Esporte
TERCEIRA IDADE: Conheça o bolão, um esporte ancestral em que os jogadores jogam de igual para igual
Centenas de moradores fazem parte de algum clube que mantém a tradição viva na região
Nova Petrópolis | Gian Wagner Baum – gian@odiario.net
Se em praticamente toda cidade brasileira tem pelo menos um campo de futebol, na região colonizada por imigrantes alemães outra estrutura também ganha espaço, porém dentro das sociedades: as canchas de bolão. Em Nova Petrópolis, por exemplo, há canchas no Centro e em muitas sociedades do interior, onde o esporte é fielmente praticado pelos ‘bolonistas’ locais. Na cancha o objetivo é simples: derrubar nove pinos com uma bola de madeira de 23 centímetros.
São muitas pessoas que praticam este esporte ancestral, que deu origem ao bowling (boliche americano), mas que segue sendo jogado como antigamente no Sul do Brasil, um dos lugares fora da Alemanha onde se mais joga bolão no mundo. Para se ter uma ideia, a Alemanha estima ter hoje 90 mil jogadores de bolão, além de mais 130 mil em países próximos como a Suécia, Bélgica e Luxemburgo.
No Rio Grande do Sul existem mais de 2.500 federados, mas isso é apenas um percentual dos que praticam e estão aptos a participar das competições oficiais como o estadual e o nacional. O número de bolonistas não federados é muito maior, uma vez que apenas o campeonato municipal da categoria feminino de Nova Petrópolis envolve 90 jogadoras em sete equipes. O municipal em Nova Petrópolis conta ainda com clubes masculinos, de casais e o bolão de terra, que é bastante parecido com o bolão tradicional, mas em cancha de terra.
Equipe da Sociedade Tiro ao Alvo se preparando para entrar na sociedade (Créd. Gian Wagner Baum)
BRASILEIRÃO EM CASA – E foi graças ao título conquistado pela equipe feminina da melhor idade da Sociedade Tiro ao Alvo em 2019 na cidade de Gramado que Nova Petrópolis foi selecionada para sediar o Campeonato Brasileiro da Melhor Idade Feminino no final de agosto. O campeonato homônimo masculino estava programado para ser em Imigrante, mas reformas na cancha local contribuíram para que as disputas masculinas fossem também levadas a Nova Petrópolis. “Vimos essa oportunidade de fazer os jogos na sociedade Juvenil, mas a equipe de Imigrante continuou sendo a anfitriã”, explica Enardo Braun, o presidente da Federação de Bolão do Rio Grande do Sul. “Foi um evento muito bonito, quatro dias de disputas. Pessoal gostou muito de Nova Petrópolis e de poder aproveitar e passear também quando não estavam competindo”, explica Braun.
O campeonato nacional é intercalado entre Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. No Rio Grande do Sul o campeão da edição anterior pode sediar os jogos. Porém, os próximos dois já tem estado definido: em 2023 será em Santa Catarina e em 2024, no Paraná.
Solenidade de abertura contou com as 30 equipes e mais de 300 atletas (Créd. Gian Wagner Baum)
Bolão é inclusivo
O presidente da Federação Gaúcha joga bolão desde pequeno. “Não era automático, aí a gente ficava lá para erguer os pinos e devolver a bola”, conta ele lembrando os tempos de “gandula” do bolão. “Isso hoje não existe mais, até porque não precisa. Porém sei que esse primeiro contato que nós tínhamos quando criança faz falta para desenvolver o gosto pelo bolão nos jovens”.
Enardo acredita que o bolão é um esporte inclusivo, pois permite as pessoas jogar mesmo que não tenham mais a disposição de quando mais jovem. “Sem contar que é muito bom para a cabeça, ver os amigos, dar risada, ter uma competição saudável”, revela Braun.
Atleta comemora o “strike” após derrubar todos os pinos em uma jogada (Créd. Gian Wagner Baum)
O BRAÇO DE OURO
O bolão mantém uma legião de fiéis praticantes. Há cinco anos, José Carlos Werle, conhecido como Zé entre os amigos do bolão, mantém o blog “O Braço de Ouro”, onde acompanha as competições estaduais, regionais, municipais e, claro, as nacionais. “É uma paixão”, revela.
Zé conta que as competições geralmente contam com dez atletas em cada time, com exceção da Melhor Idade e do Juvenil, que são cinco apenas. Os times fazem as “passadas” pelas quatro canchas. Após as três passadas, os times que marcaram mais pontos se classificam para a final. Geralmente são seis equipes que passam para a final que, normalmente, ocorre nos domingos, último dia de disputas. “Quase sempre as disputas são muito acirradas, como a final do masculino que foram apenas dois pontos de diferença para o segundo colocado”, conta Zé.