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TERCEIRA IDADE: Dona Ilse recorda alguns momentos que viveu em Nova Petrópolis

14/07/2023 - 14h03min

Atualizada em 14/07/2023 - 14h03min

Professora Ilse com um dos livros que guardam a história da família (CRÉD. GIAN WAGNER BAUM)

As memórias dela e da família estão guardadas em álbuns organizados pela professora aposentada

GIAN WAGNER BAUM

Nova Petrópolis – Para que não sejam perdidas, as histórias precisam ser registradas. Às vésperas de completar 94 anos de vida, que serão comemorados em agosto, a professora Ilse Evers Gans mostrou um trabalho que faz desde que se aposentou: o registro da história da família. Ela é filha do pastor Paulo Evers, que há foi por mais 50 anos líder comunitário na localidade de Linha Brasil. São seis volumes, contando a história da família na Alemanha, antes da imigração, e outros da vida da família em Linha Brasil.
Ilse conta que descobriu sua vocação de professora ainda criança. “Tinha uns 6 ou 7 anos e eu já brincava de escola na frente da penteadeira da mãe, que tinha um espelho central e duas abas laterais”, conta. Quando mexia com elas aparecia sua própria imagem 30 vezes no espelho do centro. Estas imagens passaram a ser alunos aos quais ela então ensinava tudo o que já sabia de letras e número.
Até os 12 anos, Ilse não sabia falar português fluente, pois em toda localidade só se falava alemão. Quando vinham meninos com seus pais do Chapadão para vender cestas de vime e falavam fluentemente o português entre si, Ilse e seus irmãos ficavam admirados. “Tão pequeninos e já sabem falar português. Quem pudera que eu também pudesse”.
O português entrou para a lista de idiomas conhecidos por Ilse quando foi para Porto Alegre, aos 12, morar com os avós maternos e estudar no Colégio Concórdia, fundado pelo avô. Ilse terminou o colégio e retornou com 15 anos para a Linha Brasil, quando começou a ajudar a mãe na escola que atendia a primeira e segunda série juntas, com mais de 40 alunos. “Ela fica com uma turma e eu com outra, enquanto ela passava a atividade eu cuidava deles, depois a gente revezava”, conta.

Ela mostra os registros carinhosamente arquivados (CRÉD. GIAN WAGNER BAUM)

VOLTA A PORTO ALEGRE – Dois anos depois ela voltou a Porto Alegre e estudou à noite para fazer o ginásio e segundo grau no Colégio Júlio de Castilhos. Para se manter na cidade, ela passou a lecionar por oito anos no Colégio Concórdia. Sem ter curso de formação de professores, ela atendeu a primeira série daquela escola, baseado apenas na experiência que teve em Linha Brasil junto com a sua mãe. “Atendi mais de 50 turmas de mais de 50 alunos e consegui alfabetizá-los”

RETORNO PARA CASA – Ilse retornou para a Linha Brasil em janeiro de 1957 para dar aulas no recém-instalado ginásio (1955). “Meus pais estavam com dificuldades de conseguir professores e a vinda foi necessária”, conta Ilse. Na época, a escola era muito requisitada por não haver ginásio na região.
CASAMENTO – Em 1959, Ilse casou-se com Vítor Gans, moraram dois anos em Passo Fundo, mas voltaram para a Linha Brasil em 1961. “Foi nessa época que o Vítor fez o projeto do internato e batalhou o recurso na igreja alemã através do consulado da Alemanha. A comunidade ganhou na época 200 mil Marcos para a construção do internato. “Assim fomos ampliando a obra iniciada pelo meu pai. Também conseguimos recursos para a construção da granja e conseguimos licença para a instalação da tão sonhada escola agrícola, em 1966”, conta.

Na foto, uma fotografia da construção do primeiro prédio do Bom Pastor (CRÉD. GIAN WAGNER BAUM)

FAMÍLIA UNIDA – A família foi unida por décadas na luta pela escola. Ilse, o marido, as irmãs Gisela e Betti, o cunhado Alfonso Krick e seu irmão Edgar formaram a equipe básica, ao lado do Pastor Evers. Foram mais de 30 anos dedicados à escola, até a aposentadoria no final dos anos 80. Em forma de reconhecimento, o presidente do cemitério de Linha Brasil, Círio Seefeld destinou uma área que ficou reservada à equipe básica no cemitério. Conforme Ilse, lá mereceriam estar muito mais pessoas que também já colaboraram na construção da escola.

ECOVIV – Depois de aposentada, Ilse ainda deu mais um passo e criou o curso de educação ecológica Ecoviv, (Ecologia Vivenciada). “Pude ainda iniciar esta atividade tão importante para todos”, diz. “Eu me realizei plenamente neste apoio que todos demos ao sonho do Pastor Evers”.

 

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