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Um momento de prosa com dona Irani, exemplo de força e dedicação aos 81 anos em Santa Maria do Herval

27/05/2021 - 10h13min

Atualizada em 27/05/2021 - 14h09min

Sentada no holzkasten (baú de madeira), ao lado do fogão a lenha, Irani compartilha um pouco dos ensinamentos de vida que adquiriu durante seus 81 anos (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Sentada no holzkasten, ao lado do fogão a lenha numa manhã fria e chuvosa de outono, dona Irani Arnold prepara seu mate e compartilha um pouco do conhecimento que adquiriu durante seus 81 anos de vida. Desde pequena sempre foi agricultora e, nas memórias que guarda, lembra dos ensinamentos do seu pai Walter Schulz que, na roça, sempre se preocupava com a época exata para plantar, observando as fases da lua.

Ela conta que durante o período minguante planta as culturas que evoluem dentro do solo, tais como cebola e alho (que, inclusive, estão na época). Já na crescente, é a vez do que se desenvolve acima da terra, como o feijão e o milho. Na lua nova não planta nada, explicando que é um período em que as plantas não se desenvolvem.

Eu não sei explicar bem o porquê, mas meu pai ensinou assim desde que eu era garotinha e sempre deu certo”. Conta que certa feita sua filha Lurdes e genro Ancelmo plantaram mandioca. Não conseguiram terminar até o escurecer e continuaram no dia seguinte. O resultado foi que, na mesma plantação, só era possível cozer a mandioca plantada no segundo dia, quando mudou a lua.

Aos 81 anos, ela cultiva sua horta diariamente, da qual toda a família se alimenta (FOTO: Cleiton Zimer)

“…enquanto o querido Deus me der forças”

Todos os dias Irani acorda cedo. No verão, antes das 6h já está de pé e, na época mais fria, levanta por volta das 6h30 da manhã. .

Em um terreno inclinado nos fundos de casa ela planta um pouco de tudo do que a família consome, desde verduras, frutas e hortaliças, além de uma enorme variedade de chás medicinais.

Uma escada foi cavada na terra, por onde ela sobe até a horta que é dividida em diversas partes, em cada qual ela produz algo diferente. Ao lado do que está maduro e pronto para a colheita, já planta novamente para que nunca falte.

Questionada se não tem medo de andar no terreno íngreme, por risco de cair, diz que sempre leva a sua “enxadinha” para se apoiar. “E se eu cair me levanto de novo, se puder. Até hoje sempre deu certo”, brinca.

Nada do que produz é vendido. O que sobra serve para alimentar as galinhas. Lá a maioria das coisas são naturais, um dos ingredientes básicos para a longevidade saudável dela, que, aos 81 anos, não pensa em parar de trabalhar e é exemplo de força e dedicação para muitos jovens de 20 e poucos.

Sempre digo que enquanto o querido Deus me der forças, vou trabalhar. Agradeço a Ele todos os dias por me dar forças, e sigo adiante, trabalhando enquanto puder”.

 Sempre junto na roça

Irani participou da última produção de fumo em corda, no qual trabalharam nos meses de janeiro e fevereiro (FOTO: Cleiton Zimer)

 Ela mora sozinha, ao lado da casa da filha. De manhã, ela vai para a horta perto de casa. Tem outra, um pouco mais adiante. Por volta das 10h volta e vai para a casa da filha e do genro preparar o almoço.

Comem juntos e, de tarde, dependendo o serviço, vai para a roça com eles, seja para trabalhar na lida do mato, cultivo e produção de fumo, entre outras atividades. Ela nunca para. “As vezes, quando não me sinto bem, vou junto na roça e começo a melhorar”.

Em épocas antes da pandemia, participava de encontros semanais com as amigas, que iam de casa em casa jogar carta.

As mudanças que vieram com o tempo

Irani esbanja saúde, resultado de uma vida de alimentação saudável e muito trabalho (FOTO: Cleiton Zimer)

Irani sempre morou no Teewald, na localidade de Padre Eterno Baixo. Foi casada durante 42 anos com Selívio Arnold (em memória). O relacionamento frutificou na filha Lurdes, que já lhe deu três netos, sendo dois homens e uma mulher.

Ela lembra que antigamente o serviço na roça era muito mais pesado. “No começo tínhamos um carrinho de mão, só mais tarde conseguimos uma carroça. Tudo era capinado com enxada. Não tinha terreno preparado para trabalhar com arado puxado por bois, muito menos trator. Hoje em dia, tudo está diferente”.

Compravam pouco, ou quase nada. A maioria das coisas eram produzidas. O que não tinha como ser cultivado, era adquirido nos armazéns de Alfredo Müller, em Padre Eterno Baixo, ou de Alfredo Ilges, em Padre Eterno Ilges. Veículos não tinham, tudo era resolvido indo no lombo de cavalos ou mulas.

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