da tarde de ontem. Os números são utilizados, inclusive, pela Defesa Civil do município.

Os dados de setembro também o colocam como o mês mais chuvoso desde que são feitos registros diários. O recorde anterior foi deixado para trás. Assim como em Campo Bom, ele remetia a julho de 2015, quando, em Estância, choveu 517 mm.

Acumulado mês a mês em 2023:

*Dados até o início da tarde de ontem

Números anuais

Segundo os dados de Lenhard, o acumulado do ano no município chega a, pelo menos, 1969 milímetros. Considerando o que ainda choveu até a tarde de quarta-feira e a previsão de chuva para sábado, há possibilidade de que os 2000 mm sejam batidos ainda neste mês.

No início deste ano, um levantamento apresentado pela Prefeitura através das medições do estanciense, mostram o acumulado de chuva ano a ano. Com o resultado parcial de 2023, já choveu mais em 9 meses do que anos anteriores inteiros.

Acumulado ano a ano em Estância Velha:

*Números parciais até setembro

Chuva dia a dia em setembro

O mês histórico que acumula mais de 578 mm na região, teve, em seus primeiros 27 dias, 18 com registro de chuva. Confira quanto choveu a cada dia em Estância Velha: