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Somente em 2023, mais de 300 trabalhadores foram resgatados em trabalho análogo à escravidão no Estado
Estado – Com os quatro argentinos resgatados em Linha Imperial, Nova Petrópolis, nas noites de sexta e sábado, 31 de março e 1º de abril, o Rio Grande do Sul já atingiu um recorde no número de trabalhadores resgatados em condição análoga à escravidão em apenas três meses. O número total no Estado é de 303 somente este ano, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Este número é quase o dobro do total de 156 resgatados em 2022 e representa quase quatro vezes mais do que os 76 resgatados em 2021. Neste ano, o número de libertados no Rio Grande do Sul corresponde a 33% de trabalhadores em todo o Brasil que estavam em condição análoga ao trabalho escravo. Com os argentinos, no país inteiro, foram retirados pelo menos 923 pessoas em situação de opressão ou exploração.
As vítimas encontradas trabalhavam em condições degradantes, em que eram privadas de liberdade, sofriam ameaças e violência física e psicológica, além de receberem baixos salários, quando recebiam, e não terem acesso a serviços básicos de saúde e higiene.
Em Nova Petrópolis
O caso de Nova Petrópolis, que teve repercussão até mesmo internacionalmente, só foi descoberto porque, depois de mais um dia de trabalho, dois dos quatro trabalhadores reclamaram das condições de trabalho e por não receberem salários desde agosto de 2022, quando foram contratados. Assim, o “patrão” chamou a dupla para jantar em um restaurante e, após a refeição, levou os dois até Bom Princípio, cerca de 45 quilômetros de Nova Petrópolis, e os abandonou na rua, sem qualquer dinheiro, sob ameaça de morte caso contassem à polícia.
Felizmente, a dupla conseguiu chegar ao 3º Pelotão do 27º Batalhão de Polícia Militar, em Bom Princípio e denunciar o caso na noite de sexta-feira, 31. No dia seguinte, 1º, uma ação conjunta entre Brigada Militar, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho foi até o enderenço em Linha Imperial e resgatou os outros dois argentinos, pai e filho, sendo um de 14 anos. O empregador, um homem de 30 anos com diversos antecedentes criminais, foi preso no Pinhal Alto ainda naquela noite.
Nota de repúdio
Até o fechamento desta matéria, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Nova Petrópolis (CDL-NP ) entidade que congrega os dirigentes lojistas e empresários de Nova Petrópolis e Picada Café, foi a única a manifestar publicamente uma nota de repúdio ao caso de trabalho escravo no município. “A CDL defende a democracia, bem como as leis vigentes em nosso país e reforça a importância das investigações pelos órgãos competentes para apurar os fatos ocorridos”, disse o presidente da CDL-NP, Guilherme Lima.
Outros casos
Em fevereiro, 207 pessoas foram resgatadas em Bento Gonçalves em operação contra trabalho semelhante à escravidão. Eles trabalhavam para terceirizadas de vinícolas gaúchas. Outro estado também com grande número de resgatados é Goiás. Até 20 de março, 365 pessoas haviam sido salvas, mais da metade deles trabalhavam em lavouras e usinas de cana-de-açúcar.