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Sobreviventes da queda do ginásio relembram cenas de terror uma década depois

14/11/2019 - 18h50min

Atualizada em 18/11/2019 - 11h00min

São José do Hortêncio – Sentados em frente ao ginásio da Escola Municipal São José, cinco personagens de uma das maiores tormentas da história recente da região relembram dos momentos de pavor e tensão vividos na pele. A sexta-feira, 13 de novembro de 2009, marcou para sempre a memória e proporcionou um verdadeiro recomeço de vida.

Dez anos depois, a região da Encosta da Serra relembra duas tempestades devastadoras: uma delas foi no fatídico dia, por volta das 14h30, e outro, por volta das 4h do dia seguinte. O saldo em praticamente todos os municípios foi de destelhamentos, destruição de prédios, quedas de árvores, inundações, crateras no asfalto em ruas e rodovias, além de falta de energia elétrica por vários dias.

Mas talvez nenhum município tenha sofrido tantos estragos quanto Hortêncio, onde, estimou a Prefeitura na época, uma em quatro casas teve algum dano. E ali, impressiona um símbolo da devastação causada pelo temporal e da reconstrução seguinte à tragédia. Dez anos depois, a História reencontra a professora Tatiani Mohr e os 19 alunos do 3º ano, salvos por ela durante a tormenta.

Todos são sobreviventes do desabamento do antigo prédio do ginásio da mesma escola. A chuva e o vento deixaram intactos somente a área do palco, onde eles ficaram abrigados. A reportagem do Diário reuniu a professora, hoje diretora da escola, e mais quatro destes alunos: Danielle Wecker, Luana Weber, Carolina Senger e Ezequiel Koch.

Professora e alunos no exato local do ginásio onde escaparam ilesos

Instinto

Ainda hoje, todos vivem em Hortêncio. Sabem da sorte que tiveram, e não fosse o instinto de Tatiani, talvez nenhum deles estivesse vivo para relembrar esta história. Hoje, jovens adultos com 18 e 19 anos, eles carregam em suas almas as lembranças do episódio que jamais havia acontecido com tamanha intensidade e proximidade.

“De repente começou a escurecer. Eu vim até a porta do ginásio, porque eu ia trazer eles até a escola. Abri a porta, olhei, e tinha muito vento, materiais voando. Pensei em levar eles pra fora. Chamei todo mundo. Acabei levando eles para cima do palco, que era onde não estava pegando água. Nisso, a luz terminou, e volta e meia clareava. O telhado levantava”, afirma Tatiani.

Colapso

Ela e os alunos contam que nunca imaginaram que, instantes depois, a estrutura entraria em colapso. “Eu estava olhando para cima, para o teto, e vi as lâmpadas chacoalhando. Pensei que tudo ia cair. Naquele momento não tínhamos noção do que estava acontecendo. E foi ali que tudo desabou”, conta Carolina.

Na hora do desabamento, os alunos estavam reunidos com a professora, rezando. “Depois disso tudo, até conseguir chamar alguém, também levou um tempo, porque na escola também estava o caos, as salas de cima também estavam destelhadas. E no nervosismo, ninguém lembrou que poderia haver uma turma no ginásio”, diz Tatiani.

Uma das primeiras providências foi tentar acalmar as crianças, que perguntavam por suas próprias casas. “Eu dizia que estava tudo bem. Depois de conseguir entregar todos eles, foi um sentimento que não tem explicação. Eu fiquei ali, firme e forte, até o último instante. Quando o último tinha ido, eu comecei a chorar. E chorei por duas horas seguidas, e não dizia uma palavra”, comenta.

Recomeço

Não apenas o ginásio da escola tinha sido destruído. Salas de aula também perderam seus telhados. As aulas de muitas turmas foram transferidas para a escola paroquial do município, onde permaneceram até os primeiros meses de 2010. Mas eles precisaram de um novo recomeço. Retornaram depois à Escola São José, onde se formaram no Ensino Fundamental.

A maioria, depois, cursou o Ensino Médio no Instituto Alfredo Oscar Kiefer. No ano passado, na formatura do 3º ano, muitos deles prestaram uma merecida homenagem a Tatiani, àquela que salvou suas vidas. Já o ginásio foi reinaugurado em 2014. “Se eu tivesse ficado em outro ponto, as paredes tinham caído em cima da gente. Alguma força maior ajudou a gente naquele dia”, diz Tatiani.

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