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Sobrinho transcreve as memórias da tia, que presenciou a inauguração da Gruta do Pinhal Alto

10/02/2023 - 07h31min

Manuscrito registrou a história oral repassada pela mulher que testemunhou a inauguração no final da década de 1940 (CRÉD. GIAN WAGNER BAUM)

Pedacinho da história do Pinhal é guardada no papel escrito à mão
Por: Gian Wagner Baum

Nova Petrópolis – O conceito de tempo é bastante relativo para o ser-humano. Uma centena de anos na história pode até parecer uma distância temporal relativamente pequena, mas, na nossa jovem região, é o suficiente para sairmos de uma geração que praticamente só falava alemão para outra que, praticamente, só fala português. Nesta mesma centena de anos também mudou como as informações e as histórias são guardadas e contadas.

Na foto de 2015, Maria (à direita) aparece já com seus mais de 90 anos (Créd. PMNP/ARQUIVO)

No Pinhal Alto, o morador Gelásio Miguel Schneider (72) é o guardião de algumas memórias da tia, Maria Weber, que faleceu no ano passado aos 100 anos de idade. Gelásio, que viveu as últimas três décadas ao lado da tia, aproveitou o tempo e a experiente companhia para registrar algumas histórias – em português, já que Maria só sabia falar o alemão aprendido em casa e na escola. Uma das histórias é a da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que fica quase em frente à casa que Maria vivia, e monumento esse que a moradora também foi madrinha quando inaugurada na década de 1940. “Ela me contou a história e eu fui escrevendo para ser lido no evento que teve em 2015, na reinauguração da gruta”, conta Gelásio. Na época Maria, com mais de 90 anos, esteve presente e através do documento feito por Gelásio e lido na cerimônia, deu seu testemunho de como foi o dia da inauguração, ressaltando a importância histórica da fé para a comunidade. “São histórias que não podem se perder, e se não fosse guardada assim, se perderia”, diz Gelásio.

O testemunho presente
“A gruta de Nossa Senhora de Lourdes, do Pinhal Alto, é um legado de um tempo que lembra a fé e a religiosidade de um povo”, começa o documento, que conta que a iniciativa da construção da gruta foi da Congregação Mariana de Moços, que na época era coordenada pelo padre Erwino Mallmann, da paróquia São Lourenço Mártir. O documento revela ainda que a construção é datada do final da década de 1940, tendo hoje mais de 70 anos. “Quiseram os autores da sua construção dar-lhe contornos de semelhança ao aparecimento da Nossa Senhora em uma gruta, na localidade de Lourdes, França, a uma jovem chamada Bernadete e havia, para isso, a necessidade de um lugar de conformação física apropriada para erguê-la”, conta Maria através do documento.

No ato de inauguração da revitalização, aparece o sobrinho Gelásio – último da direita (Créd. PMNP/ARQUIVO)

A família de Nicolau e Catarina Schabarum cederam uma área que tinha as características ideais ao monumento, pois dois dos filhos do casal eram membros integrantes da Congregação e membros ativos na construção. A gruta foi construída onde era uma saibreira desativada às margens da rua Vicente Prieto, há 300 metros da Igreja Católica do Pinhal Alto, praticamente na área central da vila. “Procedeu-se então a construção desta gruta dentro do barranco, com dimensões que comportassem uma estatueta de 80 centímetros de altura de Nossa Senhora. À sua frente foram erguidos um pequeno altar e três degraus, ladeados de uma estatueta menor, de Santa Bernadete, à frente, na parte debaixo”, conta o registro.
Quando a construção foi finalizada, foi celebrada uma missa comemorativa. Padre Malmann tinha a intenção de fazer um leilão para o apadrinhamento das duas estatuetas e, com a comunidade reunida em frente a igreja. Porém, a empolgação estava fraca para ofertar lances. Neste momento, o padre resolveu encorajar os fiéis. Maria contou no relato que presenciou o momento e que o padre tornou o momento mais descontraído, deixando um pouco de lado o rigor e a seriedade das coisas referentes à igreja, e arrancou risos da plateia quando o leiloeiro (padre Malmann) “pediu à plateia feminina um lance vencedor para que uma moça solteira pudesse ladear, no render das homenagens, o padrinho, um moço solteiro (João Batista Ritter), que dera o maior lance para a estátua da Nossa Senhora de Lourdes, ao que este se sentiu sem jeito e meio sem saber o que falar”, descreve o relato. Da estátua de Santa Bernardete, tornou-se padrinho Albano Hansen, mais tarde, prefeito de Nova Petrópolis (que sequer era município na época). Maria, que relatou a história, foi a madrinha desta estatueta.

A gruta com as imagens de Nossa Senhora de Lourdes e de santa Bernadete (Créd. PMNP/ARQUIVO)

Preservação da gruta
O sobrinho hoje é um dos maiores defensores da preservação do monumento de fé. “Desejosa à preservação da gruta para continuidade futura, Maria cedeu gratuitamente a parte frontal superior do espaço em que [a gruta] está localizada e, em gratidão eterna a ela, seja-lhe feita a justiça pelo merecimento a essa narrativa e por tudo o que fez em seu favor”, diz Gelásio.

A gruta fica a “caminho” da vila, há 300 metros da Igreja Católica (Créd. PMNP/ARQUIVO)

Dia de Nossa Senhora de Lourdes
Neste sábado, 11 de fevereiro, completará 165 anos que a jovem Bernadette Soubirous (14 anos) viu a Virgem Maria pela primeira vez, na gruta de Massabielle, em Lourdes, na França. Em uma simples caminhada para buscar lenha, acabou encontrando uma chama que jamais se apagaria. E que a levaria, inclusive, a seguir pelo caminho da santidade. A primeira de dezoito aparições, que se repetiram pelos dias que seguiram. Na última delas, a Virgem Maria se identificou, dizendo “eu sou a Imaculada Conceição”.

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